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Estudo com mulheres negras joga luz sobre invisibilidade

Iniciativa Negra do Pará divulgou uma pesquisa realizada em Belém e Altamira que revela a situação enfrentada por mulheres negras cis, trans e travestis e aponta a necessidade de políticas públicas para elas

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O lançamento da pesquisa aconteceu na sede da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos

Foto: Wagner Almeida / Doário do Pará.
O lançamento da pesquisa aconteceu na sede da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos Foto: Wagner Almeida / Doário do Pará.

Uma pesquisa realizada pela organização Iniciativa Negra no Pará, intitulada “Realidades invisíveis: política de drogas, megaprojetos e a sobrevivência de mulheres negras cis, trans e travestis na Amazônia paraense”, foi lançada ontem (27), na Sede da Sociedade Paraense em Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), no bairro do Guamá, em Belém.

O estudo, desenvolvido em março deste ano, traz à tona o panorama sobre a violência vivida por essas mulheres negras, usuárias de drogas e/ou que sobrevivem em territórios expostos à guerra às drogas em Belém e na cidade de Altamira, no sudoeste paraense. Um total de 60 mulheres, nas duas cidades, responderam aos questionários e participaram de entrevistas semiestruturadas.

Os principais resultados da pesquisa apontam diferentes violências experienciadas por essas mulheres. Dentre eles, que em Belém, 47% das entrevistadas disseram ser discriminadas por LGBTIfobia, o que sobe para 50% em Altamira. Referente à violência no dia a dia, em Altamira, 57% das mulheres sofreram agressão verbal e 33%, violência sexual e estupro. Já na capital paraense, 20% das entrevistadas afirmaram sofrer agressão psicológica e 20%, tentativa de feminicídio ou agressão física.

Em Belém, a assistente social e pesquisadora Cláudia Patrícia concentrou a pesquisa na Universidade Federal do Pará (UFPA) visando entrevistar moradores do bairro do Guamá e Terra Firme, que transitam no campus. “Para mim foi o espaço ideal porque não entrevistei somente estudantes, mas pessoas que usam o espaço da universidade, e acaba sendo diverso. Lá consegui variar a amostra das idades, os graus de escolaridade, dentro desse recorte e mais próximo”, afirma.

IMPORTÂNCIA

A assessora de advocacy da Iniciativa Negra no Pará, Dandara Rudsan, pondera que a pesquisa é exploratória, dessa forma, vai a lugares onde poucas pessoas levantaram dados e, principalmente, sobre mulheres negras cis, trans e travestis ou adictas que vivem em territórios afetados pela política de combate ao tráfico de drogas.

“A primeira coisa certa, é que a pesquisa mostra que essas mulheres existem e vivem em territórios afetados por essa política de violência e são dignas de proteção e políticas públicas voltadas à elas”, disse. Dandara Rudsan ressalta ainda que trazer essa realidade à tona é uma forma qualificada para iniciar um diálogo com o poder público a fim do desenvolvimento de políticas públicas voltadas para essa população.

“O uso prejudicial de drogas deve ser resolvido pelo Sistema Único de Saúde e não pela segurança pública. Então, a partir disso podemos realizar essa ponte com o poder público na execução de políticas públicas”, ressalta.

O pesquisador em Segurança Pública, Aiala Colares, pontuou que aspectos aproximam e distanciam as duas cidades, dado que, Belém e Altamira passaram por processos de formação histórica diferenciados, que apresentam problemas de violências. Ele analisa que a capital paraense, por exemplo, conviveu com uma série de desigualdades sociais que culminaram na periferização e modalidades criminais.

“Já em Altamira, o crescimento populacional e a expansão urbana acabaram não sendo acompanhadas de uma política efetiva de planejamento e, automaticamente, acabou se transformando em ações de desigualdade, miséria, pobreza e violência mais intensas”, diz.

Para o coordenador do Instituto Fogo Cruzado Pará, Eryck Batalha, só dá para construir políticas públicas a partir de dados de qualidade e que envolvam diretamente as pessoas que sofrem essas violências. Sendo assim, o relatório lançado permite olhar para o problema com profundidade.

“Então, acho que é um trabalho muito importante para que possamos pensar coletivamente, que a Iniciativa possa abrir esses dados para todo mundo, para a sociedade civil, e consigamos pensar coletivamente e transversalmente na solução desses problemas”, destaca.