Deslocamentos no Pará revelam proximidade geográfica e distância estrutural
Deslocamentos no Pará revelam proximidade geográfica e distância estruturalFoto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

A rotina do trabalhador paraense é, em geral, dentro do próprio município. Segundo dados preliminares do Censo 2022, 92,1% dos ocupados no Pará exercem suas atividades onde moram — índice acima da média nacional, de 88,4%. Apenas 5,8% cruzam os limites do município para trabalhar, proporção quase duas vezes menor que a do país.

Quando o deslocamento existe, costuma ser curto: mais da metade dos trabalhadores leva entre 6 minutos e meia hora para chegar ao serviço. Em Belém, 54,7% se encaixam nessa faixa, e só 2% gastam mais de duas horas no trajeto. 27,4% gastam entre meia e uma hora; 16% levam de 1 a 2 horas. Os municípios de Itaituba e Abaetetuba estão entre os poucos do Brasil onde essa demora é mais frequente.

Entre os meios de transporte, o retrato paraense destoa do restante do país: enquanto o carro domina nacionalmente, aqui a motocicleta é o veículo preferido, usada por 28,7% dos trabalhadores. Em seguida vem o ônibus (17,5%), à pé (16,7%), automóvel (16%) e a bicicleta (11,7%).

O levantamento também ouviu estudantes. No Pará, 95,2% dos 2,5 milhões que frequentam instituições de ensino estudam no próprio município — um dos índices mais altos do país. Ananindeua aparece com o maior número absoluto de deslocamentos estudantis no estado, seguida por Belém, Marituba, Parauapebas e Castanhal.

A vendedora Mikaele Ferreira, 19, trabalha em uma loja e todo dia se desloca do Icuí até o Centro de Belém. Ela conta que há dias mais engarrafados do que outros. “Talvez precise melhorar a frequência dos ônibus também. Nem sempre passam no horário, aí a gente precisa esperar mais”, relata.

O gastrônomo Lizandre Sabel, 24, diz que gasta muito tempo no deslocamento e sugere o uso de rotas alternativas. “O que resolveria melhor o problema da população com o tempo gasto no trânsito seriam vias alternativas. As principais são muito lotadas por causa do fluxo de ônibus. Escolher algumas ruas para que o trânsito pudesse fluir melhor seria uma boa opção”, aponta. “Eu gasto bastante tempo porque meu trabalho é longe de casa. Às vezes preciso pegar condução e complementar o percurso com mototáxi ou motouber. Em média, chego a gastar quase duas horas por dia indo e vindo”, acrescenta ele, que mora no Tapanã e trabalha no Comércio.

No Pará, o transporte trava até quem mora e trabalha na mesma cidade
No Pará, o transporte trava até quem mora e trabalha na mesma cidadeFoto: Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

A pedagoga Rayssa Barroso, 26, sai de Marituba para São Brás todos os dias. Ela conta que conseguir um emprego na cidade onde mora é mais difícil e que geralmente Belém oferece mais oportunidades. “Não é uma opção porque lá não tem muito emprego. É uma cidade menor e com menos oportunidades na minha área. Eu espero que a inauguração do BRT melhore esse trajeto para cá”, opina.

O autônomo José Antônio Martins, 57, resolveu adotar outra medida: comprou duas bicicletas — uma elétrica e outra convencional — para fugir do engarrafamento. “Eu gastava duas horas para chegar ao trabalho, aqui na Boaventura. Aí comprei essa, tenho duas, uma elétrica e outra comum, pra não ficar muito preguiçoso. Agora são 50 minutos até a Cabanagem, onde eu moro”, conta.

Editado por Clayton Matos