COP

Indústria e catadores fazem parcerias para a reciclagem

Belém, Pará, Brasil. Cidade, Retranca: COLETA SELETIVA/ RESÍDUOS SÓLIDOS - . Gancho: O lixo é apontado como o terceiro maior gasto das cidades brasileiras. Local: Concaves - Av Bernardo Sayão - Condor - Belém. Data: 21/09/2021. Mauro Ângelo/ Diário do Pará.
Belém, Pará, Brasil. Cidade, Retranca: COLETA SELETIVA/ RESÍDUOS SÓLIDOS - . Gancho: O lixo é apontado como o terceiro maior gasto das cidades brasileiras. Local: Concaves - Av Bernardo Sayão - Condor - Belém. Data: 21/09/2021. Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

Cintia Magno

A responsabilidade pela disponibilização de um produto no mercado vai além da qualidade do que efetivamente será consumido pelos clientes. Passa também, pelo gerenciamento das embalagens e resíduos que são gerados a partir desse uso. Dentro desse ciclo de produção e embalagem, distribuição, comercialização, uso e descarte das embalagens e posterior reciclagem da mesma envolve um processo chamado de logística reversa, que já é colocado em prática em Belém através de parcerias entre representantes da indústria e as cooperativas de catadores.

A presidente da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), Débora Baía, explica que, justamente pelo potencial de poluição que as embalagens dos produtos representam para o meio ambiente, as indústrias são obrigadas a implementar políticas de logística reversa em seus processos. Neste cenário, as cooperativas que reúnem catadores de materiais recicláveis, acabam prestando um serviço para a própria indústria, ao resgatar essas embalagens e fazer com que elas voltem para a indústria, através da reciclagem.

Além dos efeitos benéficos para o meio ambiente, o recolhimento desses resíduos e o consequente retorno para a reutilização também possibilita geração de renda e melhor estrutura de trabalho para os cooperadores. Débora explica que, ao realizarem projetos de logística reversa em parceria com as cooperativas, as indústrias pagam pelo material que é recolhido. “Mediante a esses créditos de reciclagem, eles dão incentivos para que as cooperativas possam aumentar o seu volume e isso possa gerar mais complemento de renda para todos os cooperados”, considera.

“Isso gera, também, o próprio desenvolvimento da cooperativa em forma de estrutura para que cada vez mais a gente consiga, como catador, recolher o máximo de embalagens possíveis, embalagens que muitas vezes vão parar em aterros, nos lixões, nas bacias hidrográficas. Então, a gente tem esse papel de resgate dessas embalagens e a indústria faz o papel dela, que é justamente pagar esses créditos para a cooperativa para que esse ciclo continue se desenvolvendo e aumente cada vez mais”.

Reunindo 32 cooperados em duas sedes, uma em Belém e outra em Ananindeua, a Concaves atua, hoje, em dois projetos de logística reversa. Um voltado para embalagens, o que envolve todo tipo de papel, plástico, vidro e metal; e outro voltado para equipamentos eletroeletrônicos.

A presidente da cooperativa explica que o projeto voltado para embalagens é nomeado ‘Mãos para o Futuro’ e visa justamente trabalhar a recuperação de materiais que são colocados no mercado pelas grandes empresas. Esse projeto é desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHTEC). “Ela faz esse projeto no Brasil inteiro e aqui no Norte somos três cooperativas que, hoje, são assistidas pelo ‘Mãos para o Futuro”’, explica Débora, ao informar que a meta do projeto é que a Concaves recolha 84 toneladas mensais de papel, plástico e vidro.

“Pra a gente, como cooperativa, foi algo bem legal porque a gente teve a possibilidade de adquirir alguns equipamentos, como hoje nós temos uma empilhadeira e uma concha hidráulica que acopla na empilhadeira. Isso trouxe, para todos os caçadores dentro da cooperativa, uma melhoria em relação ao carregamento de cargas e a parte operacional interna também ficou muito mais rápida com o maquinário. A gente também conseguiu a possibilidade de ajudar no auxílio da carteira de habilitação dos cooperados, do próprio curso para operar empilhadeira”.

Essa foi a primeira fase do projeto, onde foi possível adquirir uma assessoria para organizar a gestão administrativa da cooperativa e os equipamentos. Atualmente, a cooperativa está em um segundo momento do projeto, que é o pagamento por tonelada. “Todo o projeto gira em torno de quanto de material reciclável a cooperativa consegue retirar do pós-consumo para que volte para a reciclagem.

“A gente conseguiu trabalhar essa organização e agora com o pagamento por tonelada, a gente consegue projetar, durante todo o projeto, no que a gente pode gastar o dinheiro que vem dos créditos de reciclagem. Então, por exemplo, hoje a gente paga a nossa assessoria contábil, a gente tem um fundo para que a gente compre EPIs, para fazer a manutenção desses equipamentos que a gente recebe pelo projeto, então, este fundo serve para isso”, aponta Débora.

“Tem também a questão de aquisição de alimentos não perecíveis para que a gente consiga dar pelo menos o arroz e o feijão todos os dias para cada catador que trabalha na cooperativa, também a possibilidade de comprar os alimentos não perecíveis e transformar em cesta básica e distribuir para os cooperados e no final do ano a gente colocou uma previsão de ter uma distribuição de uma porcentagem desse valor para todos os catadores, que é como se fosse um auxílio de Natal”.

Outra parte dos recursos obtidos com a logística reversa está relacionada ao recolhimento de eletroeletrônicos, em um projeto de parceria da Concaves com a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE) mais focado na circulação. “A gente recebe todo tipo de material eletroeletrônico. Nós temos que fazer uma carga de no mínimo 20 toneladas de eletroeletrônicos por mês e a ABREE manda buscar esse resíduo para ser processado e paga um crédito para a cooperativa em cima dessas toneladas”, explica, ao falar da importância do incentivo ao trabalho dos catadores de materiais recicláveis.

“O incentivo à coleta seletiva, com as cooperativas, é sempre bem importante porque além de gerar renda, a gente está fazendo, hoje, um papel fundamental nessa questão do ciclo da reciclagem. As cooperativas precisam desse incentivo da própria população para que procurem uma cooperativa, façam a destinação correta dos resíduos recicláveis para que a gente comece a enxergar Belém de uma outra maneira daqui a dois anos, na COP30”.

Débora Baía, presidente da cooperativa FOTOs: Mauro Ângelo / arquivo
1 Resíduos separados na Cooperativa 2 O galpão da Concaves Legenda