O Comitê Dorothy Stang Pará iniciou ontem (11) a programação especial em memória à missionária assassinada em 12 de fevereiro de 2005, no município de Anapu, sudoeste do Pará. A atividade teve início pela tarde no auditório do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Federal do Pará (UFPA), com o Cine Debate, que exibiu o documentário “Nas Terras do Bem-Virá”, do diretor Alexandre Rompazzo, obra de 2007 que destaca conflitos agrários em Anapu e a luta de Dorothy Stang por reforma agrária.
Após a exibição do documentário para alunos, professores e pesquisadores, a mesa de debate foi formada por três docentes da UFPA: pela coordenadora do Comitê Dorothy Stang Pará e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPA (PPGeo), professora Alcidema Magalhães, pela professora emérita Edna Castro e também pelo professor da Faculdade de Geografia Rogério Miranda.
Para a professora Alcidema Magalhães, que conheceu e conviveu com Dorothy, é muito importante fazer referência à memória de uma pessoa que dedicou a vida em favor dos pequenos agricultores e que defendeu um modelo de desenvolvimento para a Amazônia, e também preocupada com a sobrevivência da floresta e a dignidade de trabalhadores e trabalhadoras rurais.
“Vinte anos depois, ainda assim muitos homens e mulheres continuam sendo assassinados, mesmo após a morte da Dorothy. Para nós é um dever aqui na Universidade também pensar esse modelo de desenvolvimento para a Amazônia e discutir quais são as consequências desse modelo”.
O professor Rogério Miranda explica que o momento de recuperar a memória da luta de Dorothy Stang é importante por dois aspectos: a representatividade enquanto mulher líder pela luta da reforma agrária e pelo protagonismo em discutir um projeto de desenvolvimento regional. “Ela colocou em discussão, no final da ditadura civil-militar, uma outra proposta de desenvolvimento regional, que, diferente daquela elaborada pelo Estado, em que muitas vezes silenciava os povos e comunidades tradicionais, o projeto de Dorothy buscava incluir esses sujeitos e os saberes deles”.
Nesta quarta-feira (12), data que marca duas décadas da morte da missionária, o Comitê Dorothy promove o ato inter-religioso “20 Anos do Martírio de Dorothy Stang”, às 9h na Praça Santuário, no bairro de Nazaré, em Belém. O evento vai reunir movimentos sociais, entidades de direitos humanos, universidades públicas, representantes religiosos e a sociedade civil para celebrar a memória da missionária e reafirmar sua luta em defesa da Amazônia e dos povos da floresta.
Ainda durante o ato, será lançado o Jornal Resistência – Edição extra sobre Dorothy, uma iniciativa da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) para destacar a trajetória, legado e continuidade da luta da missionária por justiça social e ambiental.
Legado
Nascida em 1931 no estado de Ohio, a irmã Dorothy, como era conhecida, chegou ao Brasil em 1966, inicialmente para atuar na cidade de Coroatá, no Maranhão. Na década de 1970, a missionária migrou para a região do Xingu, na Amazônia, na época da inauguração da rodovia Transamazônica.
Desde sua chegada à Amazônia, Dorothy dedicou-se a defender o direito à terra para camponeses e à criação de projetos de proteção da floresta, agindo junto à população. Dorothy Stang tornou-se uma das principais líderes dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável e até hoje é um marco na luta ambiental no Brasil. O corpo da missionária está enterrado em Anapu, no Centro de Formação São Rafael.
Serviço:
Ato inter-religioso “20 Anos do Martírio de Dorothy Stang”
Quando: 12/02 (quarta-feira)
Onde: Às 9h, na Praça Santuário, bairro de Nazaré