Pará

Motociclistas são maioria no atendimento em hospitais do SUS

O médico Eric Teixeira com David Pantoja: Trabalhador teve série de complicações após acidente Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
O médico Eric Teixeira com David Pantoja: Trabalhador teve série de complicações após acidente Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Irlaine Nóbrega

Oito entre dez atendimentos causados por acidentes de trânsitos em hospitais do Sistema único de Saúde (SUS) são de motociclistas. No Brasil, a taxa de internação desse tipo de acidentado aumentou 55% entre 2011 e 2021. Os jovens entre 20 e 39 anos são os mais afetados. Segundo o Ministério da Saúde, as hospitalizações por esse tipo de sinistro custaram R$167 milhões ao Estado, apenas em 2021.

No Pará, o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE) é referência em tratamento de traumas complexos. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa), 1.321 motociclistas acidentados foram internados no hospital em 2023. Nos dois primeiros meses de 2024, foram 188 pacientes internados na unidade hospitalar pelo mesmo motivo. Os cruzamentos e as curvas são os principais locais onde esses acidentes acontecem.

As mortes no trânsito são a oitava principal causa de óbito no Brasil. Isso se deve, geralmente, à negligência dos motoristas e a ausência de fiscalização do tráfego de veículos. No Hospital Metropolitano, o paciente é atendido, classificado a partir da gravidade e tem acesso ao tratamento completo, desde cirurgia até sessões de fisioterapia.

A média de tempo de tratamento de pacientes de baixa gravidade é entre 5 a 7 dias no HMUE. Já aqueles com maiores complicações, como fraturas expostas, a taxa sobe para mais de 10 dias. Em caso de infecção, o tempo de recuperação é, em média, de 1 ano e meio a 2 anos, dependendo da gravidade do trauma. Geralmente, os pacientes necessitam de um acompanhamento multidisciplinar para a recuperação total.

Segundo Eric Teixeira, médico ortopedista, pelo menos metade dos atendidos apresentam sequelas após o tratamento. Isso porque acidentes de moto estão inseridos nos chamados “traumas de alta energia”, caracterizados por um forte impacto causando fraturas, por exemplo. A amputação de membros, rigidez articular, osteomielite – uma infecção no osso – estão entre as principais consequências.

“Quando a gente fala de 5% de taxa de complicações e sequelas é um número expressivo. No ambulatório, se a gente faz 25 atendimentos, vemos que grande parte ficou com alguma limitação de movimento, com cicatriz grande porque o paciente cai no asfalto, perde pele e tem que enxertar pele, causa uma dor crônica. Muitas vezes, ele pode ficar improdutivo, recebendo benefício pelo INSS, é toda uma problemática”, revela o médico.

PACIENTE

O uso do capacete é obrigatório, podendo gerar infração gravíssima, com punição estabelecida em quase R$300 e 7 pontos na carteira de motorista e suspensão do direito de dirigir qualquer tipo de veículo de 2 a 8 meses. Em caso de reincidência em 12 meses, a suspensão pode aumentar para o período de 8 a 18 meses. A utilização do equipamento diminui em até 76% o risco de traumatismo cranioencefálico, a principal causa de óbito em acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.

Foi esse equipamento que salvou a vida de Eduardo David Pantoja, de 25 anos. No último dia 04 de março, uma segunda-feira de trabalho, o motorista de aplicativo aceitou uma corrida de Águas Lindas com destino ao Mercado do Ver-o-Peso. Após passar por um retorno na BR-316, ele se deparou com o trânsito muito engarrafado e ficou parado na motocicleta atrás de um carro.

“Foi o momento que eu senti uma pancada atrás da moto e eu desmaiei e voltei rápido. Eu ainda segurei a moto e fui freando. Mas na segunda pancada já foi mais forte e o passageiro passou por cima de mim, a minha moto virou e foi o momento que fui para baixo do caminhão, que me arrastou por uns 10 metros. Ele ainda bateu em uma Hilux, que bateu em um HB20 e bateu em um outro caminhão e eles foram sendo arrastados”, relata David.

O impacto causou fraturas múltiplas nas duas pernas do motorista, que teve que passar por uma cirurgia ortopédica. “As minhas pernas ficaram debaixo da roda do caminhão. Tive seis fraturas na perna esquerda, uma na perna direita e um corte muito profundo na batata da perna. Já estou com a cirurgia marcada para fazer o enxerto. Às vezes penso positivo, que vai dar tudo certo, outras penso negativo, mas aqui no hospital [HMUE] o atendimento é 100%, estou me segurando nisso”, afirma o motociclista.

Devido ao impacto, a motocicleta teve perda total, o que comprometeu ainda mais a renda familiar de David. O paciente ainda deve passar por todo o processo de recuperação, incluindo as cirurgias necessárias, curativos e as sessões de fisioterapia.