Denilson d’Almeida
No início da manhã, o bicicletário instalado no estacionamento de um condomínio no centro de Belém está quase vazio. Os moradores já pegaram as bicicletas para passeios e até mesmo se deslocar para o local de trabalho. A proposta de compartilhar este tipo de veículo foi idealizada pelo engenheiro civil e empresário Ubirajara Marques, que projetou um residencial sustentável, que estimula os condôminos a adotar práticas que respeitam o meio ambiente.
O prédio tem uma arquitetura moderna, considerada inteligente. Para se ter ideia, o sistema elétrico do empreendimento funciona com sensores que impedem que as lâmpadas fiquem acesas quando não há necessidade – geralmente quando não há pessoas no ambiente. Além da economia na fatura de energia, evita-se o consumo desnecessário. “É um sistema pensado para aquela pessoa que esquece a luz acesa ou o ar condicionado ligado”, destaca o engenheiro. “Também adotamos o sistema de patinetes elétricos que são veículos que não funcionam a base da combustão de combustíveis que emitem gases do efeito estufa”, acrescenta Ubirajara.
Atualmente, a indústria da Construção Civil vem aprimorando práticas sustentáveis que influenciam no comportamento de pessoas, ao mesmo tempo, em que estimula profissionais a pensarem em soluções ambientais. “Não dá para uma empresa crescer sem pensar num novo sistema que esteja adequado a uma nova realidade”, enfatiza o empresário.
Essa realidade a qual Ubirajara se refere é uma mudança na cultura das organizações que têm adotado iniciativas de cuidado com o meio ambiente e também de responsabilidade social. São as chamadas ESG, que inglês quer dizer “environmental, social and governance” (em português “ambiental, social e governança”). O termo surgiu em 2005, em um relatório da Organização das Nações Unidas. Nos últimos quatro anos a menção da sigla saltou de quatro mil para 109 na internet, segundo a pesquisa do Pacto Global da ONU em parceria com a consultoria Stilingue.
O mesmo estudo apontou que 78,4% das empresas brasileiras adotaram a agenda ESG. Isto as torna mais competitivas e com atuação bem vista no mercado. Na prática, hoje consumidores, clientes e o público em geral está mais preocupado com a origem do compra e consome. Além disso, as questões ambientais e as mudanças climáticas também são assuntos que pautam o dia a dia das pessoas, que refletem sobre o futuro do planeta.
O que está claro no mercado é que negócios futuros e negócios em andamento não serão levados adiante se eles não estiverem comprometidos com questões sociais e de sustentabilidade.
Para Higia Brandão, gerente sênior de programas socioambientais da Hydro, a estratégia de sustentabilidade proporciona a possibilidade de se repensar processos de produção e funcionamento das empresas. “Eles se tornam mais sustentáveis e as novas tecnologias trazem inovação para o perfil industrial. E obviamente isto é construído por pessoas e para pessoas”, destacou.
Neste sentido, a executiva chamou a atenção para as pessoas e para os profissionais que buscam se destacar no mercado de trabalho. Isto, atualmente, é possível diante de uma mudança de comportamento e de pensamento de projetos voltados para o meio ambiente. Iniciativas que podem ser tomadas por profissionais de todas as áreas, inclusive. “Pessoas dinâmicas, que gostam de construir soluções participativas, que compreendem seu contexto territorial e que estão adaptadas a um universo multicultural”, descreveu a gerente.
A colocação dela ajuda a compreender o novo perfil que a indústria busca, por exemplo, durante um processo de seleção de uma vaga. Independente da função que a pessoa vai exercer na organização, ela precisa ter consciência sobre que lhe será exigido. “A pessoa precisa buscar soluções permanentes para criar uma sociedade mais sustentável”, definiu ao mesmo tempo em que ressaltou que toda pessoa tem a responsabilidade de desenvolver o local onde mora. “Profissionais preparados para desenvolver habilidades e trazer soluções”, reforçou Higia.
COMPORTAMENTO
Para o professor Felipe Freitas, que também é coordenador do curso de Engenharia de Produção do Centro Universitário do Pará (Cesupa), antes de se falar na agenda ESG nas empresas é importante falar sobre o comportamento das pessoas e a educação ambiental que elas têm dentro de casa. Isto porque as práticas que são adotadas dentro das empresas não devem se distanciar dos costumes domésticos. “É preciso mostrar como é viver a sustentabilidade”, disse.
A Academia tem dado olhar para as questões ambientais e debatido constantemente o assunto como forma de despertar a criticidade dos futuros profissionais e mostrar que eles podem, e devem, atuar para tornar as cidades, as empresas, um lugar melhor para se viver. “A sociedade vê que a sustentabilidade engloba aspectos sociais, econômicos e ambientais”, observou.
Com pesquisas e estudos voltados para se pensar em programas e iniciativas que ajudem empresas e instituições a alcançar uma economia sustentável, a consultora do Oxford Sustainable Law Programme da Universidade de Oxford e co-fundadora da Rede Amazônidas pelo Clima, Caroline Rocha, pontuou que adoção de práticas sustentáveis contribui para as empresas ganharem mercado. “Vale lembrar que a Amazônia está no centro das discussões [com a realização da Conferência do Clima em 2025 (a COP-30)] e se fala sobre a floresta e uma economia descarbonizada”, ressaltou.
Caroline lembra que não é somente a indústria que precisa aderir ao ESG. Atividades ligadas à agricultura e a pecuária também precisam ser repensadas para diminuir a emissão de carbono. Daí, o agronegócio também precisar de profissionais preocupados com a questão ambiental. “Precisamos que as pessoas nesses setores façam uma transição de postos de empregos com práticas e iniciativas de emissão de menos carbono”, destacou ao sinalizar possibilidades para o mercado.