Carol Menezes
Falta menos de um ano para as eleições municipais de 2024 e os nomes de possíveis pré-candidatos começaram a surgir há alguns meses – só para a prefeitura de Belém foram cogitados pelo menos sete, mas nenhum deles com preferência de uma grande maioria. Pelo menos neste momento, o que se pode entender é que novamente teremos um processo eleitoral bastante disputado.
Para o professor e cientista político Márcio Ponte, a questão precisa ser vista pelo prisma de que essa pulverização de candidaturas beneficia, via de regra, quem está no exercício do mandato, no caso o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOl), e que deve buscar a reeleição. “Dividir enfraquece, ensina Maquiavel, e uma oposição dividida numa disputa acirrada como se apresenta o cenário para 2024, certamente ajuda o atual prefeito”, justifica.
Apesar de ter sido derrotado nas eleições gerais para presidente da República no ano passado, Jair Bolsonaro (PL) e o bolsonarismo seguem fortes, no entendimento de Márcio, e com certeza terão peso no pleito de 2024. “Bolsonaro perdeu a eleição, mas o bolsonarismo está vivíssimo, como a direita como um todo. À medida que a eleição se aproxima, os principais atores se movimentam”, antecipa.
O cientista político afirma que Edmilson, se quiser tentar a renovação do mandato, terá de fazer um freio de arrumação e conter o desgaste de uma rejeição – um estudo divulgado pela Paraná Pesquisas esta semana aponta desaprovação da atual administração de Belém por mais de 71% dos entrevistados. Ele vê o MDB com mais de uma candidatura competitiva.
Everaldo Eguchi (PL) também é uma opção da direita, segundo Ponte, lembrando que ele foi o outsider das eleições de 2020 que por muito pouco não venceu as eleições para prefeito de Belém contando com a força da onda bolsonarista à época.
“O PSDB, meio que desarticulado, vê no deputado estadual Thiago Araújo (Cidadania) uma candidatura competitiva. O atual secretário Estratégico de Cidadania, Igor Normando (Podemos) é outro forte candidato do campo do governador Helder Barbalho (MDB). Porém, Edmilson é o favorito, como aponta a literatura e a experiência da fórmula da reeleição. Mais que uma polarização, a conjuntura aponta para uma competição mais fragmentada, pelo menos a um ano da eleição”, analisa.
Com relação a Helder, disputado também deverá ser o seu apoio, visto que ele já é o principal cabo eleitoral das eleições municipais – o mesmo levantamento da Paraná Pesquisa revela que mais de 77% dos ouvidos aprovam seu segundo mandato até agora, o que lhe coloca automaticamente como o maior avalista do pleito de 2024. Como já ocorreu em outros processos eleitorais, Márcio Ponte não acredita que o governador se fechará em apenas um nome.
“Seu apoio pode definir a eleição, mas sendo republicano como é, Helder não impedirá candidaturas e mesmo pode selar apoio a mais de um candidato, ainda que indiretamente quando não intervém para vetar competidores. Entretanto, as pesquisas eleitorais devem definir a escolha de Helder”, sugere.
O cientista político vê nos altos índices de rejeição da atual administração da capital paraense também uma prova dos grandes desafios inerentes à gestão de uma cidade como Belém. Ele também vê na realização da Conferência das Partes em 2025, a COP 30, uma grande janela de oportunidades para a cidade passar por melhorias significativas.
“Com investimentos maciços em todas as áreas, principalmente as ligadas à infraestrutura, Belém pode sair da lama (literalmente) e dos alagamentos e demais demandas caóticas. Então eu penso que vencerá a eleição o(a) candidato (a) de projeto exequível, e a população hoje tem mais a percepção da má administração de Edmilson do que os projetos dos futuros candidatos, ainda que clame dia a dia por soluções para os graves problemas da cidade. Portanto, nada decidido ainda”, pondera.
Apesar da rejeição, Ponte classifica como “totalmente viável” uma tentativa de reeleição de Edmilson.
“E ele é o dono do cofre e da máquina administrativa. Se trabalhar direito o tema da COP (não vi quem mais entende do assunto no projeto da prefeitura) e fizer um freio de arrumação no secretariado, pode sim se reeleger. E é quem tem mais chance – mas não adianta ter uma Ferrari sem um bom piloto”, aponta.