Carol Menezes
Presente em diversos setores do mundo, não restam dúvidas: não há possibilidade de futuro sem que a Bioeconomia exerça um papel central na vida do planeta. Mesmo assim, o Pará é o único estado do Brasil a ter um plano voltado exclusivamente ao tema. No processo de elaboração, que levou mais de cinco meses, o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio), criado pelo governo estadual e lançado em outubro de 2022, teve a escuta ativa dos povos da floresta, iniciativas privadas e públicas e do terceiro setor.
A iniciativa conta com um grupo de trabalho multisetorial com 41 integrantes, entre representantes do poder público, terceiro setor, instituições de pesquisa, instituições de ensino, iniciativa privada, povos indígenas, quilombolas e extrativistas com a responsabilidade de projetar e supervisionar um processo de diálogo ampliado que levou à criação do Plano.
“Pode-se dizer que a virada de chave que define a Bioeconomia como ator essencial para a construção de uma nova sociedade global ocorre quando os governos dos países, por meio dos encontros e acordos multilaterais, percebem que o planeta necessita de mudanças profundas que levem à redução dos efeitos negativos da dependência de combustíveis fósseis, tais como o aumento acelerado do efeito estufa e as mudanças climáticas. Passa a haver um estímulo cada vez maior a práticas e comportamentos mais sustentáveis em todos os aspectos da vida humana. É quando termos como ‘ambientalmente correto’, ‘valorização de resíduos/reciclagem’ e ‘economia circular’ tornam-se cada vez mais difundidos e ajudam a compor parte do que conhecemos como Bioeconomia”, resume o doutor em Físico-Química pela Universidade Federal do Pará, Luis Adriano do Nascimento, atualmente integrante do Instituto de Ciências Biológicas (ICBio-UFPA).
CRESCIMENTO
Desde 2016, é ainda vice-coordenador do Laboratório de Óleos da Amazônia, que funciona no Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá, onde se dedica a atividades de pesquisa e prestação de serviços, atendendo desde grandes empresas até cooperativas e associações de agricultores familiares.
Ele afirma que já é possível perceber um crescimento substancial na área de Bioeconomia, apesar de alguns setores com práticas convencionais já estabelecidas insistam em atuar de uma maneira que vise apenas o lucro, ou seja, sem se importar com possíveis danos ao meio ambiente e às pessoas.
“Há um movimento cada vez maior de adequação, de diversos ramos da economia, à Bioeconomia e seus preceitos. É importante destacar que essa adequação geralmente é induzida por novas políticas e/ou regulamentações desses setores, bem como por exigências dos próprios mercados consumidores, mas também não se pode ignorar que boa parte de empreendimentos/mercados gerados nesses novos tempos, já nasce alinhada com os conceitos da Bioeconomia. Em ambos os casos, nota-se que a preocupação com a preservação ambiental e o bem-estar de animais e pessoas torna-se uma variável cada vez mais relevante para a seleção de produtos e serviços por parte dos consumidores”, avalia o pesquisador.
Entusiasta da nova vocação econômica, o governador Helder Barbalho (MDB) tem participado até mesmo fora do país – foi o caso da 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP 27) em novembro passado no Egito, e do Fórum Social Mundial na Suíça, no início deste ano – de discussões sobre o tema, sendo recebido por líderes mundiais e citado como exemplo por especialistas em mudanças climáticas do país por difundir a temática como essencial para a existência qualitativa da Amazônia e seus povos.
“O objetivo é alavancar cada vez mais a nossa região para o protagonismo na compatibilidade e conciliação do desenvolvimento sustentável com o social. Tudo isso para que possamos fortalecer a biodiversidade e todas as oportunidades advindas da floresta em pé, com a sua oportunidade de Bioeconomia, transformando floresta em commodity e, consequentemente, em um novo ativo econômico de geração de emprego e renda”, reforçou o governador em janeiro, ao assumir a presidência do Consórcio Amazônia Legal.
Mudança não tem como ocorrer sem pesquisa
O Pará tem um potencial imenso para ser um dos lugares mais beneficiados com a implementação crescente da Bioeconomia nos mais diversos mercados. Para além das potencialidades naturais de muito valor – minérios, geração de energia hidrelétrica e o extrativismo -, parte da riqueza gerada não alcança a maior parte da população e exclui o fator preocupação/cuidado adequado com o meio ambiente.
“Nesse sentido, as universidades e seus pesquisadores têm uma atuação fundamental e grande potencial para que a Ciência ajude a resolver problemas e desenvolver novos produtos e processos alinhados à Bioeconomia, mas que, infelizmente, ainda carecem de recursos financeiros para sua execução. Como exemplo, mesmo com pouquíssimos recursos, em pesquisas realizadas em nosso grupo, o conhecimento científico tem ajudado a melhorar os produtos e aproveitar os resíduos de cooperativas e comunidades de pequenos agricultores que trabalham com a extração de óleos e gorduras vegetais de forma a gerar emprego e distribuir renda, respeitando os povos tradicionais, os ribeirinhos, entre outros, mas mantendo a floresta em pé”, destaca Luis Adriano.
INCENTIVO
Mais um detalhe: o atual incentivo dado a esse modelo de produção por parte do governo estadual já é destaque no âmbito nacional e internacional, segundo o doutor em Físico-Química. O mundo olha para a Amazônia atentamente, o que cria a perspectiva de gerar produtos na Amazônia envolvendo os ribeirinhos, os povos tradicionais e todos aqueles que vivem na floresta, aproveitando economicamente as mais diversas riquezas naturais e, ao mesmo tempo, incentivando a população a preservar o meio ambiente.
“Tudo isso fará que os mercados internacionais tenham cada vez mais interesse em interagir e demandar por produtos com certificações que envolvam Bioeconomia e Amazônia, elevando mais e mais a visibilidade do Pará no Brasil e no Mundo. Se os direcionamentos e as linhas de ação dos próximos governos forem como as atuais, consigo ver um Pará bem melhor para os próximos dez anos”.