Pryscila Soares
Ao longo das décadas, o DIÁRIO DO PARÁ registrou os mais importantes fatos que marcaram a história da sociedade paraense. Mais do que noticiar os acontecimentos, o jornalismo permite entender as diversas transformações pelas quais as gerações vivenciam no decorrer do tempo. E a fotografia é um elemento fundamental para compor este acervo. Através das lentes das câmeras, o profissional desempenha o papel de captar detalhadamente cada momento.
Este é o trabalho que as equipes de reportagem, compostas pelos repórteres e fotojornalistas, realizam diariamente. Os profissionais estão nas ruas apurando informações, ouvindo fontes, cobrindo todos os tipos de eventos e, ao retornar à redação, começa o processo intelectual e criativo de reunir aquelas informações e selecionar as melhores imagens. É um passo a passo com o intuito de contextualizar e transmitir a informação da melhor forma possível para o leitor.
No jornal impresso, texto e imagem se complementam e permitem uma leitura e visualização mais completa da notícia. A fotografia, enquanto elemento visual, faz com que o leitor compreenda o contexto de cada história contada. Além de possibilitar interpretações variadas de uma única situação, a partir da visão de quem observa a imagem.
BANCO DE IMAGENS
Dentre os inúmeros fatos históricos, o banco de imagens do DIÁRIO guarda, por exemplo, a foto da primeira edição do jornal, datada em 22 de agosto de 1982, que trouxe uma manchete sobre eleições, com o título “Presidente do TRE exige eleição limpa”. O arquivo também concentra conquistas no esporte dos principais times do Pará, Paysandu e Remo.
A capa da edição de 5 de agosto de 2002 retrata o título de Campeão dos Campeões, consagrado ao Paysandu, que garantiu ao time uma vaga para a Taça Libertadores da América do ano seguinte. Já a edição de 22 de novembro de 2005 mostrou a festa organizada pela torcida do Remo, quando o time conquistou o título nacional da Série C do Campeonato Brasileiro.
MARCANTE
Com vasta experiência nas áreas de fotojornalismo, fotografia publicitária e artística, o editor executivo de Fotografia do DIÁRIO, Octávio Cardoso, desenvolve a função há 14 anos no jornal e acompanhou de perto coberturas marcantes. Ele explica que o editor de Fotografia desempenha duas funções principais, que é pensar na foto que vai compor a matéria no dia seguinte e realizar a seleção final das fotos que serão armazenadas no banco de imagens.
E, para isso, o editor busca orientar os fotojornalistas. “Não basta pensar somente na edição do dia seguinte, mas na formação desse banco. A gente orienta os fotógrafos para não restringir o trabalho ao gancho da pauta. É importante ter essa noção de que ele precisa estar sempre atento para o que está acontecendo na frente dele. O fotógrafo faz uma pré-seleção das imagens numa primeira triagem e depois o editor faz a triagem definitiva”, pontua.
Dentre os acontecimentos que renderam fotos de capa, Octávio lembra da queda do Real Class, um prédio em construção, com 35 andares, que desabou na rua Três de Maio, em Belém, no início da tarde do dia 29 de janeiro de 2011. “É um típico caso em que a gente diz ‘parem as máquinas’, porque mudou totalmente a edição do jornal naquele dia e a própria cobertura. Morreram três pessoas e cobrimos o serviço de resgate 24h, com revezamento. Foi uma cobertura bem intensa”, recorda.
O editor cita ainda as diversas coberturas do Círio de Nazaré. O evento exige um árduo trabalho dos fotógrafos, devido à dimensão da procissão. Além disso, a pandemia da Covid-19 foi outro desafio vivido pelas equipes de reportagem e rendeu séries de imagens e capas ao jornal.
“Foi um momento histórico, desafiador e muito marcante. O mundo inteiro entra em quarentena, mas existem aquelas profissões que não têm esse privilégio, como os jornalistas de texto e imagem. Até nós, editores, podíamos trabalhar de casa. Mas fotógrafos e repórteres tinham que ficar na rua. É algo que não pode ser esquecido, lógico que seguindo os cuidados. Mas sempre há risco, era uma situação diferente e complicada”, destaca.
Momentos marcantes registrados na memória
Ainda na adolescência, o fotojornalista Wagner Almeida, 41, descobriu a paixão pela fotografia. Mais tarde, com o incentivo de quem ele chama de mentor – o fotógrafo Everaldo Nascimento –, ele passou a nutrir o desejo de ingressar no fotojornalismo. E assim aconteceu. O DIÁRIO abriu portas ao profissional, que já soma 14 anos de carreira no veículo. Foi na editoria de polícia, onde Wagner atuou por muitos anos, que ele ganhou autoridade no segmento. Foram várias coberturas que renderam premiações ao profissional.
Paciente José Silva Duarte, 59 anos. Foto; Wagner Almeida/Diário do Pará
“Consegui estabelecer uma autoridade dentro do jornal por causa das exposições que já participei, premiações que ganhei e agora sou finalista no prêmio Sebrae, na categoria Fotojornalismo, com cerimônia marcada para o dia 24 de agosto. A gente entra se inspirando nos fotógrafos que estão dentro e depois passa a inspirar outras pessoas. Isso é muito gratificante”, conta.
Algumas coberturas permanecem na memória do fotógrafo. “O esquartejado do Hotel Colonial foi uma das mais marcantes para mim. Teve também uma chacina de sete adolescentes, em Santa Izabel. Foi muito tenso e, inclusive, recentemente foram julgadas algumas pessoas envolvidas no crime. Repercutiu. Lembro ainda da história de dois assaltantes que invadiram um hotel com um carro e ficaram presos no terraço, na BR-316”, diz. “A dica que deixo é que a pessoa não pare de ler, veja o trabalho de outros fotógrafos, uma revista impressa, uma matéria e converse com outros fotógrafos. Eles sempre vão ter alguma coisa para ensinar”, declara.
SONHO
Natural do Maranhão, o fotojornalista Celso Rodrigues, 55, realizou um sonho quando conseguiu uma vaga no DIÁRIO, há 14 anos. Ele aprendeu o ofício com o pai, ainda na infância, mas foi no jornal que construiu a sua carreira como fotógrafo. “Passava aqui pela frente e dizia: ‘um dia vou trabalhar nessa empresa’. Comecei no caderno Polícia. Atuei por cerca de 10 anos no caderno”, lembra.
Das várias reportagens, Celso destaca algumas que dificilmente vai esquecer. “Teve um assalto na Cidade Nova, onde o refém era um menino, que olhou para mim, sorriu e fez um sinal de positivo, na inocência dele. Parecia que não estava assimilando o perigo”. Outro caso foi do rapto de um bebê, que felizmente teve um desfecho positivo. A mãe da criança estava em um posto de saúde, com o recém-nascido, e uma menina de 5 anos. A sequestradora fez amizade com a mãe e, numa oportunidade, fugiu com o menino do local.
“Foi um rebuliço na delegacia de Icoaraci e, às 20h, o bebê estava de volta ao colo da mãe. A raptora teve gravidez psicológica e, para não contar para o marido, resolveu roubar a criança. Através de denúncias, a polícia conseguiu pegar a mulher. Todos choraram no momento da entrega da criança”, relata.