ANA BOTTALLO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os manguezais amazônicos são os mais extensos e bem preservados do mundo. Tal conservação se deve, principalmente, devido à cobertura florestal que recobre o entorno das áreas estuarinas.
Como consequência, menos de 1% de toda a sua extensão, que é cerca de 7.800 quilômetros quadrados, sofreu devastação nos últimos anos. A cobertura florestal corresponde a mais de 92% da área estudada.
Esses são os principais achados de um estudo brasileiro que mapeou a extensão e a degradação dos manguezais do Norte do país de 2011 a 2015.
O artigo foi publicado nesta sexta-feira (21) no periódico científico Anais da Academia Brasileira de Ciências. O trabalho conta também com a colaboração de pesquisadores do ITV (Instituto Tecnológico Vale), da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da UFRA (Universidade Federal Rural da Amazônia).
Apesar dos dados animadores, “pressões como a construção de rodovias e a criação de animais para consumo, como crustáceos e peixes, colocam em risco esse ecossistema único”, pondera o geólogo Pedro Walfir Martins e Souza Filho, um dos autores da pesquisa.
Políticas públicas focadas nos ecossistemas dos manguezais, levando em consideração também as necessidades das comunidades ali presentes, são fundamentais, escrevem os autores.
A pesquisa analisou imagens de alta resolução de satélite da baía de Marajó, no estado do Pará, até a baía de São José, no Maranhão. As imagens foram feitas em dias de poucas nuvens para compor o mosaico de diferentes formações da região, incluindo manguezais, florestas e planícies salinas conectadas ao manguezal, conhecidas como apicuns.
O estudo identificou que a costa amazônica compreende uma área de 7.820,05 km2, dos quais 7.210 km2, ou 92%, são florestas de mangues. Menos de 1% (66,85 km2) tinha sido modificada para uso do solo.
Um desses locais é a região de Bragança (PA), onde se concentram focos de desmatamento mapeados no estudo. Os autores atribuem essa devastação à construção da rodovia PA-458, que liga a capital Belém ao município, um dos principais portos de embarcações no litoral norte.
A área mais impactada por atividade econômica inclui as superfícies onde há exploração de sal. Essas regiões de salinas se concentram na costa oeste do estado do Maranhão, entre a capital São Luís e Gurupi.
Também foram observadas as atividades nos apicuns, usados em grande parte para a aquacultura, principalmente para a criação de camarões e peixes em tanques. “Correspondem à menor porção estudada, 12 km² ou 0,15% do total, mas é proporcionalmente mais afetada pela ação humana, que já atingiu mais de 2% dessas áreas salgadas”, diz.
Mesmo que seja um impacto ainda restrito, a atenção dada aos mangues do país precisa crescer, destacam os cientistas. De 1999 a 2018, cerca de 200 km2 de manguezais foram devastados em todo o território brasileiro, representando 2% da cobertura do ecossistema.
“Neste contexto, a expansão urbana sobre florestas de mangues na Amazônia é claramente reflexo de uma pressão antropogênica local, através do estabelecimento de assentamentos nas zonas de fronteira das formações florestais com as planícies salinas e as áreas adjacentes de mata tropical”, escrevem os autores.
Algumas das medidas sugeridas pelos pesquisadores para garantir a preservação dos manguezais amazônicos incluem novos estudos para compreender melhor a distribuição geográfica e os efeitos da atividade humana nesses locais, a análise da eficácia das unidades de conservação na região e o desenvolvimento de novas metodologias para detectar atividade humana, como o corte de madeira dos mangues.
O geólogo afirma que, além da avaliação do estado de conservação dos manguezais da Amazônia, a equipe deseja fazer a mesma análise para esse tipo de ecossistema em todo o mundo. A pressão de degradação em regiões do Sudeste Asiático e do Pacífico é preocupante, ressaltam.
“Partimos então da hipótese de que os manguezais da Amazônia precisam de uma política especial para que permaneçam nesse estágio de conservação e que não se permita o avanço da degradação como vem ocorrendo em outros lugares do mundo”, destaca o autor.