Luiza Mello
O governador do Pará, Helder Barbalho, foi o entrevistado ontem, 13, do programa Roda Viva, apresentado há 30 anos pela TV Cultura. Helder Barbalho falou sobre sua gestão à frente do Pará, sobre a Amazônia e sobre a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) que será em Belém em 2024, fazendo uma avaliação do cenário geopolítico nacional.
Anfitrião de um dos mais importantes eventos sobre as mudanças climáticas – que já afetam a população mundial, com aumento da temperatura, fenômenos naturais e catástrofes – a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontece em novembro de 2025, em Belém, o governador paraense falou sobre a necessidade de conscientização sobre os efeitos da devastação das florestas na região Amazônica. A apresentadora do programa, a jornalista Vera Magalhães abriu o programa ressaltando que Helder Barbalho “mergulhou de cabeça” na questão das mudanças climáticas.
Logo no primeiro bloco, o governador falou sobre a escolha de Belém para sediar a COP-30, sobre as obras de infraestrutura necessárias para a realização do evento, que deve receber, nas duas semanas de duração, entre 50 a 70 mil pessoas oriundas de todas as partes do mundo. Helder falou sobre o legado que vai ficar para o Pará e para toda a região da Amazônia, já que será a primeira vez que esse evento internacional sobre meio ambiente e sustentabilidade será realizado na Amazônia.
“Temos um desafio pela frente. Poder sediar o mais importante evento de discussões climáticas pela primeira vez na floresta, pela primeira vez na Amazônia, deve ser visto como uma agenda prioritária para colocar o Brasil no protagonismo da diplomacia ambiental e aproveitar para deixar legados. E essa tem sido uma palavra que sempre nos norteia nas tomadas de decisão, ou seja, sobre o legado de infraestrutura para Belém, que é um fato. Belém é uma cidade urbana com diversos desafios, seja na mobilidade urbana, seja na solução de tratamento de esgoto, de resíduos sólidos, de transporte coletivo, de segurança pública, entre outras. Mas entendo que é uma grande oportunidade de implementar investimentos que possam deixar no pós-evento soluções definitivas para que a capital paraense possa ser uma cidade de melhor qualidade para a população”, falou o governador.
Ao complementar a resposta, ele destacou que um dos desafios é receber, de forma adequada, 187 delegações de todo o mundo, chefes de estado, e também comunidades tradicionais. “Nós temos absoluta expectativa de que esta será a COP com maior densidade de visitações, com maior demanda, desde a presença de executivos, de empresas, como também líderes globais. Mas achamos que serão estimulados a participar povos indígenas, povos quilombolas, pessoas do terceiro setor, que possam discutir e fazer esta imersão na Amazônia”.
Helder informou que, para que esta logística seja realizada de maneira adequada, o Estado contratou a Fundação Getúlio Vargas para fazer um diagnóstico e a partir daí apresentar soluções que passam por legados de infraestrutura e passam por soluções, em particular na questão da hotelaria, já que há a expectativa de comparecimento de 50 a 70 mil pessoas.
PAPEL DA FLORESTA
O governador destacou que o grande legado que vai permanecer após o evento é a oportunidade para o Pará, para a Amazônia e para o Brasil estarem inseridos no centro das discussões sobre o meio ambiente.
“Pela primeira vez podemos inserir a discussão sobre o papel da floresta na agenda das mudanças climáticas. O Brasil precisa preservar a floresta e apresentar soluções que possam valorizar a floresta viva e que se possa construir uma solução de sustentabilidade ambiental, mas que seja uma sustentabilidade social. E acho que é o grande momento para discutirmos mercado de carbono, para que possamos apresentar as soluções que estão sendo feitas de redução de emissão e de desmatamento, e que possamos implementar bioeconomia, floresta com mecanismos de concessão de uso do solo, portanto alternativas que possam gerar empregos verdes. Por isso eu aposto muito na oportunidade do legado que isto pode deixar para a Amazônia”, afirmou.
Helder reafirmou a necessidade de aprovação no país de um mercado regulador da venda de carbono: “É fundamental estimular o Congresso a avançar na discussão da regulamentação do mercado de carbono no Brasil.”
