Irlaine Nóbrega
A manhã deste sábado (30) foi movimentada no bairro da Cremação, onde foi realizada a Malhação de Judas, uma antiga tradição do Sábado de Aleluia. A brincadeira é um ato simbólico em que bonecos estufados representando Judas Iscariotes, discípulo que traiu Jesus, são “malhados” pela população. A brincadeira reuniu dezenas de pessoas, entre adultos, jovens e crianças que clamavam pelo lançamento dos bonecos à multidão.
Na Cremação, a malhação é sempre acompanhada de temáticas que jogam luz a diversos problemas sociais. Com 74 anos de atuação, a Associação dos Judas da Cremação (AJC) abordou três assuntos muito comentados na mídia durante o último ano, uma tentativa de conscientizar a população. “Esse ano estamos falando sobre a exploração sexual infanto-juvenil, a questão do feminicídio e o último sobre o mosquito da dengue, alertando a população que o melhor remédio é a prevenção”, explicou Paulo Ribeiro, coordenador da associação.
A brincadeira é uma tradição secular que comunidades se reúnem para confeccionar com serragem e jornal bonecos em alusão a Judas Iscariotes, que são pendurados em postes ou queimados nas ruas. No Brasil, a prática é realizada entre a madrugada da Sexta-Feira Santa e a manhã do Sábado de Aleluia. Além do “linchamento”, as crianças da rua Fernando Guilhon se divertiram com brincadeiras como quebra-potes, corrida do saco e morto-vivo.
Uma das festas mais tradicionais é realizada por Aroldo Cardoso, há 42 anos, na passagem Teixeira, onde o morador destina a brincadeira somente à garotada. “Hoje em dia eu faço mais paras crianças. Isso aqui acontece uma vez no ano, mas é uma alegria ver as crianças se divertindo. É difícil manter, mas eles sempre me cobram. Cedo, no sábado, elas já estão aqui esperando para malhar Judas”, conta o organizador.
O ato de malhar Judas Iscariotes é uma herança cultural herdada de portugueses e espanhóis que introduziram a prática nas comunidades católicas e ortodoxa em grande parte da América Latina. A brincadeira é uma forma de relembrar os acontecimentos bíblicos da Semana Santa e “vingar” a morte de Cristo, que foi entregue por Judas Iscariotes para crucificação pelo exército romano.