Luiza Mello
O Japão quer ampliar as relações comerciais com o Brasil. O tema vem sendo debatido entre os dois países e a agenda ambiental é um dos focos de interesse daquele país. No início deste ano, o governo do Japão formalizou a doação de 411 milhões de ienes (cerca de R$ 14 milhões) para o Fundo Amazônia, maior iniciativa de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal do mundo e o primeiro país asiático a apoiar o Fundo, reforçando a parceria histórica entre os dois países.
Na semana passada, o embaixador do Japão, Teiji Hayashi, visitou o gabinete do senador Jader Barbalho (MDB) em Brasília. Entre os temas tratados estão o interesse do governo japonês em investir no Pará. Segundo o embaixador, o país quer participar, com investimentos e linhas de crédito, do processo de preparação de Belém para a COP30, principalmente em projetos de mobilidade urbana e ampliar o sistema agroflorestal com processo de agricultura familiar de Tomé-Açu para outras cidades.
“O Pará tem a 3ª maior colônia japonesa do Brasil. É um grande privilégio poder participar da ampliação das relações dos nossos países. Como paraense, sou muito agradecido pela presença da comunidade japonesa em nosso Estado, principalmente pelo importante papel que representam na agricultura local”, disse o senador.
Em nome da população do Japão, o embaixador agradeceu ao senador e ao povo paraense pela acolhida dos imigrantes japoneses na região. O embaixador falou também sobre a parceria que seu país deseja formar com o Governo do Estado do Pará com o objetivo de auxiliar o Estado nas ações de melhoria da mobilidade urbana, com vistas à realização da COP30 em Belém, em 2025. “Queremos ser parceiros do Pará na construção de projetos que possam permitirá o Estado a realizar com sucesso a COP30”, afirmou
VISITA À TOMÉ AÇU
O senador e o embaixador marcaram uma visita conjunta à Tomé Açu, no nordeste paraense, região que recebeu, os primeiros colonos japoneses que se fixaram na Amazônia a partir de 1929. Na época em que foi iniciada a imigração na Amazônia, a economia regional era essencialmente extrativista e em estagnação, devido à crise da borracha, que chegou a participar como terceiro produto de exportação do país.
Com a chegada dos imigrantes nipônicos, a fase pós decadência em razão da crise da borracha começou a ter nova cara. Começava ali a fase de aproveitamento do potencial amazônico, de sua rica biodiversidade. Os imigrantes receberam lotes cobertos por floresta, onde construíram casas, cultivaram plantações e desenvolveram um método que tem revolucionado a produção agrícola na região.
O método privilegia a diversidade de espécies e produz alimentos o ano todo, ajudando a regenerar áreas desmatadas nas últimas décadas. “As agroflorestas mantidas pelas famílias nipo-brasileiras atraem vários pesquisadores e agricultores interessados em replicá-las em outras partes do Brasil e do mundo”, lembra o senador.
Jader Barbalho lembrou que, quando foi governador do Pará, esteve presente em momentos importantes para a colônia japonesa em Tomé Açu. Para o senador, a proposta feita por Teiji Hayashi, de ampliar o sistema agroflorestal com processo de agricultura familiar é muito bem-vinda. “Já temos uma experiência vitoriosa, com o sucesso das famílias agricultoras que se fixaram em Tomé Açu. Sou favorável que se amplie esse sucesso”, disse o senador.
Teiji Hayashi fez um convite ao senador para que ambos possam, juntos, fazer uma visita ao município de Tomé Açu. “É uma das propostas que trago hoje, a ampliação do sistema agroflorestal desenvolvido pelas famílias imigrantes do Japão, sobretudo agricultores familiares”, destacou o embaixador.
Os agricultores familiares e empresariais de Tomé-Açu trabalham com a percepção de uma produção econômica com viés ambiental que influencia a percepção dos agricultores. O aspecto ambiental é fortemente considerado pelos agricultores familiares especialmente devido à sua visão histórico-cultural de manejo dos sistemas, à necessidade de sombreamento das árvores para as espécies frutíferas e à percepção de valorizar os serviços ecossistêmicos proporcionados pela agricultura familiar.
Atualmente mais de cinco mil agricultores mantém uma grande produção agrícola em Tomé Açu e impactam de forma direta e indireta para que outros moradores da região mantenham suas produções.
Muitos deles começaram com a produção de pimenta-do-reino, mas as plantações foram devastadas nos anos 70 pela “fusariose”, uma doença provocada por um fungo. Como alternativa, os agricultores passaram a diversificar a produção: além do cupuaçu, cultivam cacau, açaí e maracujá, entre outras frutas, em sistema agroflorestal.