A terceira matéria da 4ª edição do projeto “Você Empreendedor”, que o DIÁRIO DO PARÁ desenvolve para mostrar que participar da COP30 como empreendedor pode ser uma oportunidade única para contribuir com soluções sustentáveis e inovadoras para os desafios ambientais globais, com aromas e sabores tipicamente amazônicos.
São farofas, temperos, molhos e outros produtos colocando em prática o sonho da empreendedora Elaine Lima, ao mesmo tempo que garantem renda e permanência para diversas famílias da produção rural.
Ela conta que a Amazônia Space nunca foi um plano ou um sonho “pequeno”. “Nasceu para ser internacional, não é à toa que tem esse nome. Começamos como um espaço amazônico na internet onde as pessoas podiam comprar alimentos da região e demais produtos, e assim ficamos entre 2017 e 2020, nós não produzíamos ainda os produtos com a nossa marca, nós só revendíamos de outros produtores. Com o passar do tempo percebemos algumas dificuldades e decidimos produzir os nossos alimentos”, resume ela, que hoje é diretora comercial e executiva do empreendimento.
O ano de 2021 foi um ano somente de testes e de resolver burocracias. Desenvolver plano de trabalho, ir atrás das licenças necessárias, tudo com foco para lançar a marca em maio de 2022. E o primeiro produto até hoje é o carro-chefe da Amazônia Space: a farofa de tapioca.
A empreendedora faz questão de enaltecer a força indispensável ao sucesso de sua criação: a agricultura familiar. Hoje a marca conta com o trabalho de pelo menos seis famílias, de diferentes pontos do estado, atuando direta e indiretamente no fornecimento de hortaliças.
Elaine diz que sempre foi uma incentivadora da agricultura familiar. “Eu incentivo mesmo, porque minha compra é certa. Ao mesmo tempo, ainda divulgo entre os meus colegas empresários do ramo de alimentos e bebidas que utilizam esse tipo de material para que busquem essas famílias, e aí eles plantam mais e fornecem mais, fortalecendo a categoria”, explica.
Exigência: proteger o meio ambiente
O jambu em maço, a flor do jambu, a chicória, a alfavaca, o cipó-alho, a pimenta cumari são alguns dos itens presentes nas criações da Amazônia Space que saem diretamente da agricultura familiar. A farinha de tapioca também, só que para a marca de Elaine a produção é mais direcionada, específica para os produtos finais – da mesma forma é com o tucupi. Uma exigência que a empreendedora não abre mão, por exemplo, é que essas matérias-primas tenham a certificação da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará, a Adepará.
A outra exigência é que as famílias busquem atuar de forma a proteger o meio ambiente. Então, a Amazon Space só trabalha com quem produz sem devastar, sem poluir, sem agredir. Elementos químicos não são utilizados na produção das hortas para não contaminar o solo, a água, e principalmente para quem vai consumir os produtos da marca.
Inclusive essa dica do caroço do açaí Elaine conta que aprendeu depois de saber de vários agricultores queimando o resíduo de forma errada, nas beiras das estradas, lá em Igarapé-Miri. “Tinha aquelas montanhas e eles não sabiam o que fazer com aquilo. Ensinei para eles com base no que eu já tinha visto com outros produtores, inclusive com o nosso atual fornecedor. Disse pra queimar ino forno da farinha, porque dessa forma evita que ter que cortar árvore para tirar lenha. A gente vai ajudando nesse trabalho de conscientização”, orgulha-se.
Em paralelo, a Amazônia Space faz seu próprio gerenciamento de resíduos sólidos, destinando materiais selecionados para uma cooperativa de material reciclável. E a cadeia segue se fortalecendo. “Nós passamos para uma família e essa família vende para cooperativas, então já é uma ajuda para essa família que toda semana vai lá na nossa empresa e coleta esses materiais e faz a destinação adequada. Já é um dinheirinho, um complemento da renda dessa família”, relaciona. O próximo plano é investir em placas de energia solar para dar conta da produção por meio de uma fonte limpa.
Esse trabalho de garantir uma produção cada vez mais sustentável passou também por uma adequação das embalagens usadas nos produtos. Antes, eram garrafas PET nas farofas e depois passaram para os sachets – pequenos sacos ou bolsas descartáveis, geralmente feito de menor quantidade de plástico, alumínio ou mylar –
“A cada momento a gente vai pesquisando, vendo novas alternativas que possam manter o alimento seguro, porém com embalagens mais sustentáveis. Estamos sempre trabalhando, buscando novas alternativas. Não é tão fácil, até porque por exemplo, se for depender de fornecimento de embalagens dentro da nossa região é muito limitado”, lamenta a empreendedora.
Com todo esse engajamento, as expectativas, enquanto uma pessoa que empreende e enquanto cidadã para a Conferência das Partes no ano que vem, a COP30, que será em Belém, são as melhores em ambos os aspectos. “Com a COP30, eu espero que nós empresários, principalmente aqueles que já atuam por meio de práticas sustentáveis, como nós, tenham oportunidade de ter um contato com investidores que tenham interesse em apoiar essas práticas sustentáveis na nossa empresa e dos meus colegas”, anseia.