Irlaine Nóbrega
Hoje (24) é celebrado o Dia Nacional do Café, data que busca a valorização dos produtores e marca o início da colheita dos grãos. O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e o segundo maior consumidor da bebida, atrás apenas dos Estados Unidos, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). Além da importância econômica, o grão já esteve no centro do sistema político da chamada República Velha, quando duas oligarquias, uma delas produtora de café, se alternavam na presidência do país.
O café exerce uma atividade termogênica devido a presença de alguns componentes, como a cafeína, teobromina, ácidos clorogênicos e a teofilina, que têm função de ativar o sistema nervoso produzindo mais adrenalina pelas glândulas suprarrenais. Essas propriedades auxiliam na quebra das células de gordura, podendo causar algum efeito positivo em relação a produção de peso corporal, melhor desempenho durante a realização de exercícios físicos, diminuição do estresse e fortalecimento da memória.
“Estudos já mostraram que de três a cinco xícaras de café por dia causam melhor desempenho físico. Ele também age no sistema nervoso central estimulando a produção de endorfina junto com atividades físicas, isso causa mais prazer e bem-estar. E pode agir em uma região chamada hipocampo que, quando tem uma atividade alterada por causa de estresse e nervosismo, o café pode melhorar o humor e diminuir esse estresse, trazendo benefícios para memória e raciocínio, tendo uma relação inversa com a depressão”, explica o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, que também é presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
O café coado feito na hora é o mais indicado dentre os diversos modos de preparo e consumo. Isso porque aqueles vendidos em supermercados são industrializados e possuem outros compostos químicos em sua constituição. Apesar disso, eles podem, sim, ser ingeridos diariamente, porém, sem açúcar. Três a cinco xícaras são o suficiente, sempre no período da manhã ou à tarde, já que o excesso da bebida pode fazer mal ao organismo.
O médico explica ainda que é falsa a afirmativa que o consumo de café pode levar ao vício. “O café não causa um vício físico, nós não ficamos dependentes da cafeína. Agora, é lógico que há o prazer psicológico que envolve tomar o café, não só pelos bons momentos, mas pelo prazer que ele traz, pela atividade neuronal que faz com que a pessoa fique mais alerta, mais dinâmica, certamente. Mas ninguém, se ficar sem o café, vai ficar com abstinência”, pontua o nutrólogo.
VERSATILIDADE
Existem mais de 130 espécies de café no mundo, sendo que apenas duas comandam grande parte do comércio mundial: Coffea Arábica e Coffea Canephora. Considerados como especiais, esses tipos de café são colhido no tempo certo de maturação e passam por uma seleção mais criteriosa. Por isso, são isentos de impurezas e preservam atributos sensoriais de corpo, acidez e doçura bem equilibrados. Conforme os critérios da Specialty Coffee Association (SCA), esses cafés têm que atingir uma nota entre 80 e 100 pontos.
O café pode ser comercializado em três torras: clara, média e escura. Segundo a barista Brenda Vasconcelos, o café tradicional consumido em casa tem como particularidade a torra mais escura, feita para esconder os defeitos dos grãos de baixa qualidade. O café especial, por sua vez, é comercializado nas torras mais claras, responsável por destacar os sabores e aromas singulares do fruto moído.
“Quanto mais escura a torra, mais amargo é o café. Uma torra média deixa o café mais equilibrado. Na hora da torrefação, o produtor observa o perfil daquele café, se é mais frutado, se ele quer trazer notas de chocolate ou caramelo para que ele possa adaptar essa torra. O próprio café tem todas essas propriedades, todos esses sabores, mas a torra vai atribuir ainda mais essas características na torra, que vai liberar todos os componentes químicos”, explica a profissional.
Um café pode ser experimentado de várias formas diferentes, a depender do método de preparo. São eles: filtrado, prensado, expresso ou infusão. Cada um dá um toque específico ao sabor da bebida, variando entre o mais intenso ao mais suave. Apesar de ainda ser considerado de consumo mais restrito, o café especial ganhou o gosto de famílias brasileiras durante o período da pandemia, quando o aumento domiciliar aumentou exponencialmente.
Na região Norte, o Coffea Canephora é conhecido pela variedade Robusta Amazônico, produzido por cafeicultores de Rondônia, incluindo mulheres e indígenas da região. São mais de 17 mil famílias envolvidas na produção sustentável, responsável por 97% de todo o café produzido na Amazônia, segundo dados do IBGE. Sendo assim, o estado é o quinto maior produtor de café do país e o segundo no ranking da produção dessa espécie.
“Por muito tempo o Canephora produzido não era considerado café especial. Foi a partir de pesquisa, desenvolvimento e melhoramento que a gente consegue, hoje, ter um café especial de alta qualidade, sustentável e que está ganhando o mundo. Estamos falando de uma cafeicultura que tem mulheres com famílias que fazem parte desse processo de plantação, colheita e torra de café. Estamos falando de uma cafeicultura aqui no Norte, amazônica”, finaliza a barista.