EXPANSÃO DA ÁREA URBANA

Estudo da Fapespa mostra crescimento de 70% em Mosqueiro

Área urbanizada cresceu de 5,92 km² em 2001 para 10,15 km² em 2023.

O processo de expansão urbana na Ilha de Mosqueiro segue uma dinâmica constante, com edificações sendo inseridas nas áreas que, anteriormente, eram ocupadas por vegetações e áreas descobertas de solo exposto. Foto: Wellyngton Coelho / Ag.Pará
O processo de expansão urbana na Ilha de Mosqueiro segue uma dinâmica constante, com edificações sendo inseridas nas áreas que, anteriormente, eram ocupadas por vegetações e áreas descobertas de solo exposto. Foto: Wellyngton Coelho / Ag.Pará

A maior Ilha da capital paraense, Mosqueiro, teve sua área urbanizada aumentada em quase o dobro, cresceu de 5,92 km² em 2001 para 10,15 km² em 2023, contudo manteve seu índice de sustentabilidade informa a Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), em estudo publicado nesta segunda-feira (30).

O estudo aponta que o processo de expansão urbana na Ilha de Mosqueiro segue uma dinâmica constante, com edificações sendo inseridas nas áreas que, anteriormente, eram ocupadas por vegetações e áreas descobertas de solo exposto. Essa mudança na paisagem da ilha é regida, principalmente, pela dinâmica econômica, já que Mosqueiro apresenta inúmeras edificações em uma pequena área. 

Tal cenário torna Mosqueiro um espaço com características urbanas singulares, pois a maior parte da área corresponde ao ambiente natural, como vegetações e corpos d’águas, e uma pequena área, cerca de 10%, é ocupada pela maioria da população e seus respectivos fixos regidos pela dinâmica urbana e econômica.

O estudo de Mosqueiro integra o Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém que tem como objetivo apresentar para todas as ilhas da capital paraense, um desenho integrado da geoecologia da paisagem, que, em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), poderá auxiliar políticas públicas voltadas ao planejamento ambiental das ilhas.

De acordo com a Fapespa, a busca por indicadores de sustentabilidade ambiental torna-se tema de interesse global em virtude do intenso processo de uso e ocupação da terra, atrelados à irracionalidade no manejo dos recursos naturais. Desse modo, a temática vem adquirindo cada vez mais interesse de pesquisadores, gestores e comunidade em geral, com a realização de conferências e reuniões constantes de cunho ambiental, como a COP 30 e afins.

“A região insular da nossa capital representa um grande potencial em vários aspectos econômicos e turísticos, mas também um grande desafio urbanístico para acesso, para a tranquilidade das pessoas que vivem nessas ilhas, acessarem os serviços públicos necessários. Então, conhecer a demografia, conhecer a expansão dessas regiões insulares e de suas necessidades é extremamente importante para a boa tomada de decisão dos nossos gestores públicos, para que eles atendam da melhor maneira possível essa população que é extremamente carente, mas que vive numa região extremamente promissora”, avalia o presidente da Fapespa, professor Marcel Botelho.

SUSTENTABILIDADE

Entre os resultados apresentados para Mosqueiro, a Faespa aponta os indicadores de sustentabilidade ambiental que puderam ser obtidos mediante ao mapeamento multitemporal (2001 e 2023) das “Classes de uso e cobertura da terra” presentes na Ilha de Mosqueiro, que são as áreas urbanizadas.

Essa classe foi utilizada para calcular o indicador de “Sustentabilidade de Pressão Urbana” (SPU), que, ao relacionar a ocupação urbana com a área total da Ilha, apresentou resultados dentro dos parâmetros de sustentabilidade. Da mesma forma, o indicador de “Sustentabilidade de Cobertura Vegetal” (SCV) foi calculado a partir da soma das áreas de vegetação densa e secundária, também em relação à área total. Assim, o resultado se manteve sustentável, por conta do expressivo crescimento da vegetação secundária, que aumentou de 17,27 km² em 2001 para 38,62 km² em 2023. 

Tais resultados demonstram que apesar do aumento de sua área urbanizada (70,45%) e da vegetação secundária (123,62%), os indicadores continuaram sustentáveis, em virtude de sua extensão territorial, como reforçado no mapa de Classificação multitemporal da Ilha de Mosqueiro.

