Carol Menezes
De acordo com um levantamento feito pelo Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural, baseado na Pnad Contínua (IBGE), a economia criativa fechou o 3º trimestre de 2022 com cerca 7,8 milhões de trabalhadores alocados no segmento – um aumento de 9% em relação ao mesmo período do ano anterior. No intervalo foram criados 616 mil de postos de trabalho.
No Pará, a ampla modalidade que engloba artes, arquitetura, design, publicidade, moda e tecnologia da informação, entre outras atividades, apresentou crescimento de 11% entre o 3º trimestre de 2021 e o 3º trimestre de 2022, registrando 16.514 vagas no período e cerca de 164 mil pessoas empregadas.
Isabela Sales e designer e tem uma produção focada na sustentabilidade, com peças criadas a partir de pneus e câmaras de ar de pneus descartados. Nas mãos dela, o que iria para o lixo vira calçados, bolsas, cintos, carteiras e brincos, dentre outros acessórios. A ideia surgiu na faculdade de Design, quando pôde estudar o material e identificar seu potencial estético e funcional, assim como a viabilidade produtiva das peças.
“Não sei se entendem exatamente o significado de ‘economia criativa’, acredito que isso seja na verdade um neologismo para algo que sempre aconteceu; era assim que a economia girava antigamente, as pessoas compravam roupas ou adornos, ou artigos de decoração de seus vizinhos, amigos, com a costureira do bairro, enfim, de quem fazia! A industrialização que mudou um pouco as coisas, né?!”, avalia a profissional.
Isabela associa um novo momento de valorização desse tipo de criação com a necessidade que as pessoas ainda tem de se sentirem únicas, ou de consumir algo com os quais elas se identificam ou admiram.
“Existe todo um simbologismo de consumir de quem faz. No meu caso, vejo as pessoas se identificando muito não só com os objetos que produzimos aqui no ateliê, mas também comigo e com toda a história por trás dessa produção. Muitas vezes compartilho meus anseios e meus desafios, e percebo que isso gera muita proximidade com a galera, acho que há um interesse real pela troca humana”, relata.
Estímulo do poder público faz a diferença
Para a designer, iniciativas como o Preamar da Criatividade, idealizado pela Secretaria de Estado de Cultura (Secult), e que uma vez por mês promove encontro entre quem produz e quem consome sempre em um local diferente da cidade, fortalece e valoriza a identidade dessa produção local.
“Sou fortemente regionalista e a cada dia que passa percebo mais ainda a importância de se ter identidade e cultivar suas raizes. O mundo todo está com os olhos voltados pra Amazônia e acho isso perigoso mas também muito potencial, tenho receio que a história da cultura de exploração se repita, ou só se intensifique”, preocupa-se. “Felizmente nosso relativo isolamento é o que ainda tem nos garantido tantas particularidade, é importante que a gente perceba isso e se aproprie da própria narrativa”, reforça Isabela.
Como a economia criativa gera produtos com valor agregado, que vão do início ao fim da cadeia, ela conta não querer apenas vender commodities ou replicar objetos de uma moda importada. O caminho que Isabela quer é o de inventar algo que se relacione com sua própria cultura, contar histórias pelos objetos, trocar conhecimentos e trazer dinheiro para a região.
“E é papel do estado incentivar tudo isso, economia criativa é um potencial vetor de desenvolvimento socioeconômico, ter esse apoio é fundamental, pois concorrer com a indústria não é nada fácil! Acredito e espero que aumente essa procura, tenho percebido considerável movimentação nesse sentido, tanto da iniciativa públicas quanto privadas, são várias oportunidades surgido na área criativa”, celebra a artista.
Quanto mais apoio, melhor
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas também atua no fomento à economia criativa. De acordo com o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, a atuação do ente é focado no atendimento às demandas específicas de cada empreendedor, de diversos segmentos da economia criativa, por meio de práticas de gestão do negócio, de acordo com a necessidade e maturidade individuais.
“Também realizamos eventos voltados, principalmente, para geração de negócios, como a Feira de Artesanato do Círio, e apoiamos a realização ou participação em outros eventos estaduais e nacionais, pois entendemos que é preciso ir além da capacitação técnica e gerencial, sendo necessário criar oportunidades de negócios”, detalha o gestor.
Rubens afirma que o Sebrae Pará presta apoio a empreendedores de variadas áreas de forma individualizada e de acordo com a necessidade de cada um. “Em 2022, foram atendidos empreendedores de 45 municípios paraenses, com destaque às ações voltadas para os segmentos de produção cultural e de artesanato”, informa.
Não há um estudo específico sobre os empreendedores da economia criativa que aponte esses dados. De modo geral, o Atlas dos Pequenos Negócios, lançado nacionalmente em 2022 pelo Sebrae, aponta que 78% dos donos de pequenos negócios no Pará são negros, 32% são mulheres e mais de 60% deles têm idade inferior a 34 anos.
Secult criou oportunidade de encontro mensal de produtores com o público
Realizado sempre no primeiro domingo de cada mês na Praça das Fontes da Casa das Onze Janelas, o Preamar da Criatividade reúne 12 empreendedores do artesanato, design e moda, além de música autoral instrumental e gastronomia.
Produtora e curadora da ação, Lorena Furtado relata que a cada edição existe uma curadoria rotativa dos fazedores de arte e cultura através do mapa cultural.
“Vejo que o público começou a entender a importância da economia criativa, já consegue perceber que toda peça produzida por um artesão local não tem apenas beleza e qualidade, mas também tem significado e sentimento dedicado ali. Já conseguimos sentir que o consumo da cultura local aumentou bastante nos mais diversos setores, dou como exemplo o próprio Preamar, que já está na rota de atividades de muitas pessoas, que vão pra vivenciar aquele espaço e as manualidades feitas na amazônia”, comemora Lorena.
Ela defende a realização desse tipo de evento por iniciativa do governo do estado por meio das secretarias como uma forma de desenvolvimento setorial e econômico. “Os fazedores precisam de espaços como esse para apresentarem os seus trabalhos com estrutura, logística e segurança”, justifica.
São grandes as chances de que aumente o número de empreendedores da economia criativa no estado muito em breve. “Nunca se falou tanto nessa modalidade como se fala hoje em dia. No primeiro mandato o atual governo do estado, por meio da Secult principalmente, atuou de forma significativa nesse setor e vejo com otimismo mais quatro de anos de avanço na área”, finaliza a curadora.