Luiz Flávio
A Inteligência Artificial (IA) vem assumindo tarefas em inúmeras áreas do conhecimento, entre elas a saúde, contribuindo inclusive no que se refere à melhoria de atendimentos a pacientes, reduzindo os casos graves. Uma experiência inovadora vem sendo desenvolvida na Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (HC), na área de atendimentos na UTI Coronariana (destinada a pacientes cardíacos), e que vem reduzindo casos de úlcera por pressão utilizando um equipamento conectado à IA.
A úlcera por pressão é mais conhecida como “escara” e ocorre quando há dano ao tecido ou à pele pela diminuição da circulação sanguínea provocada pela pressão aplicada à uma área específica. Pacientes que, por necessidade do tratamento, precisam ficar longos períodos imóveis, acabam por desenvolver escaras, geralmente nos calcanhares, tornozelos, quadris e no cóccix.
Ricardo Palheta, cardiologista que atende na UTI, explica que a lesão por pressão é uma intercorrência que preocupa as equipes médicas dos hospitais, especialmente nas unidades de Terapia Intensiva. “O surgimento dessas lesões, que são inesperadas, aumenta o risco do paciente, o risco de mortalidade, de infecção”, diz. Ainda segundo o cardiologista, quando o paciente fica muito tempo numa única posição, acabam ocorrendo lesões, principalmente na região sacral.
A forma de evitar o problema é a mudança de posição do paciente. Porém, mesmo com esse cuidado constante, os casos de escaras continuam ocorrendo e fazem parte da rotina de uma UTI. Por isso, a equipe encontrou um aliado para intensificar os cuidados na prevenção à úlcera por pressão: um equipamento de I.A., que alerta a equipe para a necessidade de mobilizar o paciente, que ajuda a minimizar o risco e o surgimento dessas lesões. Os primeiros resultados já apareceram em junho, quando a equipe comemorou a marca de quase 80 dias sem nenhum registro de paciente com lesão por pressão.
O uso da ferramenta ocorre desde abril, através de um equipamento programado para tocar uma música a cada duas horas, que alerta a equipe para a necessidade de mover o paciente, de um lado para outro, para que a circulação fique livre, evitando a falta de oxigenação da pele, o que causa o surgimento da lesão. Antes da utilização do novo sistema de alerta e monitoramento, a incidência de lesões era alta para os padrões aceitáveis em uma UTI.
“Chegamos ao ponto de ter uma lesão por semana, e isso é muito”, contabiliza Palheta. O primeiro passo para mudar foi a motivação da equipe responsável pelo atendimento dos pacientes no leito. Para isso, foi afixado um placar no quadro de avisos, no qual a equipe pode checar os dias transcorridos sem o registro de úlceras por pressão. “Isso acaba estimulando a equipe, que passa a procurar aumentar os dias sem o surgimento de lesões, e dessa forma, alcançando a nossa meta”, diz o cardiologista.
Alais Brito, cardiologista que junto com a médica Valléria Galúcio, foi responsável pela introdução do sistema, explica que o alerta veio para se juntar à rotina de mudança dos pacientes de posição para evitar as lesões. “É interessante ter um som para lembrar a mudança de corpo, já que a gente fala sempre em mudança de corpo, mas às vezes um ou outro paciente ficava sem a mudança. Agora, a cada duas horas, todos os dez pacientes são movimentados”, detalha especialista.