Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.
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NEW CITY PARA OS ÍNTIMOS

De fazendas japonesas ao coração de Ananindeua: a incrível virada da Cidade Nova

O Conjunto Cidade Nova nasceu como um local de habitação na periferia, mas acabou tendo um comércio crescente e cada vez mais moradores.

Cidade Nova,Ananindeua  Pará, Brasil, caderno cidade - Um dos principais pontos habitacionais e comerciais de Ananindeua, o conjunto Cidade Nova tem uma história que data de meados de 1976, quando começou a ser construído pela Companhia de Habitação do Pará (Cohab). De lá pra cá, muitas transformações e memórias se desenvolveram no conjunto.
AV. DOM ZICO
31/07/2025
Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.
Cidade Nova,Ananindeua Pará, Brasil, caderno cidade - Um dos principais pontos habitacionais e comerciais de Ananindeua, o conjunto Cidade Nova tem uma história que data de meados de 1976, quando começou a ser construído pela Companhia de Habitação do Pará (Cohab). De lá pra cá, muitas transformações e memórias se desenvolveram no conjunto. AV. DOM ZICO 31/07/2025 Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Ananindeua e Pará - Antes do Conjunto Cidade Nova se tornar um dos principais pontos habitacionais e comerciais do município de Ananindeua, a área altamente urbanizada onde hoje ele está localizado era marcada pelo cenário de grandes propriedades rurais mantidas por imigrantes japoneses que se dedicavam à agricultura de subsistência. Foi a partir da década de 1970, porém, que a história começou a se transformar a partir do planejamento de um conjunto habitacional que deveria acolher parte da população da Região Metropolitana de Belém (RMB).

MÁRCIO NECO- PROFESSOR E HISTORIADOR
Foto: Celso Rodrigues/ Diário do Pará.

O historiador Márcio Neco aponta que a Cidade Nova foi pensada a partir de um plano positivista e cartesiano, pelo Governo Militar. “Ela foi pensada como uma forma de segregação das pessoas mais pobres que pudessem sair do centro e ocupar os locais que eram periferias. Isso começa com o conjunto Gleba, lá no que hoje é a avenida Augusto Montenegro, mas depois vem para cá”, explica. “Aqui eram grandes terrenos tomados pelos japoneses e o Governo, a Companhia de Habitação, foi adquirindo esses terrenos pouco a pouco”.

Vem daí a explicação para uma característica que até hoje intriga e pode causar confusão em quem não conhece bem a Cidade Nova, a falta de ordenamento nos números dos subconjuntos, que vão do I ao IX.

“Por isso há uma diferença na ordem dos conjuntos. Nós temos, por exemplo, a Cidade Nova IX no início, a Cidade Nova V ali pelo meio desse espaço todo territorial e isso gera uma indagação nas pessoas”, lembra o professor. “Outro detalhe é que alguns terrenos são maiores que os outros e as ruas nem sempre seguem na mesma direção. Isso porque de acordo com a evolução, com a compra desses terrenos dos japoneses, ia-se contratando outras construtoras para construírem o conjunto habitacional. E aí nós temos, em 1988, a conclusão desses subconjuntos que vão do I ao IX”.

Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Outra característica muito marcante do conjunto é a nomenclatura dada a grande parte das vias que compõem a Cidade Nova. As travessas são identificadas pela sigla WE, que significa ‘West, Este’, e SN, que significa ‘Sul, Norte’. O professor Márcio Neco explica o porquê: “Justamente por seguir um pensamento positivista dos militares, a Cidade Nova não vai homenagear personalidades políticas ou fatos históricos. Suas ruas recebem a denominação de WS e SN”, explica.

“Com o tempo, já nas últimas décadas, algumas dessas vias principais passaram, então, a ter o nome de algumas personalidades. É o caso de quando o atual governador Helder Barbalho foi prefeito de Ananindeua e classificou esta avenida como Avenida Dom Vicente Zico. Nós temos algumas outras também, como a avenida Nonato Sanova. Mas, prioritariamente, as ruas da Cidade Nova não vão homenagear personalidades, nem grandes eventos históricos”.

