GLOBAL CITIZEN NOW

Global Citizen NOW fortalece voz indígena na defesa da Amazônia

Belém foi palco, nesta quinta-feira (24), do “Global Citizen NOW: Amazônia”, cúpula que impulsiona ações para enfrentar os desafios mais urgentes do mundo

Belém foi palco, nesta quinta-feira (24), do “Global Citizen NOW: Amazônia”, cúpula que impulsiona ações para enfrentar os desafios mais urgentes do mundo
Belém foi palco, nesta quinta-feira (24), do “Global Citizen NOW: Amazônia”, cúpula que impulsiona ações para enfrentar os desafios mais urgentes do mundo . Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

Belém foi palco, nesta quinta-feira (24), do “Global Citizen NOW: Amazônia”, cúpula que impulsiona ações para enfrentar os desafios mais urgentes do mundo – desta vez na Amazônia –, e reuniu lideranças e organizações em defesa da floresta para cobrar ações concretas antes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em novembro na capital paraense. 

Promovido pela organização internacional Global Citizen, foi realizado no Teatro Maria Sylvia Nunes, na Estação das Docas, e também faz parte da campanha de um ano para proteger a Amazônia, amplificando as vozes das comunidades locais e indígenas para o mundo, antes do “Global Citizen Festival: Amazônia”, que acontecerá em 1º de novembro.

A programação colocou em evidência três prioridades: mobilizar novos investimentos para proteger e restaurar a Amazônia, incluindo, ainda, o apoio aos direitos indígenas à terra e o reconhecimento formal dos territórios tradicionais; garantir compromissos para eliminar os combustíveis fósseis e ampliar a energia renovável, com foco em uma transição justa para trabalhadores e comunidades; e entregar o financiamento climático de países e setores de alta emissão para fortalecer a adaptação e resiliência de comunidades vulneráveis aos impactos do clima.

A abertura com ‘Nós Somos a Floresta’, da cantora, jornalista e ativista indígena Djuena Tikuna, contou com a participação dos artistas indígenas Totchimaucu Tikuna e Diego Janatã. Em seguida, o momento ‘Bem-vindo a Belém’ foi marcado pela fala do prefeito Igor Normando, que destacou a importância simbólica e prática da capital paraense como anfitriã da cúpula e da próxima Conferência da ONU sobre o Clima.

“Belém não é o concreto que a desenha, mas o barulho dos rios, das matas e, principalmente, o cheiro e o calor do nosso povo. A COP 30 será um momento extraordinário de discussão das mudanças climáticas, da resiliência climática e, sobretudo, do mundo que queremos daqui para frente: mais sustentável e mais igual para todos”, disse. 

Para ele, o momento representa não apenas um marco ambiental, mas uma oportunidade histórica de reconhecimento e valorização do povo amazônida. “Para que o nosso povo e a nossa cidade possam entrar no mapa do planeta, e que possam conhecer a Amazônia de verdade. Mas, mais do que isso, a Amazônia real, os povos amazônidas que muitas das vezes sofridos resistem e fazem com que a nossa cultura e a nossa floresta continuem de pé”.

Diego Scotti, membro do conselho da Global Citizen, celebrou os avanços conquistados desde o lançamento da campanha em defesa da Amazônia, há apenas oito meses. Durante sua fala, ele destacou o envolvimento direto com lideranças políticas e comunidades da região. “A campanha já mobilizou mais de dois milhões de ações no Brasil e no mundo, mostrando a força desse movimento e a liderança do povo brasileiro”, afirmou. Ele reforçou a importância da cooperação entre governos, povos originários, sociedade civil e setor privado como chave para preservar a floresta e promover justiça climática: “hoje é sobre manter esse impulso e mostrar o que é possível quando todos atuam juntos”.

Financiamento Climático e Sustentabilidade

‘Um Ponto de Virada para a Amazônia’ foi tema de conversa entre a secretária de Cultura do Pará (Secult), Úrsula Vidal, e o vice-presidente de Negócios, Governo e Sustentabilidade Empresarial do Banco do Brasil, José Ricardo Sasseron. Eles defenderam que o financiamento climático e Sasseron lembrou que um terço da carteira de crédito do banco já está alinhada a critérios ESG (ambientais, sociais e de governança), e que a atuação no bioma amazônico vem sendo fortalecida com foco na proteção da floresta e no apoio a comunidades tradicionais. 

“O mundo precisa pagar pela preservação da Amazônia. Apoiar as populações locais com crédito, capacitação e respeito é essencial. É possível gerar atividade econômica a partir dos recursos naturais sem agredir o meio ambiente — e o Banco do Brasil está comprometido com isso”, pontuou ele.

