Carol Menezes
O resgate de quatro crianças vítimas de queda de um avião pequeno na Colômbia, em área de mata amazônica, há duas semanas, ganhou um protagonista canino que comoveu o mundo. O cão Wilson, um Pastor-belga-malinois de seis anos de idade, teve papel decisivo para que os eles fossem achados depois de quase 40 dias desaparecidos.
O animal acabou se perdendo na área e motivou a criação de outra operação para encontrá-lo, sob a justificativa das forças militares do país de que “jamais se abandona um companheiro no campo de combate”. As buscas continuam até o fechamento desta edição.
A utilização de cães para esse tipo de atuação é histórica, e quem trabalha na área garante que o apoio dos animais é absolutamente indispensável e até hoje insubstituível.
“Não tem equipamento que substitua. Terminou esta semana um treinamento para operadores de cães no Corpo de Bombeiros do Pará que teve como instrutor quem chefiou a operação de resgate em Brumadinho (MG). Ele relatou que tinha um equipamento de Israel que não conseguiu detectar os soterrados, mas os cães conseguiram”, relata o tenente-coronel Allan Sullivan, comandante do Batalhão de Ações com Cães da Polícia Militar do Estado do Pará (BAC-PMPA), tropa especial que treina animais para ações de faro de narcóticos e explosivos, busca e captura, além de patrulhamento.
Há pouco mais de um ano o BAC ganhou sua própria maternidade, o que permitiu a reprodução de animais de forma melhor direcionada, o que facilitou um treinamento mais aprimorado e que começa ainda nos primeiros dias dos filhotes – sempre respeitando o tempo dos animais. A isso a autoridade militar credita uma maior produtividade do Batalhão, que só esse ano já acumula mais de 100kg de entorpecentes apreendidos – mais do que o quantitativo apreendido durante todo o ano de 2022.
“Na verdade, operações que contam com cães têm um ganho incomparável para o foco da missão. O faro de um cão é 50 mil vezes mais apurado que o do humano, então o poder de identificação dele é muito maior. Tivemos duas operações extremamente bem sucedidas recentemente em Concórdia do Pará e Santo Antônio do Tauá de busca de pessoa com demência que estava desaparecida, e em uma delas conseguimos achar a pessoa porque o cachorro se baseou em uma palmilha de sapato da pessoa que estava sendo procurada”, detalha o tenente-coronel.
Hoje as raças mais trabalhadas pelo BAC, além do pastor belga, são o rottweiller e o labrador – este último também usado em ações de cinoterapia, também conhecida como Terapia Facilitada por Cães. Atualmente são sete filhotes de uma segunda ninhada ja sendo treinados e preparados para ir às ruas e em operações especiais.
“A demanda por cães especializados em faro de explosivos vem aumentando muito, ainda mais na iminência de eventos que vão trazer pessoas de vários países ao estado”, relata o comandante do BAC, que comemora a diminuição do tempo de treinamento dos cães por conta da maternidade própria.
“Um cão que comprávamos de fora por R$ 20 mil, R$ 30 mil às vezes chegava para nós com oito meses, um ano de idade, o que já dificultava o treinamento e nem sempre correspondia às expectativas. Já sentimos a diferença com as ninhadas que nasceram aqui, porque eles socializam mais cedo com outros cães da matilha, com os operadores”, afirma, reforçando que a equipe do BAC conta ainda com veterinários e outros ajudantes que garantem a manutenção da saúde dos cachorros.
O tenente-coronel faz questão de explicar que não há exposição dos animais a nenhum elemento nocivo durante o período de treinamento. São utilizadas moléculas de alta volatilidade que reforçam o foco do faro para aquilo que é procurado – e tudo é feito em fases, em atividades que mesclam momentos de brincadeira e recompensa aos animais. Momentos de folga e descanso também fazem parte tanto do treinamento quanto expediente dos cães, que se aposentam por volta dos oito anos de idade. “Quando chega esse momento, eles costumam ser adotados pelos próprios policiais”, revela.