Um Natal de reencontros e confraternizações

Reunir os amigos para celebrar o fim de ano é uma tradição que volta com força após a fase mais aguda da pandemia. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.
Reunir os amigos para celebrar o fim de ano é uma tradição que volta com força após a fase mais aguda da pandemia. Foto: Wagner Almeida / Diário do Pará.

Cintia Magno

Entre as muitas tradições e simbologias que compõem o período do Natal, a confraternização entre amigos está entre as que marcam afetivamente o feriado carregado de significados como o de partilha, amor e união. Depois que mesmo os gestos mais corriqueiros, como um abraço ou a simples presença física, precisaram ser adiados em decorrência da pandemia da Covid-19, o maior controle da epidemia e o efeito positivo da vacinação de boa parte da população possibilitam que, no Natal de 2022, a tradição das confraternizações entre amigos, enfim, se renove.

No grupo de 15 amigas do qual a médica ginecologista e obstetra Carla Caroline Rego Cruz faz parte, o hábito de se reunir em confraternização é uma tradição que já dura uma década. Foi durante a comemoração do aniversário de uma delas que surgiu a ideia de, a cada mês, as amigas se reunirem para um almoço na casa de uma delas. O combinado foi mantido, com muitos momentos de alegria e troca de apoio, por vários anos, porém, quando a tradição completaria 10 anos, a pandemia da Covid-19 precisou interromper os encontros.

“Na época da pandemia, em 2020, iríamos completar 10 anos dos almoços. Ele começou num aniversário de uma das amigas e combinamos de nos reunir todo mês e assim foi. Conseguimos fazer isso por 10 anos, poucas vezes nós deixamos de fazer, quando não dava para ser na casa de um, era em um restaurante, mas a gente sempre se encontrando”.

Atendendo às necessidades que o momento impunha, as amigas ficaram sem conseguir realizar os almoços durante o ano de 2020 e 2021. Já em 2022, quando se conseguiu alcançar um maior controle da pandemia, elas conseguiram realizar três encontros e a confraternização de Natal pôde, mais uma vez, reunir a todos. “Os nossos almoços são regados a muita alegria, muita risada e também muito choro. Sabe quando a gente se conhece só pelo olhar? É mais ou menos assim”, diz Carla.

“Às vezes a gente chora, conta alguma coisa muito íntima, algum problema que estamos passando e durante esses dez anos isso só fez a gente se fortificar cada vez mais e entender as diferenças que cada pessoa tem. Somos amigas, mas elas não são parecidas com você, mas esse tempo e essa maturidade que hoje nós estamos permite entender melhor as diferenças”.

EXÉRCITO DE MARIA

O apoio mútuo que surge a partir da amizade também marca a história do grupo de oração que a jornalista Cybele Puget faz parte. Criado durante a pandemia, o grupo Exército de Maria, pôde vivenciar a sua primeira confraternização de Natal presencial neste ano.

“O Exército de Maria surgiu na pandemia. Como eu sou consagrada à Nossa Senhora, no período da pandemia eu senti no coração o desejo de rezar o terço. Então, eu abri uma live no meu Instagram para rezar o terço porque estava todo mundo muito aflito, era um momento muito difícil, todo mundo isolado em casa”, lembra. “Para a gente que vive a igreja foi um sofrimento muito grande ficar em casa sem poder sair, sem poder participar. Então, diariamente a gente rezava o terço pelo Instagram e isso foi uma força muito grande para a gente porque, quando a gente abria a live e via o rosto daquela amiga que a gente não via há muitos dias, era muito emocionante”.

Durante os encontros virtuais o grupo foi crescendo e oferecendo o apoio que os amigos precisavam naquele momento mais difícil. Quando completou seu primeiro aniversário, não foi possível fazer uma confraternização, cada integrante do grupo ainda precisou ficar na sua casa. Já em 2021 foi possível realizar algumas missas, mas ainda sem festa. Já neste ano de 2022, o Natal proporcionou, enfim, a confraternização tão esperada.

“Participamos da Santa Missa na Capela de Lourdes e, em seguida, confraternizamos um lanche partilhado, cada um levando o que pôde”, conta Cybele, ao apontar que além do encontro de amigos e do momento de oração, a confraternização também proporciona a promoção da caridade. “Vamos aproveitar também o momento para unir a nossa oração à ação, pedindo doações de brinquedos e alimentos para podermos ajudar crianças carentes”.

GRUPO DA SAÚDE

O cuidado com o próximo é a rotina diária do grupo de amigos formado pela Carla Soares, Eliane Barbosa, Camila Nunes, Alessandra Silveira, Thaís Cardoso e Roberto Silva, todos profissionais de saúde que atuam na rede pública. Durante os momentos de maior dificuldade dentro do hospital, os enfermeiros e técnicos de enfermagem nem conseguiam imaginar quando poderiam, novamente, confraternizar e celebrar a vida. Mas esse momento, enfim, chegou.

“É recompensador podermos confraternizar de novo, depois de tudo que nós passamos”, considera a enfermeira Carla Soares. “E sem máscara, graças à vacina!”, complementa a amiga e também enfermeira Camila Nunes.

Mais do que a reunião entre amigos e a comemoração pela chegada de mais um Natal, o brinde feito na semana que antecedeu o feriado de 25 de dezembro era, sobretudo, uma celebração à vida. “Nós somos sobreviventes desse período muito difícil que ainda estamos passando, por isso é tão importante celebrar esse momento”, considera Eliane Barbosa.

40 ANOS DE UNIÃO

Foi através de um brinde que as amigas Silvia, Nara, Nilza, Edna e Lídia celebraram mais de 40 anos de amizade. Depois do período de distanciamento que marcou os primeiros anos da pandemia, as amigas não escondiam a alegria de poderem confraternizar, juntas, mais uma vez. “Esse momento representa a vida, amor e amizade”, resumiu a advogada Silvia Amaral, que completa. “O que a gente espera, também, é dinheiro no bolso”.