A frota de motocicletas no Estado do Pará é 60% maior que a frota de automóveis. Segundo dados do Detran, são 1.247.714 motocicletas circulando em todo o Estado contra 770.805 carros. E a quantidade de veículos de duas rodas não para de crescer nas ruas, avenidas e estradas paraenses: em 2022 eram 1.056.590 unidades, um aumento na ordem de 18,09%, nos últimos 3 anos.
E os números do Pará andam na mesma direção dos números nacionais: circulam hoje pelo país 34,2 milhões de motos, número 10 vezes maior que veículos de passeio de acordo com o Ministério dos Transportes. Esses veículos de duas rodas representam 28% da frota nacional. Andar e trabalhar de moto virou uma realidade econômica e social no Brasil e mais da metade dos proprietários (53,6%) usam esses veículos para trabalhar segundo dados do Datasus e da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), gerando uma enorme cadeia produtiva em torno da atividade
Trabalhar como motoboy, entregador e mototaxista exigem rapidez e pressa, o que acaba tornando a atividade bastante arriscada, gerando uma enorme quantidade de trabalhadores acidentados e mutilados por todo o país. Só no ano de 2024, as internações envolvendo motociclistas custaram mais de R$ 257 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). Estimativas dão conta que os tratamentos de vítimas de acidentes com motos podem custar até R$ 60 mil mensais ao SUS por pessoa.
Levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) mostra que em 71% dos municípios brasileiros os acidentes de trânsito matam mais do que as armas de fogo, sendo que mais de 60% dessas ocorrências envolvem pessoas em cima de motos, cujo risco de morte é 17 vezes maior do que se as vítimas estivessem no interior de um veículo de quatro rodas. A maioria das vítimas é jovem e está na faixa etária de 20 a 39 anos de acordo com a associação e que, quando não vão a óbito, passam a ter que conviver com lesões graves e permanentes pelo resto da vida.
Ainda de acordo com o DataSus, cerca de 165 mil motociclistas deram entrada em hospitais da rede pública por todo o país. Em média, 7 deles morrem, por dia, no trânsito. De janeiro a março deste ano, os óbitos causados por acidente de motos chegaram a 679 em todo o Brasil. Os números chamam a atenção e autoridades e especialistas que questionam como evitar mais acidentes e o que fazer para preveni-los, tornando a vida de quem usa moto e de pedestres mais segura.
Estatísticas de acidentes
A Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informou que, de janeiro a abril de 2025, o Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE) registrou 87 óbitos de pessoas envolvidas em acidentes no trânsito. Desse total, 60 foram de pessoas envolvidas em acidentes com carros, sendo 40 por colisões e 20 por atropelamentos, enquanto 24 foram de motociclistas. Os demais três casos correspondem a outros tipos de acidentes. Em todo o ano de 2024 foram 93 os óbitos causados por acidentes envolvendo motocicletas.
Ainda segundo o Detran, em 2024, foram registrados 27.667 acidentes envolvendo automóveis e 16.369 envolvendo motocicletas. Os dados de acidentes em 2025 estão sendo contabilizados pelo departamento. O Detran realizou de janeiro até maio deste ano, 8.032 operações de fiscalização e removeu para o parque de retenção 5.464 veículos.
O HMUE não faz mensuração específica das causas de óbito por ano. No entanto, o ortopedista Eric Teixeira destaca que os acidentes de trânsito frequentemente resultam em lesões graves, como esmagamento de membros, fraturas pélvicas e lesões internas associadas. As fraturas pélvicas, por exemplo, preocupam devido à proximidade com órgãos vitais, como bexiga e intestinos, e ao risco elevado de hemorragias.
O hospital realiza, anualmente, campanhas voltadas para a conscientização e prevenção de acidentes de trânsito. As ações incluem palestras, dinâmicas e simulações, envolvendo pacientes, acompanhantes e colaboradores.
Fatores que influenciam o uso de motocicletas
Rafael Cristo, especialista em trânsito, avalia que o crescimento da frota de motocicletas no Brasil está ligado diretamente a três fatores. O primeiro deles é de ordem econômica, pois o valor de uma motocicleta em relação a outros modelos de veículos é bem mais barato e atraente para o motorista.
“Temos ainda a questão de ordem técnica, pois a qualidade do transporte público nos aspectos de segurança, confronto, higiene, acessibilidade, tarifas e tempo de deslocamento e, principalmente serviços, fez crescer o número de motos no Brasil como um todo. Aqui no Pará, apenas 10% dos 144 municípios paraenses possuem linha regular de transporte público e a motocicleta passa ser o principal meio de locomoção, fato que justiça as ocorrências crescentes de sinistros”, detalha.
O último dos fatores é o de ordem cultural. Cristo explica que no Brasil as motocicletas devem circular conforme o capítulo III do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que delimita as normas gerais de circulação e conduta e estabelece as regras básicas para o trânsito de Veículos e pessoas nas vias públicas, regulamentando a circulação, a conduta dos condutores e os deveres dos usuários do trânsito.
“Porém, culturalmente, andar de motocicleta é bem mais rápido e ágil e elas circulam acima da linha divisória, colocando-se no ponto cego e a legislação é clara: e circulação deve se dar pelo lado direito da via e não na linha divisória e isso quase nunca e respeitado, o que acaba contribuindo para a ocorrência dos acidentes”, explica. Ele recomenda a implantação em cidades grandes como Belém da chamada “Faixa Azul”, que em São Paulo reduziu significativamente o número de sinistros.