A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, por meio da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Autismo e da Comissão de Proteção aos Direitos das Pessoas com Deficiência, emitiu uma nota nesta quarta-feira, 17, na qual expressa publicamente que, com grande indignação, tomou conhecimento das declarações feitas por um líder religioso durante um culto na cidade Tucuruí, na região sudeste do Pará, na última sexta-feira (12). No vídeo que viralizou nas redes sociais, a liderança associou a condição do autismo como fato resultado de influências demoníacas.
Segundo a Ordem, ‘tais declarações são inaceitáveis e demonstram uma profunda ignorância, desinformação e preconceito sobre a condição do espectro autista. O autismo é uma condição neurológica reconhecida pela comunidade médica e científica, e deve ser tratada com respeito, empatia e compreensão. Atribuir características demoníacas a uma condição de saúde é não só desrespeitoso, mas também irresponsável e perigoso, pois perpetua a desinformação e o estigma social’.
“Repudiamos veementemente qualquer discurso que propague o ódio, a ignorância e a discriminação contra pessoas autistas. É essencial que figuras públicas e líderes comunitários usem suas plataformas para promover inclusão, respeito e conhecimento”, informa a OAB.
O CASO
Um pastor da Assembleia de Deus foi alvo de críticas nas redes sociais após dizer que o TEA (Transtorno do Espectro Autista) é resultado de uma ”visita do diabo no ventre” da mãe ainda na gravidez durante um culto em Tucuruí (PA).
”O diabo está visitando o ventre das desprotegidas”, disse o pastor Washington Almeida. A fala preconceituosa ocorreu durante um culto na Assembleia de Deus em Tucuruí, na última sexta-feira (12). Desde então, o vídeo da pregação passou a circular nas redes sociais.
O líder religioso falava para os fiéis que muitos bebês estão nascendo com o Transtorno. ”Em cada 100 crianças que nasce, nós temos um percentual gigantesco de pessoas em ventres visitadas e manipuladas pela escuridão. As crianças hoje, a cada 100, nós temos 30 de autistas, em vários graus”, afirmou, sem apresentar confirmação científica alguma.
Somente quatro dias após as declarações preconceituosas, e por conta da forte reação nas redes sociais, Washington publicou um pedido de desculpas na noite de terça (16). ”Quero me retratar com os autistas, com os pais de crianças autistas. Fui muito infeliz quando fiz uma colocação e esse não é o meu caráter, meu perfil. Jamais no meu coração passam coisas dessa natureza. Naquele calor da mensagem, falei algo que não podia dizer, não devia falar”, disse em vídeo.
As declarações foram postadas no perfil da Assembleia de Deus de Tucuruí no Instagram, mas acabou gerando novas críticas à postura do líder religioso.
“Quem perdoa é Deus, este pastor e um lobo na pele de cordeiro, no fervor fala o pensa e depois só vem pedir desculpas porque vê que ficou ruim pra ele”, comentou outro internauta.
“Faça cursos sobre inclusão, promova palestras sobre inclusão, recicle seus sermões e se atenha a pregar sobre o evangelho”, disse outro, mais ponderado.