Alexandre Nascimento
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré agora é Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Pará. O governador Helder Barbalho sancionou hoje a Lei nº 654/2023, de autoria do deputado estadual Chicão (MDB), presidente da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).
O reconhecimento do Círio de Nazaré como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial é um reconhecimento oficial do valor inestimável desta tradição para a cultura e história do Pará, considerada a maior manifestação católica do mundo. Além disso, o título ressalta a importância de preservar e celebrar as riquezas culturais como identidade, sobretudo dos cristãos católicos.
“Aprovar a Lei que declara o Círio de Nossa Senhora de Nazaré Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Pará é legitimar essa manifestação de fé do povo paraense perante a lei. O Círio carrega uma série de simbolismos culturais de Belém e do Estado, além de ser um impulsionador da economia e do turismo. Então a minha proposição nada mais é do que conferir o mérito devido ao nosso Círio de Nazaré”, disse o deputado Chicão, autor da Lei.
De maneira prática, os eventos que envolvem o período da festividade indicam o motivo do reconhecimento estadual. São 14 procissões por terra e pelas águas da Baía do Guajará com o Círio Fluvial, que somadas totalizam mais 7 milhões de devotos, sobretudo a principal procissão no segundo domingo de outubro que reúne mais de 2 milhões de fiéis pelas ruas por onde passa a imagem peregrina.
Ainda de acordo com a Lei, o reconhecimento como Patrimônio Imaterial do Pará também está relacionado com os fatores econômicos, uma vez que impulsiona a economia por meio do turismo religioso. Fator confirmado pela Secretaria de Estado de Turismo (Setur), que estima que durante a festa nazarena Belém recebe cerca de 80,5 mil pessoas, o que gera aproximadamente U$ 30,6 milhões ou R$ 150 milhões.
Na realidade, o Círio já havia sido reconhecido como Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) desde 2013 e, como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2004, que de fato mostram e reforçam o valor inestimável da maior procissão católica do Brasil e talvez do mundo, que é genuinamente paraense.
Mas, independentemente da sanção, para os devotos a maior motivação para o Círio ser considerado patrimônio é por meio da fé e devoção representadas nas procissões em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré. “O Círio mexe com a nossa fé, inclusive de pessoas de outras religiões. Temos a maior manifestação de fé católica do mundo, então, demorou esse reconhecimento. Mas, a demora foi para a lei do homem, não pela lei divina”, disse Almerindo Lamarão, 67 anos, servidor público.
“A fé e a devoção demonstradas no Círio é a maior comprovação de que o Círio é um patrimônio. Para mim, por exemplo, que dos meus 63 anos de vida já participei de 51 Círios e, destes, 19 vezes pagando promessa na corda. Já estou ansiosa para o Círio deste ano, e novamente estarei manifestando minha fé, porque para mim o Círio é um patrimônio pessoal”, completou Socorro Passos, 63 anos, técnica de enfermagem.
Esse reconhecimento é feito até por pessoas de outras cidades, uma vez que a religiosidade do Círio não se limita a Belém. “Somos de Santarém, mas manifestamos nossa fé pelo Círio de Nazaré, que reúne pessoas de todo o Pará, do resto do Brasil e até de outros países”, concluiu o casal de professores Jeferson Almeida, 44 anos, e Joyce Oliveira, 42 anos.