PROFISSÃO

Garantindo a segurança da navegação em todo o Estado do Pará

Os práticos, ou profissionais da praticagem, são especialistas em navegação em áreas de difícil acesso ou que demandam ações complexas.

Garantindo a segurança da navegação em todo o Estado do Pará Garantindo a segurança da navegação em todo o Estado do Pará Garantindo a segurança da navegação em todo o Estado do Pará Garantindo a segurança da navegação em todo o Estado do Pará
Só no Estado do Pará, são mais de 4 mil manobras por ano
Só no Estado do Pará, são mais de 4 mil manobras por ano

Pará - O prático, ou profissional da praticagem, é um especialista em navegação em áreas restritas e de difícil acesso, como canais, baías e portos. Sua principal função é garantir a segurança da manobra de navios de grande porte durante sua entrada, saída, atracação ou desatracação nos portos. Hoje 37 práticos atuam na Zona de Praticagem 3 (ZP-3), no Estado do Pará, e realizam mais de 4.400 manobras de navios por ano.

A área de atuação compreende os acessos pelos canais do Quiriri (ou Marajó) e Espadarte, no Rio Pará, até o porto de Belém, porto de Vila do Conde e o acesso à região dos Estreitos (à sudoeste da Ilha do Marajó). O Rio Tocantins também é considerado hidrovia extensiva da zona de praticagem.

A praticagem é realizada a bordo do navio pelo prático (ou pilot em outros países), profissional que embarca de sua lancha no navio em movimento, a partir de uma escada estendida no costado. O prático atua principalmente em grandes embarcações comerciais, como navios cargueiros, petroleiros, porta-contêineres, navios de passageiros (cruzeiros) e navios graneleiros. São embarcações de grande porte que exigem alto grau de precisão e conhecimento local para realizar manobras seguras nos portos brasileiros.

Evandro Saab trabalha como prático no Pará há 13 anos e também é presidente do Sindipráticos

“Após uma troca inicial de informações com o comandante, chamada de MPX (Master Pilot Exchange), o prático passa a pilotar o navio. Ele dá ordens de leme e máquina à equipe do passadiço e de puxar e empurrar aos comandantes dos rebocadores, além de monitorar o tráfego ao redor, combinar cruzamentos com outras embarcações e coordenar o serviço de amarração”, detalha Evandro Abi Saab, 37, prático habilitado na Zona de Praticagem 3 e presidente do Sindicato dos Práticos dos Portos e Navegação do Estado do Pará (Sindipraticos-PA).

Para se tornar prático, é preciso ser aprovado em um rigoroso processo seletivo, coordenado pela Marinha do Brasil. É necessário ter idade mínima de 18 anos, curso superior e habilitação de mestre-amador. O processo cobra conhecimentos como manobrabilidade do navio; arte naval; navegação em águas restritas; legislação e regulamentação; meteorologia e oceanografia; comunicações; entre outros.

“Se aprovado, o candidato participa de um programa de qualificação intenso em que realiza centenas de manobras supervisionadas durante o mínimo de 12 meses. Só então, ele pode prestar o exame de habilitação para prático, a bordo de embarcação”, detalha Evandro.

SOCIEDADE

Após habilitado, o prático pode abrir a própria empresa ou tornar-se sócio de uma existente na zona de praticagem. Essa é a opção da maioria, pelos altos custos de prestação do serviço. “Para se manter habilitado, o prático deve executar um mínimo de fainas de praticagem (manobras realizadas pelos práticos durante o processo de entrada e saída de navios nos portos e terminais) por período, já que a profissão exige experiência regular em diferentes navios e manobras. Também, a cada cinco anos, o prático precisa completar o Curso de Atualização para Práticos (ATPR)”, diz.

No Brasil a praticagem é uma atividade privada. O prático não é funcionário público ou servidor. A regulamentação técnica e econômica do serviço é exercida pela Marinha do Brasil. “Outro ponto importante é que os custos operacionais de uma empresa de praticagem são altíssimos, principalmente na Zona de Praticagem 3, onde as distâncias de embarque e desembarque podem chegar a 180 quilômetros. Para atender a toda essa região, a Praticagem do Pará conta com mais de 150 colaboradores, 18 lanchas de praticagem e quatro bases operacionais estrategicamente posicionadas no Estado, trabalhando 24 horas por dia, nos 365 dias por ano”, detalha.

Como sócios de empresas de praticagem, os práticos não recebem salário fixo mensal de um empregador, mas, sim, parte do lucro após o pagamento dos custos de prestação do serviço e impostos. Nos maiores portos do país, as empresas de praticagem são, em sua maioria, lucrativas. Mas essa não é a única realidade. Há portos pequenos, com pouca movimentação de navios, onde as empresas podem não ter recursos suficientes para manutenção até mesmo dos seus custos operacionais.

“Nesses casos, pode ocorrer, inclusive, a extinção e incorporação da zona de praticagem, como aconteceu com as praticagens de Camocim, Ilhéus e Sergipe. O que podemos afirmar é que a remuneração é condizente com o nível de especialização do prático, o risco de morte que ele corre a cada embarque/desembarque, os elevados custos de funcionamento da atividade e a responsabilidade ambiental que ele administra a bordo”.