Helder Barbalho falou sobre a oportunidade de governar o Pará em um momento de reconstrução da história do Estado, que, como lembrou, foi historicamente o vilão da agenda ambiental.
“A partir de 2019 tivemos a coragem e a decisão política de fazer um novo momento, conciliando as vocações e implementando uma nova agenda”, reafirmou, sobre a nova agenda que prioriza as vocações naturais do Pará.
“O Brasil precisa preservar a floresta e apresentar soluções que possam criar uma valorização da floresta viva, além de construir uma solução de sustentabilidade ambiental que seja também de sustentabilidade social. Acho que esse é um grande momento para discutirmos o mercado de carbono, para que possamos apresentar soluções para a redução de emissão e de desmatamento, implementar a vocação para a Bioeconomia, ter a floresta como mecanismo de concessão de uso do solo. São alternativas que podem gerar empregos verdes. Por isso eu aposto muito na oportunidade do legado que isto pode deixar para a Amazônia”, disse, sobre a realização da COP-30 no Pará.
Questionado sobre o rebanho bovino do Estado, Helder Barbalho disse que o Pará não precisa derrubar árvores para continuar sendo protagonista na segurança alimentar.
“Precisamos inverter a lógica, que é um tanto quanto cultural de atividade da pecuária extensiva, que avança sobre novas áreas para poder ampliar o plantel. Temos que garantir o manejo para que, nas áreas que já estão antropizadas, possamos continuar com a vocação da atividade da pecuária”. O governador falou sobre a implementação do Selo Verde, no Estado, que é uma plataforma pública desenvolvida em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, que oferta para o pecuarista, para o produtor rural e para a indústria da carne, um selo que garante a rastreabilidade do animal desde o nascimento até o abate.
Segundo ele, esta é uma forma de garantir que a indústria da carne, o frigorífico, esteja comprando um animal que não seja de uma área vinculada a ilegalidades ambientais. “Temos atuado e trabalhado para que haja a visão forte neste sentido, inclusive uma lógica com a indústria da carne, para que colocar o brinco em cada animal, em todo o nosso plantel, para que a indústria da carne possa gerar um valor adicional, sem cobrar do consumidor, ao adotar um mecanismo de redução de emissões.”, explicou.
Entre os temas abordados durante quase duas horas de entrevista está o problemas das constantes invasões de terras indígenas no Pará. “É necessário ampliar o processo de fiscalização, principalmente em reservas indígenas, em áreas de reserva federal, para evitar com que o garimpo ilegal possa continuar em atividade para que, consequentemente, possamos mitigar este uso, porque aí são atividades ilegais”, destacou ao lembrar do papel do governo federal na fiscalização de terras indígenas e áreas de preservação sob jurisdição federal.
Na área da Educação, Helder Barbalho lembrou que promoveu a rede estadual de ensino o maior aumento salarial de professores já concedido nos últimos anos, tornado a categoria detentora do segundo maior teto salarial entre as unidades federativas nacionais.
“Tenho duas prioridades neste mandato: meio ambiente e educação. Dobramos o valor do transporte escolar para diminuir a evasão escolar, aumentamos o valor investido na merenda escolar, instituímos a meritocracia incentivando nossos alunos e professores. Nós seremos o Estado que melhor vai ampliar a sua nota e avanço no IDEB. Eu não conseguirei ser o primeiro do Brasil, mas eu vou ser o Estado que mais vai crescer em posição”,anunciou.
A entrevista também tratou sobre as ações do Estado na universalização da distribuição de água, desafios dos resíduos sólidos, educação pública, reforma tributária, concessão florestal, crédito de carbono, transporte público
O programa que entrevistou o chefe do poder executivo Estadual paraense teve mediação da jornalista Vera Magalhães e a bancada de entrevistadores foi formada por Eduardo Belo, editor de Brasil do jornal Valor Econômico, Joelmir Tavares, repórter de política da Folha de S.Paulo, Laís Duarte, repórter da TV Cultura, Malu Delgado, chefe de reportagem da plataforma Sumaúma – Jornalismo do Centro Mundo e Pedro Venceslau, analista de política da CNN Brasil.