Resultado da revitalização de uma área de 40 mil metros quadrados, o Parque Zoobotânico Mangal das Garças é um dos espaços de concentração de área verde que compõem a paisagem de Belém. Mais do que isso, o espaço presta um importante serviço ambiental para a cidade, ajudando a regular o clima, a promover a conservação de espécies da fauna e flora, além de promover a educação ambiental e a divulgação científica.
Às margens do Rio Guamá, o local abriga diferentes espécies de árvores originais que foram preservadas, além de um aningal que funciona como um filtro natural capaz de absorver quantidades consideráveis de minerais presentes no solo. Toda essa natureza preservada contribui com a salvaguarda e reprodução de diferentes espécies de animais de vida livre, que conseguem passear pela cidade e encontrar no Mangal um ponto de apoio.
As próprias aves que dão nome ao parque zoobotânico, as garças, são um desses animais de vida livre que transitam pelo parque. Exatamente por isso, um detalhe importante em relação ao cuidado com as aves é observado: a alimentação delas é calculada pela equipe técnica para não atrapalhar os hábitos de caça e pesca dos animais. E todo esse cuidado pode ser acompanhado pela população que visita o parque, em ações de educação ambiental que ensinam através da prática.
“Diariamente nós temos várias atividades relacionadas com a educação ambiental. A gente vê elas também como uma divulgação científica de maneira informal porque, além da gente falar da importância desses animais para a natureza, sobre as interações que eles têm com o ambiente e sobre qual a necessidade deles para o equilíbrio da vida, inclusive, dos seres humanos, a gente ainda fala da biologia dessa espécie”, explica o biólogo do Mangal das Garças, Basílio Guerreiro. “Temos diariamente a alimentação de tartarugas e de peixes e, nesse momento, é falado quais são essas tartarugas, de onde elas vieram, que essas tartarugas todos os anos se reproduzem com mais de 200 filhotes lá no Parque e esses filhotes são encaminhados para a natureza através dos órgãos ambientais”.
Diariamente o parque também realiza a soltura das borboletas, momento em que uma pessoa da equipe explica aos visitantes por que as borboletas estão lá, como acontece o processo de reprodução, a importância biológica delas para o meio ambiente a partir da polinização e renovação das florestas, adubação do solo, alimentação para outros animais. Também todos os dias, há o momento de passeio com o tucano, com o araçari e com os gaviões e as corujas que são os rapinantes, que fazem a falcoaria. “Nessas horas, em todos esses momentos, um funcionário do parque ou um estagiário vai explicar as condições que esses animais chegaram ao parque e porque eles estão lá. Nós sempre deixamos muito claro que esses animais estão lá porque vieram de alguma situação desagradável, de uma apreensão, de contrabando, tráfico, maus tratos. Então, esses animais só ficam em posse dos zoológicos, se eles não tiverem condição alguma de voltar para a natureza”.
Após a reavaliação após a quarentena, os animais que chegam ao parque passam por um processo de reabilitação. Neste processo, os técnicos atuam para recuperar o animal, mas com o mínimo contato possível, principalmente se ele for um animal que já demonstra não aceitar bem o contato com humanos. O cuidado é necessário para buscar a reintegração do bicho ao meio ambiente após a recuperação. “Se ele tiver condições de retorno para a natureza, que é o nosso objetivo principal, entramos em contato com o órgão ambiental que fez a entrega para a gente para ele promover a soltura no local adequado. Então, deixamos sempre muito claro em toda a nossa programação de educação ambiental que os animais só ficam no zoológico se eles realmente não tiverem condições de voltar para a natureza”.
Os animais que não se encontram em condições de retornar ao habitat natural, como é o caso de três corujas que só tem um lado das asas e que vivem no Mangal das Garças, são acolhidos pelo parque e participam das ações de educação ambiental.
Como consequência, o veterinário aponta que, muitas vezes, o público não apenas entende a importância desses animais para o meio ambiente, como acabam se afeiçoando. Em alguns casos, inclusive, animais que são estigmatizados pelo senso comum como representantes de mau agouro, como é o caso de algumas espécies de corujas, passam a ter a sua importância reconhecida e desmistificada. “Algumas pessoas chegam com uma visão um pouco distorcida desses animais, então, quando elas têm o contato direto, começam a ver de outra forma. Inclusive, a gente observa que tem pessoas que vão uma vez e acabam virando habituais, quase todo final de semana estão por lá, e já criam uma certa afeição pelos animais que fazem a apresentação. Então, por exemplo, se eles vão um dia e não veem a Olívia já perguntam por que ela não saiu naquele dia, se ela está bem. Então, é muito gratificante ver a mudança de pensamento das pessoas após conhecer a biologia do animal”.