Pará

Manto ganhou importância e representação para os devotos

Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Descida do Glória, na Basílica de Nazaré. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Cintia Magno

A história do achado da imagem de Nossa Senhora de Nazaré por Plácido José de Souza, em 1700, conta que a imagem já foi encontrada vestida com um pequeno manto em formato triangular. Com o passar dos anos e do crescimento da devoção à padroeira dos paraenses, os fiéis acompanham a tradição de, a cada ano, vestir a imagem com um novo manto. Um dos grandes símbolos que compõem a festividade em homenagem
à Virgem de Nazaré.
A escritora e pesquisadora sobre o Círio de Nazaré, Mízar Klautau Bonna, lembra que a tradição de renovar, a cada ano, o manto de Nossa Senhora de Nazaré remete ainda às primeiras edições do Círio. Independente do material que se dispunha, à época, para confeccionar a peça, a tradição era sempre mantida. “Ao ser achada pelo Plácido, a Imagem de Nossa Senhora de Nazaré já vestia uma capinha que, nela, parecia um manto triangular. Do lado de dentro escrito no papelote costurado: ‘Nossa Senhora de Nazaré do Desterro, devoção portuguesa”, aponta a pesquisadora. “Isso já nos colocou a característica do manto, por mais humilde que fosse. Triangular como as capas de frio das Universidades Lusitanas”.
Mízar Bonna conta que, fosse de estopa, um algodão simples, ou de brocados vindos da Europa, a Imagem sempre estava de manto novo, na medida em que sempre havia um devoto ou uma devota querendo vestir a santinha. “Ainda não consegui saber o nome da senhora que, depois de realizado o Círio, o primeiro do Brasil em 8 de setembro de 1793, levava a imagem na véspera do grande e esperado préstito para sua casa na Cidade Velha e, no domingo cedo, entregava no Palácio do Governo e depois na Catedral, para sair na Romaria do Círio já de manto novo”.
As Irmãs de Sant’Ana, do Colégio Gentil Bittencourt, passaram a se responsabilizar pelos mantos apenas no ano de 1926, como explica Mízar Bonna. “Isso porque, por medida de segurança, Padre Alfonso Di Giorgio, vendo a onda que estava acontecendo na imprensa com a atitude de D. Irineu Joffily acabando com a berlinda e a corda, preocupado que acontecesse algo de ruim durante as romarias, decidiu não permitir a saída da Imagem. Como ela já estava no Glória desde 1922, deixou-a lá ‘sossegadinha’”, aponta a pesquisadora. “Então, Irmã Alessandra ou Alexandra, passou a confeccionar os mantos para as Romarias e eram na medida da Imagem do Colégio Gentil: bonita, de madeira também, da época do barroco, sem ser barroca, mas muito maior
que a autêntica”.
A Irmã Alessandra iniciou a produção dos mantos em 1926 e, pelos idos dos anos 1946 ou 1947, quem passou a realizar os mantos foi uma aluna e moradora do Colégio Gentil Bittencourt, Ester. Ela confeccionou os mantos até sua saúde ficar debilitada, no ano de 1992. Foi a partir de então que os mantos do Círio passaram a ser confeccionados por estilistas. “O bordado, estilo Ester que era com linha dourada aplicada, ainda apareceu nos 4 mantos que o casal Paulo e Vanessa bordaram, sendo três criados por mim, Mízar Bonna, e um pelo Paulo”, lembra ela, que também foi aluna do Colégio Gentil e, portanto, testemunha a participação de Ester na
confecção dos mantos.
Depois disso, Mízar lembra que a Imagem ainda recebeu um manto de presente vindo do Sul do país, enviado por Gesony Pawlick em 1997, e usado na Trasladação. Com o passar dos anos, os mantos de Nossa Senhora de Nazaré também foram mudando de estilo.