Um dos fatores que contribuíram para estes resultados foi o crescimento de vegetação secundária, é o que aponta o geógrafo e bolsista do projeto Atlas da Sustentabilidade Elias Klelington: “O crescimento de vegetação secundária, por exemplo, é benéfico para composição paisagística da ilha, pois apesar de não corresponder à vegetação original, garante importância na geodiversidade por auxiliar na recuperação dos ecossistemas, podendo servir também de corredores ecológicos, conectando as manchas florestais existentes em Mosqueiro. Este fato favorece a conservação ambiental, apesar da ocorrência de perda da floresta primária”.

Com aproximadamente 213 km², localizada a 80 km² de Belém, a Ilha de Mosqueiro apresenta acesso vias fluviais e terrestres, sendo um dos principais fluxos a PA – 391, através da ponte São Sebastião Rabelo de Oliveira, edificada em 1976, com extensão de 1.485 metros. 

A ilha pertence ao Distrito Administrativo de Mosqueiro (DAMOS) do município de Belém, estando suas praias majoritariamente presentes na sua Zona Urbana. Seu nome origina-se da prática chamada moqueio, método de conservação de animais perecíveis utilizado pelos Tupinambá, habitantes da região (IBGE, 2024). 

NOVA ILHA SOB A PONTE SEBASTIÃO OLIVEIRA

O estudo também aponta o surgimento de uma barra sedimentar que pesquisadores estão denominando de “Nova Ilha”, situada sob a ponte Sebastião R. Oliveira, possuindo extensão de aproximadamente 200 metros, com sua vegetação alcançando a altura da ponte. Como sua formação é recente, seus estudos ainda são iniciais, porém essas particularidades nas dinâmicas territoriais são fundamentais para construção de políticas públicas eficazes, uma vez que são necessárias para mensurar o território.

BOLETIM DA SUSTENTABILIDADE DAS ILHAS DE BELÉM 

O estudo sobre Mosqueiro faz parte de uma coletânea sobre as ilhas de Belém, denominado Boletim da Sustentabilidade das Ilhas de Belém, os quais apresentam, em cada edição, as principais características socioespaciais das ilhas ao redor da capital paraense, utilizando zoneamento geoambiental. A primeira edição destaca a Ilha de Cotijuba, por se tratar de uma área de importância turística para a capital. 

A Fapespa entende que os estudos e pesquisas desempenham um papel crucial no planejamento de políticas públicas no Pará. Dessa forma, idealizou essa coletânea sobre as ilhas com o objetivo de contribuir para a criação de políticas públicas para a região das ilhas, que não dispõem de muitas informações precisas e muitas vezes não refletem a realidade local. 

O boletim busca contribuir para a precisão do planejamento e implementação de políticas públicas, possibilitando intervenções mais direcionadas e eficazes, adaptadas às necessidades e características específicas de cada ilha.

POLÍTICAS PÚBLICAS 

O Boletim da Sustentabilidade apresenta informações mais precisas da ocupação territorial de cada ilha, tendo em vista que há poucos dados sobre as áreas da região insular de Belém e do seu entorno.

Para Maiara Cordeiro, coordenadora de estudos territoriais (CET) e responsável pelo projeto Atlas da Sustentabilidade, a coletânea apresentará dados que possam subsidiar os gestores, visto que a expansão dos territórios acontece de forma desordenada, prejudicando o uso sustentável dos recursos presentes e de uma qualidade de vida adequada para a população. 

O Boletim da Sustentabilidade da Ilha de Mosqueiro é um produto do projeto Atlas da Sustentabilidade, projeto da Coordenação de Estudos Territoriais (CET) da Diretoria de Pesquisas e Estudos Ambientais (Dipea) da Fapespa, formado por uma equipe multidisciplinar, que analisa e apresenta dados e informações sobre sustentabilidade do estado do Pará, para subsidiar ações de gestores e fornecer informações a cientistas e comunidade em geral. Sua produção compõe relatórios sobre a sustentabilidade, boletins, notas técnicas, sendo fonte de produção e divulgação de conhecimento científico na Região Amazônica, sobretudo na Amazônia Paraense.