Uma nova família de primatas com risco de extinção foi reunida no BioParque Vale Amazônia, no município de Parauapebas, no sudeste do Pará. Macacos-aranha-da-cara-preta que eram mantidos de forma ilegal em propriedades rurais, foram resgatados pelo Ibama e encaminhados para o BioParque, em Carajás. Na nova casa, o filhotinho órfão Tunico, vindo de Manaus (AM), ganhou uma mãe adotiva, a Rose, fêmea resgatada em Rio Branco (AC), e uma nova família junto com o casal Chico e a Chica, da mesma espécie, também vindos do Acre.
Agora os animais estão sob os cuidados de uma equipe multidisciplinar do BioParque, que conta com veterinário, biólogo e tratadores em trabalho de aproximação e integração do grupo para unir essa nova família e para que os primatas tenham uma segunda chance de vida, como explica o biólogo, Tarcísio Rodrigues. “O nosso objetivo aqui, já que esses animais foram domesticados, e não é mais possível que retornem para natureza, é garantir essa segunda chance de vida, junto a indivíduos da mesma espécie em um novo lar”, diz.
Esse momento de integração é fundamental para a conservação da espécie, explica o veterinário Nereston de Camargo. “Aqui eles recebem a atenção com os cuidados médicos e alimentação, respeitando as suas características. Um dos passos mais importantes foi aproximar primeiro a Rose com o Tunico, a fim de que ela adotasse o filhote e ele pudesse ter mais chances de sobreviver, já que esse convívio entre mãe e filhote nesses mamíferos é característico nessa fase inicial da vida. Nós também buscamos estimular seus próprios instintos para resgatar ao máximo suas características, afinal de contas são animais silvestres”, explica Nereston.
A nova família já pode ser conhecida do público no BioParque. O local conta agora com três ilhas cada uma com um espécie de macaco-aranha diferente. A primeira ilha com macaco-aranha-da-testa-branca (espécie amazônica também ameaçada de extinção na categoria em perigo); na ilha do meio, o macaco-aranha-da-cara-vermelha (não ameaçada felizmente e com sucesso reprodutivo todo ano) e uma terceira ilha, com o macaco-aranha-da-cara-preta.
Os animais vieram encaminhados pelo Ibama. Além dessa forma, os animais que estão no BioParque Vale Amazônia nasceram em cativeiro no próprio local ou vieram encaminhados de outras instituições com o fim de reprodução e conservação de espécies ameaçadas de extinção. Localizado dentro da Floresta Nacional de Carajás, unidade de Conservação Federal gerida e fiscalizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e conservada com o apoio da Vale, o BioParque tem aproximadamente 30 hectares de área, dos quais cerca de 70% de floresta nativa, dividido entre 29 recintos e 360 animais, incluindo outras espécies ameadas como a onça-pintada, o cachorro-vinagre, macaco-cuxiu e a ararajuba.
Macaco-aranha-da-cara-preta
O macaco-aranha-da-cara-preta é uma espécie amazônica ameaçada de extinção na categoria vulnerável. A espécie também está inserida no Plano de Ação Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas (PAN) – PAN de Primatas Amazônicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). É uma das maiores espécies de macaco-aranha, com o corpo medindo aproximadamente 70 cm e uma cauda longa que pode atingir um metro. A face e a pelagem do corpo são totalmente negras, com pelos curtos. São onívoros, entretanto se alimentam predominantemente de frutos, mas também podem comer insetos, néctar, brotos, folhas, casca de árvore, mel, flores, cupins e lagartas, e têm apenas um filhote por gestação, que pode chegar a oito meses.
Eles possuem braços e pernas longos e cauda preênsil, que permitem se deslocar com facilidade entre as copas das árvores. Essas características do corpo e comportamento são responsáveis pelos primatas desse grupo serem conhecidos como “macacos-aranha”.
Embora, em relação às outras espécies de primatas, os macacos-aranhas se reproduzam mais lentamente, acasalando uma vez a cada três a quatro anos, os técnicos têm esperança do nascimento de filhotes. “O macaco-aranha é uma espécie com risco de extinção e o principal papel de um bioparque é buscar contribuir com essa conservação e a possibilidade dessa espécie se manter presente na natureza e para o conhecimento de próximas gerações. E aqui temos buscado proporcionar o máximo de similaridade com a floresta, para que eles se sintam o mais próximo de seu habitat e o mais confortável para se reproduzir”, diz o supervisor do BioParque, Cesar Neto.