Carol Menezes
“Já chegamos à metade das metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e agora é o momento crucial de definir como alcançar o que ainda falta”.
Com esta fala, o ex-secretário-geral das Nações Unidas, o diplomata e político coreano Ban Ki-Moon encerrou o primeiro dia da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, que vai até a próxima sexta-feira, 1º de setembro, no Hangar Convenções & Feiras da Amazônia. A programação desta quinta, dia 31, será aberta pelo ex-primeiro ministro do Reino Unido, Tony Blair, que palestra a partir das 11h.
Ban Ki-Moon focou sua fala de cerca de 40 minutos em três questões: a importância de soluções inclusivas e baseadas em parcerias; a urgência em mitigar os efeitos das mudanças climáticas diante de uma nova era de novas e prováveis pandemia; e finalmente no papel de liderança ativa do Brasil para futuro sustentável e economia verde. “Precisamos de soluções cooperativas para abordar desafios”, complementou.
Ele lembrou que esteve na Ilha do Combu em 2007, em seu primeiro ano à frente da ONU, e que inclusive pôde plantar uma árvore no local visitado. “Gostaria de ir até lá e ver o quanto essa árvore cresceu, mas acho que vai ficar para uma próxima vez!”, brincou. “Mas também foi quando eu me reuni com lideranças locais que me pediram para não cortar mais árvores. Ali eu estava assumindo um compromisso para de fato combater a crise climática”, reforçou.
Antes, durante a solenidade de abertura, o governador Helder Barbalho (MDB) discursou sobre a oportunidade de demonstrar ser possível a construção efetiva de ampla mobilização em favor da Amazônia. Lembrou que durante a 27ª Conferência das Partes da ONU, realizada ano passado no Egito, aproveitou para anunciar a criação do Plano Estadual de Bioeconomia, o primeiro do Brasil.
“Estamos aqui discutindo a Amazônia do hoje e propondo um novo modelo de desenvolvimento para a região que não seja excludente, mas que possa ser financiado a partir da gestão do uso do solo para construção de economia de baixo carbono. A floresta viva é nosso maior ativo, por isso a importância da construção de uma lógica que valorize a biodiversidade é decisivo”, enfatizou o chefe do Executivo estadual.
Helder confirmou que será durante a COP 30, em Belém, a ser realizada no ano de 2025, a entrega do Parque Estadual de Bioeconomia, já em construção. “É nosso papel fomentar para que a Amazônia possa ser conhecida por nós como um consórcio do conhecimento dos povos tradicionais, que com investimento em tecnologia, pesquisa e inovação, pode alavancar essa nova vocação econômica.
Desde já, quem escolher a Bioeconomia tem prioridade no Pará. Para titulação de terra e também para crédito – o Banpará tem R$ 400 milhões exclusivamente reservados só para esse tipo de iniciativa”, complementou. Ainda no Hangar, ele comemorou os índices positivos de redução do desmatamento no Pará: 44% entre janeiro e agosto, na comparação com o mesmo período do ano anterior, e 68% em agosto, na comparação com o mês de agosto de 2022.
“É preciso convocar o Brasil a discutir mercado de carbono para valorar floresta viva mais do que morta. A floresta em pé como novo ativo para empregos verdes e desenvolvimento voltado aos brasileiros, amazônidas e paraenses”, estimulou.
Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), entidade realizadora da Conferência, Raul Jungmann fez questão de agradecer ao empenho do Governo do Pará em receber o evento.
“Nenhum lugar melhor para firmar este compromisso do que aqui, na Amazônia, em Belém, no Pará. Amazônia é algo que pertence ao Brasil, mas que importa ao mundo todo e influencia o clima de todo o planeta. Se traduz na floresta viva, no respeito aos povos tradicionais, na manutenção e conservação. Tem a ver com nossas cidades, que precisam ser cada vez mais sustentáveis e com enfrentamento à desigualdade e à pobreza. Nação é para todos”, afirmou.
Secretária Geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Maria Alexandra Moreira Lopes lembrou que no início do mês a entidade realizou em Belém a 4ª reunião de sua história, e que ali já havia sido frisado que as realidades são muitas e diversas dentro da Amazônia, e que isso pede por soluções adequadas a cada uma delas.
“Muitas vezes se acha que atividades tradicionais são as que mais geram dinheiro, que o extrativismo é solução única, mas dados foram surgindo nas últimas décadas, e nos mostrando que castanha, óleo de dendê, açaí, mel natural e tantos outros produtos movimentaram só entre 2017 e 2019 cerca de US$ 176 bi. É preciso criar mais oportunidades para que a região amazônica e o Brasil possam se unir e trabalhar em prol desse modelo verde, de floresta em pé, de mineração responsável e com tecnologia”, defendeu.