Pará

Justiça brasileira ordena prisão de ex-modelo paraense

Kat Torres é influenciadora digital e dizia ser guru espiritual. Foto: Divulgação
Kat Torres é influenciadora digital e dizia ser guru espiritual. Foto: Divulgação

AGÊNCIA O GLOBO

A 5ª Vara Federal Criminal de São Paulo expediu um mandado de prisão preventiva contra a ex-modelo e autodeclarada guru espiritual e “bruxa” Katiuscia Torres Soares, conhecida como Kat Torres, de 34 anos, por expor pessoas a condições análogas à escravidão nos Estados Unidos.

A decisão foi publicada na última quinta-feira (17), e enquadra a blogueira no artigo 149 do Código Penal brasileiro, que prevê 2 a 8 anos de reclusão e multa por cada crime cometido. A reportagem apurou que ela já foi deportada e está em solo brasileiro, à disposição da Justiça.

Além da prisão, a Justiça Federal expediu ainda um mandado de busca e apreensão contra a coach e determinou a quebra de sigilo telefônico e de dados telemáticos de aparelhos pertencentes a ela.

Kat Torres está presa nos EUA por tentar entrar irregularmente no Canadá. Foto: Reprodução

As investigações acerca da atuação de Kat Torres estão sob sigilo, a cargo da Polícia Federal, e são acompanhadas de perto pelo Ministério Público Federal de SP, que na última semana ouviu, por videoconferência, supostas vítimas, que falam em extorsão, charlatanismo, prostituição forçada, entre outros possíveis crimes, que teriam atraído muitas mulheres do Brasil para visitarem ou até morarem com ela nos EUA.

Ela e as jovens Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, e Desirrê Freitas, de 26, foram presas no estado de Maine, nos EUA, na última semana, quando tentavam entrar no Canadá com documentação irregular. O último paradeiro conhecido de Katiuscia, até então, havia sido justamente a cadeia de Cumberland, em Maine.

As outras duas garotas foram transferidas para a prisão da Polícia de Imigração (ICE), Stewart Detention Center, no estado da Georgia, onde seguem custodiadas. O fato de a guru ter sido extraditada dá indícios de que ela tinha situação irregular nos EUA, ao contrário do que dava a entender há anos nas redes sociais.

O caso de Kat ficou conhecido depois que as famílias das jovens Letícia e Desirrê denunciaram que as garotas teriam desaparecido após terem se envolvido com Torres, e que estariam sendo vítimas de um possível esquema de tráfico internacional de pessoas.

Não se sabe se manipuladas ou não pela mentora, as duas passaram a negar todas as acusações nas redes sociais após a divulgação feita, dizendo que estavam bem e ordenando que parentes e amigos parassem de procurá-las imediatamente.

Katiuscia publicava vídeos onde Letícia aparecia visivelmente drogada, como um onde a garota corre sem direção por um hotel, levanta a saia em um chafariz e depois fica no chão, sem condições de ficar de pé.

A gravação foi o estopim para que a família ficasse preocupada. Desirrê, por sua vez, aparecia em vídeos sem nexo; em um deles, convida Vladimir Putin para conversar sobre a guerra na Ucrânia.

A história ganhou novos contornos, inclusive, quando Letícia, em um vídeo publicado, fez graves acusações contra o próprio pai, dizendo que ele teria abusado dela e dos irmãos na infância, o que foi negado pela família inteira, mas rendeu um inquérito em Minas Gerais.

Em seguida, passaram a atacar a modelo brasileira Yasmin Brunet, que estava tentando ajudar a localizar Letícia nas redes, com ameaças e falsas acusações de que ela estaria promovendo tráfico de pessoas. Brunet, então, registrou o ocorrência na Polícia Civil de São Paulo por injúria, difamação e ameaça.

Katiuscia Torres tem 34 anos e, por muito tempo, mentiu ter 5 anos a menos. Seus primeiros minutos de fama aconteceram quando apareceu em fotos numa balada de Los Angeles ao lado do ator Leonardo DiCaprio.

Na época, chegou a dar entrevistas como affair do futuro vencedor do Oscar, mas depois acabou desmentindo. Em seguida, acumularia milhões de seguidores nas redes ao criar memes com fotos próprias, onde reagia com diferentes expressões a problemas cotidianos: o “Coisas de Kat”.

Em 2017, lançou o livro “A Voz”, de autoajuda, que diz ter sido narrado por uma voz em sua cabeça. Em entrevista ao programa de Amaury Jr., onde falou sobre sua obra, ela contou que, àquela altura, já atuava como “médium” de uma seita que trabalha por meio do uso do chá de Ayahuasca ? de efeitos psicodélicos, semelhantes ao do chá de Santo Daime.

Ela disse que não recomendava aos seguidores, mas que usava “frequentemente”. No site onde oferece seus serviços de bruxaria, ela promete atrair marido, promover sucesso financeiro e profissional, entre outras coisas, por meio de técnicas como hipnose.

Nenhuma defesa de Katiuscia Torres foi localizada para comentar sobre as investigações e a decisão da Justiça Federal. Questionada sobre a extradição da brasileira e acerca do inquérito, a Polícia Federal ainda não respondeu à reportagem até a publicação desta matéria.