O Ministério Público do Pará (MPPA) deflagrou, nesta quinta-feira, 18 de setembro, a Operação Hades II, novo desdobramento da investigação que mira o prefeito de Ananindeua, Daniel Santos (PSB). A ação cumpre mandados de busca e apreensão contra pessoas físicas e jurídicas ligadas ao gestor e apura a compra de um imóvel de alto valor em nome de uma empresa do prefeito, cujo pagamento foi feito por companhias que mantêm contratos milionários com a prefeitura.
Segundo a nota oficial, a medida decorre de documento apreendido que comprova a transação, considerada incompatível com a renda declarada. O imóvel soma-se à lista de bens já investigados na primeira fase da operação, que inclui uma fazenda avaliada em R$ 16 milhões em Tomé-Açu, 16 relógios de luxo estimados em R$ 3 milhões, veículos e imóveis de alto padrão dentro e fora do estado. Um dos imóveis é uma unidade no condomínio de alto padrão Origem Fortim, empreendimento localizado no município de Fortim, no litoral cearense.
A aquisição desperta atenção, não apenas pelo valor do empreendimento — unidades no Origem Fortim chegam a ultrapassar R$ 3 milhões, segundo anúncios recentes — mas também pelo momento da compra: em meio a apurações de um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.
Força-tarefa com 180 dias de prazo
A Operação Hades II é conduzida pela Força-Tarefa Ananindeua, criada pela portaria nº 5157/2025 e coordenada pelo procurador-geral de Justiça, Alexandre Marcus Fonseca Tourinho. O grupo é formado por promotores de Justiça e atua em conjunto com Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Receita Federal, Tribunal de Contas dos Municípios e COAF.
O objetivo é aprofundar as investigações sobre corrupção ativa e passiva, peculato, fraudes em licitação e lavagem de dinheiro, além de possível atuação de uma organização criminosa com ramificações nos Poderes Executivo e Legislativo do município. O prazo inicial para as apurações é de 180 dias, prorrogáveis. Caso as provas sejam confirmadas, o órgão poderá propor denúncias criminais, ações civis públicas e medidas de bloqueio e indisponibilidade de bens.
Histórico de suspeitas contra Daniel Santos
Esta não é a primeira vez que Daniel Santos se vê no centro de um escândalo. Em agosto deste ano, o prefeito chegou a ser afastado do cargo por decisão do Tribunal de Justiça do Pará, no âmbito da primeira fase da Operação Hades.
Na ocasião, o MPPA apontou indícios de coação de testemunhas e de uso do poder econômico para atrapalhar o andamento das apurações. Na mesma operação, foram apreendidos bens de alto valor, entre eles 16 relógios de luxo avaliados em mais de R$ 3 milhões, veículos importados e imóveis de padrão elevado.
Outro ponto que chama a atenção é a aquisição de uma fazenda milionária em Tomé-Açu, avaliada em cerca de R$ 16 milhões, que teria sido registrada em nome de terceiros, mas segundo os investigadores estaria diretamente ligada ao prefeito afastado. A compra teria contado com apoio financeiro de Danilo Linhares, dono da empreiteira Edifikka, empresa contratada pela Prefeitura de Ananindeua.
Além disso, denúncias de superfaturamento em contratos da saúde e o fechamento irregular de unidades hospitalares no município também são investigadas.
Com o avanço da segunda fase da operação, o cerco contra o prefeito se amplia, reforçando o elo entre o patrimônio de alto valor acumulado e as empresas que mantêm contratos públicos com o município. A estratégia da força-tarefa, segundo o MP, é aprofundar o rastreamento das movimentações financeiras, das aquisições suspeitas e dos contratos públicos que teriam servido de origem para os recursos desviados.