Belém - No último levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese-PA), os preços da cesta básica em 2024 confirmaram a dificuldade enfrentada pelas famílias paraenses no planejamento de suas compras. Para alguns, neste início de ano, os preços ainda pesam no bolso e a troca por determinados produtos determina a compra mensal.
Entre janeiro e novembro do ano passado, o balanço aponta alta de 2,72% no custo da cesta básica dos paraenses. Mas muitos dos produtos estão mais caros e com reajustes superiores à inflação calculada em torno de 4% para o mesmo período, como os produtos essenciais como o café, que liderou a alta, com aumento de 37,83%, seguido pelo óleo de soja (23,81%), leite (18,47%) e arroz (17,99%).
De acordo com Everson Costa, supervisor técnico do Dieese-PA, o ano de 2024 começou com boas expectativas em relação à colheita, à oferta de grãos e à produção de alimentos, assim como custos mais equilibrados em energia e combustíveis. No entanto, o fator climático foi o principal vilão desses aumentos.
NOVEMBRO
A pesquisa mostra que o custo da alimentação básica dos paraenses continuou em alta no mês de novembro de 2024, alcançando R$663,02 em Belém, com um reajuste médio de 2,02%. Entre os 12 itens que compõem a cesta básica, o óleo de soja liderou os aumentos, registrando alta de 14,40%. A carne bovina apresentou um reajuste significativo de 6,57%, enquanto o café teve alta de 5,15%.
Outros produtos também registraram aumentos: leite (3,99%), arroz (2,10%), feijão (1,25%), tomate (0,40%), manteiga (0,24%) e açúcar (0,18%). Por outro lado, a banana foi o único item a registrar queda no preço, com recuo de 3,64%.
PROJEÇÃO
A projeção para 2025 não é otimista. Costa explica que variáveis como o clima, o custo de insumos importados e as dificuldades logísticas na Amazônia contribuem para manter os preços altos, especialmente no Pará, a lembrar do custo de produção, principalmente quando se considera os insumos comprados fora do Brasil. “A alta no preço do dólar está fazendo com que a carne bovina, o frango, suíno, os insumos do campo, fertilizantes, diversos produtos utilizados para poder trabalhar essa indústria dos alimentos aqui no Brasil estejam mais caros e a gente está sentindo isso no bolso”, aborda.
“Uma importação de produtos básicos alimentos que chega a mais de 80% [de custo]. O tomate a gente não produz, assim como vários outros produtos que dependemos de outros estados”, detalha. Para este início de ano, “é um primeiro trimestre de expectativas de altas no custo alimentação”, pontua.
ORÇAMENTO
O especialista destaca que mais da metade do salário mínimo, que passou a ser de R$1.518 em 2025, é comprometida apenas com alimentação no Estado. Isso deixa pouca margem para outras despesas, como contas de energia, água, aluguel e material escolar.
Em um supermercado localizado na avenida José Bonifácio, no bairro do Marco, a empregada doméstica Zenilde Machado, 54 anos, relata o impacto direto no orçamento, dificultando em manter os produtos básicos na dispensa para uma família de 4 pessoas, mas que apenas 2 possuem renda. “O café, o óleo e o arroz ficaram muito caros. Mesmo assim, alguns não tem como deixar de comprar, outros a gente nem leva. Às vezes, opto por marcas mais baratas, mas isso nem sempre resolve, porque tudo aumentou”, compartilha.
Diego Silva, 28, personal trainer, também sente o peso dos reajustes. Para isso, ele e a esposa fazem pesquisa de preços e tentam comprar o essencial. “É um desafio enorme. A gente vai ajustando, tento comprar basicamente a mesma coisa. Se tenho que comprar fruta toda semana, então vejo o mais barato ou pego o que tem que pegar. Frango, picadinho, queijo, pão, café, azeite e leite aumentaram bastante. O arroz integral, que antes eu pagava por volta de R$5, hoje custa R$8”, comenta.