Desmatamento e Soluções Sustentáveis

Compondo a mesa sobre ‘o que está impulsionando o desmatamento na Amazônia?’, Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, apontou que o desmatamento, “embora esteja em queda na Amazônia nos últimos dois anos, ainda temos o maior desmatamento de florestas tropicais do mundo, e o principal vetor de desmatamento é a conversão das áreas de floresta para o uso agropecuário. “Apesar de não ser a maior parte das propriedades que estão desmatando, as que estão desmatando são responsáveis por 98% do desmatamento na região”, continuou.

Mas, segundo ele, há “bons exemplos na Amazônia”, inclusive no Estado do Pará. “Paragominas, por exemplo, tem fazendas que conseguem manter 80% da área de reserva legal e usar a pecuária apenas nos 20% da área e ser saudável. Então é perfeitamente compatível desde que ela não seja mais baseada na expansão sobre a floresta”.

Djuena Tikuna destacou a atuação de jovens comunicadores indígenas e a força de movimentos como a mobilização das mulheres como exemplos do protagonismo indígena na luta climática. “Nós somos a resposta, porque trazemos a cura para esse mundo doente; e, antes do mundo existir, nossos ancestrais já estavam aqui”, frisou. “Somos a floresta. A gente luta falando da resistência sobre a luta pelo nosso território e nossas comunidades”.

LEGADO COP

Complementando os paineis da manhã, o governador do Pará, Helder Barbalho, ao lado da apresentadora do evento, a jornalista Luiza Zveiter, conversaram sobre ‘O legado da COP para o Estado do Pará’.

“Este é um momento em que mobilizadores, cidadãos do mundo, que debatem, que pensam a Amazônia, que discutem soluções para a natureza, se reúnem e fazem de Belém o início dessa trajetória que consolida a nossa capital como capital da Amazônia e como centro para as discussões e soluções para o meio ambiente”, ponderou.

Complementando os paineis da manhã, o governador do Pará, Helder Barbalho, ao lado da apresentadora do evento, a jornalista Luiza Zveiter, conversaram sobre ‘O legado da COP para o Estado do Pará’.
Complementando os paineis da manhã, o governador do Pará, Helder Barbalho, ao lado da apresentadora do evento, a jornalista Luiza Zveiter, conversaram sobre ‘O legado da COP para o Estado do Pará’.. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.

O governador reforçou que discutir meio ambiente no coração da floresta traz um valor simbólico e prático incomparável. “Não tem lugar melhor para discutir a floresta do que colocando o pé na Amazônia”, disse. 

“Nós temos a missão e a oportunidade de fazer deste momento uma agenda de consolidação – de uma escolha que o Estado do Pará teve a partir de 2019, quando buscou construir um novo capítulo na sua história –: conciliar as suas vocações de ontem, mas buscar construir novas que possam estar pautadas na sustentabilidade, em economias verdes que gerem novas oportunidades a partir dos valores que a natureza traz”, acrescentou.

Helder Barbalho também abordou os desafios da cidade e rebateu críticas sobre a realização da COP 30 em Belém. “Nós não queremos apresentar para o mundo uma cidade que não existe. Belém continuará tendo problemas, como qualquer outra capital brasileira. Mas estamos aproveitando o evento para resolver problemas que antes não foram solucionados. Se não tivesse a COP, não teríamos R$5 bilhões em obras públicas em andamento”, apontou, lembrando ainda os nove novos hotéis em construção e a renovação da frota de ônibus com veículos com ar-condicionado, Wi-Fi e modelos elétricos.

Sobre os grandes desafios ambientais do estado, o governador foi direto sobre as emissões do Pará, que estão ligadas ao uso da terra. E, para isso, o trabalho está focado para poder mudar o conceito do uso da terra. “Primeiro, nós não precisamos desmatar nada para continuar sendo um dos maiores produtores de alimento do Brasil”, frisou. 

Por outro lado, é possível intensificar a produção, sem avançar sobre a floresta, mas “intensificar aquilo que já está antropizado. Esse é o ponto. Segundo, nós precisamos garantir que as culturas de cultivo possam estar sintonizadas com a agenda de produção de alimento compatível com o restauro de áreas. E nós temos duas culturas de cultivo muito relevantes, que é o cacau e o açaí”, detalhou.

Sobre os benefícios da COP, Barbalho assegurou que as obras estruturantes seguem dentro do cronograma. “Todas as datas estão sendo cumpridas, todas as obras estão dentro do planejado. Nos dá a tranquilidade de que, com muito trabalho, teremos em novembro uma cidade pronta para os seus cidadãos, mas também para receber este evento que posiciona Belém em um novo e importante papel para o planeta”.

No ‘Global Citizen NOW: Amazônia’, para ele, o foco é além do fortalecimento da bioeconomia, mas o reconhecimento do valor da floresta viva. “Que a COP possa me trazer um resultado: floresta viva possa valer mais do que floresta morta. Nós precisamos fazer com que agregue-se valor à floresta – que é o incentivo à pesquisa para a nossa biodiversidade se transformar em bioeconomia, fazer com que os conhecimentos ancestrais dos povos indígenas e quilombolas possam chegar até as universidades, a ciência, até a inovação”.