O próprio nome do conjunto guarda um aspecto da história. A ideia de uma nova cidade que pudesse abrigar uma população crescente não é uma exclusividade da Região Metropolitana de Belém, também está presente em outros lugares do mundo.

“Outro detalhe na fundamentação da Cidade Nova é que ela segue um modelo, um padrão que tem no mundo inteiro: a de dar esse nome que faz referência a uma nova cidade justamente para ser convidativo para que as pessoas possam sair de determinado centro urbano e ocupar esses outros espaços. Nós temos exemplos disso nos Estados Unidos, na França e em tantos outros, justamente para que possa soar convidativo”, pontua Márcio Neco. “E é curioso pensar que o Conjunto nasce a partir de um pensamento segregacionista, mas acaba se tornando o maior pólo econômico de desenvolvimento do município de Ananindeua”.

8 curiosidades que revelam a verdadeira história da Cidade Nova

Mesmo sendo um espaço urbano relativamente recente, a Cidade Nova guarda uma série de curiosidades históricas e culturais que ajudam a entender a importância desse conjunto para o município de Ananindeua e para o Estado do Pará. O historiador Márcio Neco, que vive na Cidade Nova há 44 dos seus 46 anos, reforça que a região tem identidade própria, cheia de memórias e significados. Confira algumas dessas curiosidades:


Cidade Nova não é bairro

Muita gente ainda se confunde, mas a Cidade Nova não é um bairro. Na verdade, é um conjunto que pertence ao bairro do Coqueiro, em Ananindeua. O nome “Coqueiro” surgiu porque, segundo o professor Márcio Neco, havia muitos coqueiros na região no passado.


Relação com a Estrada de Ferro Belém-Bragança

Antes da urbanização, a área da atual Cidade Nova era repleta de árvores. Muitas delas eram derrubadas para servir como combustível às locomotivas da Estrada de Ferro Belém-Bragança, que cruzava o estado.


Por que “Estrada da Providência”?

No início da década de 1980, com a construção do Viaduto do Coqueiro, uma avenida ao lado foi usada como alternativa provisória para o tráfego. A solução se mostrou tão funcional que a via passou a ser chamada de Estrada da Providência — hoje, uma das principais avenidas da Cidade Nova, que corta o conjunto a partir da BR-316.


O curioso apelido “Abacatão”

Foto celso Rodrigues/ Diário do Pará.

Na década de 1990, a Cidade Nova começou a se desenvolver de forma mais acelerada, já que seus moradores passaram a ser eleitores de Ananindeua, o que facilitou investimentos. Nesse período, foi construído um ginásio que, pela sua cor e formato, ficou popularmente conhecido como Abacatão (antes apelidado de Tartarugão).


Praça da Bíblia nasceu da fé

A Praça da Bíblia surgiu a partir das atividades religiosas promovidas por igrejas católicas e evangélicas em um terreno vazio. Com o tempo, o espaço foi sendo ocupado e ganhou o nome que carrega até hoje, em referência às manifestações de fé realizadas ali.


Museu Parque Seringal: memória viva da produção local

O Museu Parque Seringal, também localizado na Cidade Nova, remonta a um período em que alguns moradores cultivavam seringueiras em seus lotes. Hoje, essa memória da produção de látex é preservada no museu, que ajuda a contar um pedaço da história econômica da região.


Praça Tancredo Neves: um marco político

Em 1986, ainda durante o governo de Jader Barbalho, a Cidade Nova foi um dos primeiros conjuntos do Pará a homenagear o presidente recém-falecido Tancredo Neves com um logradouro: a Praça Tancredo Neves, que permanece como marco até hoje.


Feira do IV: dois polos, uma tradição

A Feira da Cidade Nova IV é hoje um dos maiores centros comerciais e econômicos de Ananindeua. Na época em que Helder Barbalho foi prefeito, ele construiu a chamada “Feira Nova”, com estrutura moderna e coberturas padronizadas. O curioso é que a “Feira Velha” continua funcionando, e as duas coabitam o mesmo espaço urbano com identidades distintas.

Não se perca na Cidade Nova: veja o mapa