Pryscila Soares
A chamada economia criativa gerou 123 mil novos postos de trabalho no País, a maioria formais, nos primeiros três meses de 2023, em comparação com o mesmo período do ano passado. O levantamento foi realizado pelo Observatório do Itaú Cultural e divulgado na última segunda-feira (10). Segundo o relatório, este aumento segue a tendência da economia como um todo, que registrou crescimento de 3% no número de postos de trabalho nos últimos 12 meses, encerrados em março.
Nas áreas pesquisadas pelo Itaú Cultural, o maior crescimento de vagas ocorreu no segmento de tecnologia, com a criação de 107 mil vagas. Ao todo, o setor das indústrias criativas emprega 7,2 milhões de pessoas.
De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), economia criativa é um termo que nomeia modelos de negócio ou gestão que se originam em atividades, produtos ou serviços desenvolvidos a partir do conhecimento, criatividade ou capital intelectual de indivíduos com vistas à geração de trabalho e renda.
O universo da economia criativa engloba segmentos como moda, atividades artesanais, editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.
FEITOS À MÃO
Jornalista de formação, a empreendedora Loli Furtado, 34, criou o projeto intitulado Beirando em 2017, com o intuito de fomentar a produção artesanal de artesãos locais. A ideia surgiu quando Loli começou a fazer um simples bazar para comercializar roupas. Mas, com a divulgação, ela começou a ser procurada por artesãos para formar parcerias e essas pessoas passaram a também ofertar produtos feitos à mão nos bazares.
A atividade foi crescendo, tornou-se itinerante e percorre diversos espaços da cidade, a exemplo da Estação das Docas. Loli, então, decidiu criar o projeto para que o trabalho fosse realizado de forma organizada. A empreendedora cuida da parte administrativa do negócio, juntamente com um sócio, para fomentar a comercialização dos produtos e a valorização do trabalho desses artesãos. Do projeto também surgiu uma loja física, há mais de um ano, onde a produção dos artesãos é exposta ao público em geral.
Inicialmente, a loja foi instalada em um ponto comercial na Avenida Magalhães Barata e há quase um ano passou a funcionar no espaço do café, dentro do Museu de Arte Sacra, no bairro da Cidade Velha. Ali os objetos são vistos e adquiridos não somente pela população local que visita o espaço, como pelos turistas.
“A gente sentiu a necessidade de os artesãos terem um espaço fixo para apresentar os seus produtos. Sozinho, seria difícil conseguir devido aos custos de uma loja. A ideia do colaborativo vem daí, que todo mundo se ajuda e a gente consegue apresentar e escoar esses produtos”, informa Loli. “Com exceção do artesanato indígena, que vem de várias localidades, todos os produtos expostos são produzidos por artesãos locais. Têm de Belém, de Joanes (Marajó), Santarém. É tudo feito à mão. A gente trabalha desde o design de joias até o artesanato com miçangas, cestaria, palhas, tudo voltado ao manual”, destaca.
JOALHERIA AUTORAL
Aos 30 anos, Yanne Alves, 30, investe em um modelo de negócios de economia criativa. Ela atua como designer de joias há pelo menos cinco anos e é ourives. Ou seja, além de desenhar as peças, que sobretudo valorizam a matéria-prima amazônica, ela produz as joias com acabamento em prata e ouro 18 quilates. A jovem conta que descobriu a paixão pela criação ainda na infância, quando começou a produzir peças de artesanato com materiais do cotidiano.
Ela formou-se em design de produtos, se especializou em designer de joias e fez o curso de ourivesaria com o mestre Francisco de Assis, que tem 40 anos de profissão. Além disso, Yanne foi a primeira estagiária de design do Polo Joalheiro, onde atuou como curadora por vários anos.
“Tinha um repertório extravagante desde a infância, de fazer peças que tinham um significado diferente. Isso foi um despertar para realmente decidir a minha profissão. Essa experiência no Polo me trouxe uma imersão muito grande no universo da joalheria autoral. Depois que saí do Polo decidi criar uma marca, que é o Arco de Memória. E decidi ser ourives porque quando você projeta uma joia tem de compreender como aquela joia será executada, como faz corte, dobra, solda”, comenta.
Nas suas produções, a designer busca inspiração nas histórias de vida dos seus clientes e procura sempre valorizar matérias-primas regionais como sementes e até osso de peixe. Para dar conta da demanda, ela conta com a parceria do mestre Assis e outros dois ourives.
“Nem imaginava que teria essa expansão porque eu era só projetista e avaliava as joias. Compreendi que a arte manual, que expressa a nossa cultura regional, foi uma forma de expressar meus sentimentos como artista. o arco de memória é que através das minhas memórias construídas, da minha cidade e de conversar, consigo projetar joias com significado. Tanto que faço muitas peças inspiradas na trajetória das pessoas”, informa.
Yanne ressalta que o mercado está ganhando cada vez mais visibilidade, já que os clientes têm valorizado o trabalho autoral e entendido o valor e significado que cada peça traz consigo. “Futuramente, pretendo ministrar cursos de ourivesaria, para isso ainda preciso adquirir o restante do maquinário necessário. Serão cursos de joalheria básica. O retorno financeiro não é imediato. É um investimento muito alto de maquinário, pedras e metal. E depois que consegue estabilizar a organização financeira, aí sim o retorno financeiro é interessante. Tem as joias conceituais e o ouro é o que dá um retorno maior. O investimento que faço é viajar para me inspirar e criar”, pontua.