A comunidade jornalística da Amazônia recebeu com muita consternação a notícia do falecimento do jornalista paraense e professor Manuel Dutra, ocorrida na madrugada deste domingo, 12 de maio, aos 79 anos de idade. Premiado, intelectual, pesquisador e um educador importantíssimo para a formação de dezenas de profissionais da Comunicação, Dutra deixa um vazio imensurável para todos aqueles que tiveram alguma oportunidade de conviver e de ser influenciado por uma atuação de referência para toda a região.
O velório foi iniciado na Capela Master A, localizada na Av. José Bonifácio, 1550, desde as 14h do domingo, permanecendo até desta segunda-feira, 12, às 14h30. Ele será cremado e suas cinzas espalhadas no rio Tapajós, cuja defesa foi uma de suas principais pautas. Dutra era casado com a desembargadora Maria Zuíla Lima Dutra, do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região (TRT8).
A Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará (UFPA), instituição pela qual se aposentou enquanto professor, emitiu nota de pesar enaltecendo-o como “jornalista de grande expressão na Amazônia, nosso amigo querido”.
Natural de Santarém, no oeste paraense, Manuel José Sena Dutra se formou em Jornalismo no ano de 1972 pela Universidade Católica de Pernambuco. Atuou desde os anos 1970 em Belém como jornalista, tornando-se uma referência na cobertura da Amazônia e recebeu, por três vezes, o Prêmio Esso Região Norte de Jornalismo.
Foi professor da Faculdade de Comunicação e um dos fundadores do Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia.
A nota da UFPA reconhece que Dutra, conjuntamente à sua carreira no Jornalismo, desenvolveu importante atividade acadêmica e científica, iniciada com uma especialização em Educação Ambiental, cursada no Núcleo de Meio Ambiente (Numa), da Universidade. Em seguida, fez mestrado em Planejamento do Desenvolvimento (1997) e doutorado em Ciências Socioambientais no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (Naea), também na UFPA. Fez ainda pós-doutorado no Centro de Ciências da Comunicação, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Rio Grande do Sul.
Manuel Dutra é considerado uma referência na Comunicação, no Jornalismo e na pesquisa socioambiental feita na Amazônia.
“Sempre reconhecido por sua trajetória ética, sensível e comprometida com a compreensão da Amazônia, deixa um legado que esperamos perpetuar em nosso trabalho e na vida cotidiana. Como professor, formou gerações de jornalistas e comunicólogos, sempre com sabedoria e dedicação. Como jornalista, defendeu com firmeza a liberdade de expressão e os valores democráticos. Era, também, um grande defensor da natureza e das causas sociais. (…) Seu percurso e sua sabedoria restam conosco, sempre vivos, inspirando nosso trabalho”.
Colega de academia, a jornalista e professora da faculdade de Comunicação da UFPA, Ana Lúcia Prado, foi pega de surpresa com a notícia, e confirmou o significado da perda de um profissional e estudioso tão conectado com a realidade amazônica em um momento como este. E também de um amigo.
Legado e Reconhecimento
“A imagem mais forte que tenho dele é a de um parceiro, um intelectual extremamente humilde, e de um pensador sobre a Amazônia e todos as suas especificidades que se esgarçam no campo da comunicação. Muito generoso com alunos, colegas, e perdê-lo quando o Pará se prepara para sediar a COP30 deixa uma lacuna inestimável por conta das imensas contribuições que poderíamos ter tido desse jornalista tão importante. Deixa um vazio para nós, colegas, amigos, muito grande. Pessoas com todas essas características hoje são cada vez mais raras”, declarou.
Para o jornalista, professor e coordenador do curso de Comunicação Social da Universidade da Amazônia (Unama), Mário Camarão, de quem foi aluno na graduação, ficam os ensinamentos de quem ensinou a enxergar o mundo com sensibilidade e compromisso ético, social e um olhar atento sobre a Amazônia.
“Dutra formou gerações de comunicadores que hoje estão nas principais redações e instituições de comunicação do Pará e do país. Foi um incansável defensor da liberdade de expressão, da justiça social e da preservação da natureza. Sua humildade, expertise, legado acadêmico e humano continuará a inspirar todos nós que seguimos seus passos na busca por uma comunicação mais consciente. É uma perda imensurável para o jornalismo e a comunicação na Amazônia”, reconheceu.
Impacto na Formação Acadêmica
Docente dos cursos de Comunicação da Unama, a jornalista Ivana Oliveira tem o próprio Manuel Dutra presente em partes de sua formação acadêmica.
“Foi meu colega de trabalho na Universidade da Amazônia e uma voz que ouvi e ‘li’ durante meu doutorado. Sempre disposto a ajudar! Com sua partida perde o Jornalismo, a formação universitária e a produção de conhecimento sobre a Amazônia. Ele compreendia que comunicar a Amazônia exige mais do que técnica. Ele sempre falava sobre a exigência de escuta, ética e enraizamento. Ficam seus textos, sua memória e, sobretudo, seu exemplo que vai seguir nos inspirando a fazer uma comunicação que não seja apenas sobre a Amazônia, mas com a Amazônia”, homenageia.
Secretário Executivo de Imprensa da prefeitura de Belém, o jornalista Mauro Neto postou em uma rede social suas homenagens ao colega.
“Manuel Dutra se foi. Com certeza para um lugar bom. Lá onde vivem os espíritos dos bons escribas. O homem que me ensinou a escrever para adiversidade com simplicidade. Me ensinou a escrever sem abrir mão das metáforas. De uma safra de jornalistas fantásticos e um dos mais fantásticos com quem tive o prazer de dividir uma redação e uma máquina de escrever”, escreveu.
O Sindicato dos Jornalistas no Estado do Pará (Sinjor-PA) manifestou pesar pelo falecimento do professor, jornalista e filiado.
“Manuel José Sena Dutra foi um dos mais destacados jornalistas do Estado do Pará, sempre defensor do meio ambiente e crítico ao desenvolvimento pedratório na Amazônia. Era um maestro na arte de escrever e teve importante atuação em veículos de comunicação de Santarém e Belém, além de atuar como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo”, destacou o informativo.