VAREJO SUSTENTÁVEL

Fábrica de cosméticos naturais valoriza extrativismo sustentável

Cosméticos que conectam saberes, floresta e pessoas — essa é a essência da Bioilha

Sabonetes e óleos que preservam: empresa paraense aposta na bioeconomia amazônica
Sabonetes e óleos que preservam: empresa paraense aposta na bioeconomia amazônica. Foto: Divulgação

O que começou como um trabalho de campo voltado à educação, acabou se transformando em um projeto de empreendedorismo sustentável e que valoriza os insumos da floresta. Em 2024, a pedagoga Danielly Gomes viu seu caminho profissional tomar um novo rumo ao se tornar fundadora e gestora da Bioilha, uma fábrica de cosméticos naturais localizada no distrito de Icoaraci, em Belém.

Foi através do contato direto com as populações ribeirinhas durante as ações de mapeamento e educação nas ilhas, que a empreendedora passou a conhecer mais de perto a extração artesanal de óleos vegetais feita por muitas dessas famílias que vivem na floresta. Não demorou muito para que ela observasse um crescimento no interesse dos consumidores por cosméticos produzidos a partir de matérias-primas naturais. Mais do que empreender, Danielly encontrou uma forma de valorizar os conhecimentos tradicionais e promover geração de renda para moradores tanto das ilhas, quanto da cidade.

“A nossa relação com a floresta é profunda, verdadeira e muito respeitosa. A Bioilha nasceu da Amazônia, com a missão de transformar os saberes ancestrais e os insumos da floresta em cuidado. Utilizamos óleos, sementes e manteigas vegetais que são nativos daqui, como andiroba, copaíba, pracaxi, açaí e ucuuba — ingredientes que carregam um conhecimento tradicional e um poder terapêutico que vem sendo usado há gerações pelas populações da região”, lembra, ao contar que a fábrica se entende como parte desse ecossistema.

“Não é só sobre ‘retirar’ da floresta, mas sobre criar um ciclo de respeito, valorização e retorno. A floresta está presente em cada fórmula da Bioilha, mas também em cada escolha que fazemos — desde quem produz a matéria-prima até a forma como comunicamos isso para os nossos clientes”.

Para que mantenham a produção de seus produtos, Danielly conta que sempre busca comprar os insumos de comunidades locais, garantindo que essas matérias primas tenham um destino e que cada vez mais a floresta se mantenha de pé, gerando renda. “Nós atuamos dentro de um modelo de bioeconomia que acredita no uso inteligente e ético dos recursos da floresta, mantendo ela viva. Ao adquirir insumos de comunidades tradicionais, ribeirinhas, quilombolas ou pequenos extrativistas, estamos não apenas comprando ingredientes — estamos fortalecendo modos de vida, culturas e economias que têm a floresta como casa”, avalia. “É uma forma de gerar renda sem desmatamento, sem destruir”.

Esse impacto positivo está presente em cada sabonete, óleo ou creme vendido pela marca. Um princípio que acompanha a empreendedora desde o início da jornada até hoje é o de não fazer uso de ingredientes derivados do petróleo, priorizando sempre produtos naturais e locais. “É uma cadeia de cuidado que começa na floresta e termina na pele de quem usa nossos produtos. E a beleza disso tudo é perceber que o consumidor final também passa a fazer parte dessa rede de apoio ao manter a floresta em pé”, acredita Danielly.

“A gente percebe que hoje as pessoas querem saber de onde vem o que estão usando no corpo, na pele. E quando a gente mostra que nossos produtos são feitos a partir de ingredientes nativos, de forma artesanal, com rastreabilidade, e que isso ainda gera renda para quem vive na floresta — isso toca. É um diferencial que conecta. Muitos clientes vêm buscando um produto natural, mas ficam com a marca porque percebem que estão consumindo algo com propósito, com ética, com identidade. A gente fala sobre isso nas embalagens, nas redes sociais, nas feiras e, principalmente, no boca a boca — mostrando que é possível cuidar da pele e também cuidar da Amazônia ao mesmo tempo”.