Recuperadas após 16 anos, duas obras literárias raras foram oficialmente reincorporadas ao acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) ontem (3). As obras, que pertencem à Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, localizada no Campus de Pesquisa, na avenida Perimetral, em Belém, fazem parte de um conjunto de 40 in-fólios e 20 livros raros roubados em 2008. Resgatadas pelas operações internacionais realizadas pela Polícia Federal, em parceria com autoridades de outros países, as obras fazem parte da preservação do patrimônio cultural e científico amazônico.
O episódio marca um importante passo no enfrentamento dos desafios devido ao comércio ilegal de obras raras. Com esta entrega, cinco obras raras furtadas – ao todo, são 2 in-fólios e 3 livros – estão de volta ao acervo do Museu Goeldi, que tem uma coleção composta por 4 mil obras raras.
As duas publicações recuperadas são o livro “Reise in Chile, Peru und auf dem Amazonenstrome” – em português: Viagem no Chile, Peru e no Rio Amazonas –, de 1836, escrita por Eduard Friedrich Poeppig, e o in-fólio “Simiarum et vespertilionum Brasiliensium species novae” – em português: Novas espécies de macacos e morcegos do Brasil –, publicada em 1823 pelo naturalista Johann Baptist von Spix. A primeira obra foi encontrada na Argentina em dezembro de 2023, enquanto a segunda foi localizada no Reino Unido no início de 2024, em uma ação coordenada com a Scotland Yard.
O delegado da Polícia Federal, Cledson José da Silva, destacou a complexidade do processo de recuperação internacional dessas obras. Todo o processo investigativo mantém-se em sigilo. “No caso dessas obras, uma foi recuperada na Argentina e a outra no Reino Unido. Existe todo um mercado criminoso por trás dessas subtrações, e essas operações exigem articulação global para resgatar essas peças históricas”, disse.
A importância das obras não se tem apenas para a ciência amazônica, mas sim para o mundo. É o que comenta o diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior. “Estamos diante de uma das maiores e melhores bibliotecas científicas da Amazônia, com um acervo de naturalistas que foram pioneiros na descrição das espécies amazônicas. A obra de Spix, por exemplo, é tão relevante que na Alemanha há uma revista científica chamada Spixiana em homenagem a ele”. Além das recentes recuperações, o museu tem adotado medidas preventivas para evitar novos furtos. “Criamos uma sala-cofre, que possui controle rigoroso de temperatura, umidade e segurança, para preservar nosso acervo. Assim, garantimos que eventos como o incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, não venham a se repetir aqui”, explicou.
“O conhecimento que esses naturalistas estrangeiros trouxeram para o Brasil é um legado inestimável para nossa biodiversidade e nossa história”, afirma Berenice Bacelar, curadora da Coleção de Obras Raras do Goeldi. “Ver essas obras voltarem é uma satisfação imensa. Cada livro que nos é devolvido representa a retomada da ciência que foi interrompida por esse crime”.