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Diálogos Amazônicos reúnem 27 mil participantes em Belém

A formalização de um parlamento com membros de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela avançou durante a Cúpula da Amazônia.
Foto Marco Santos/Agência Para
A formalização de um parlamento com membros de Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela avançou durante a Cúpula da Amazônia. Foto Marco Santos/Agência Para

Carol Menezes

Após três dias de programação, os Diálogos Amazônicos foram concluídos sob a seguinte máxima: é preciso ouvir a ciência, proteger os povos e evitar o ponto de não-retorno das florestas. O Hangar Convenções e Feiras da Amazônia recebeu cerca de 27 mil participantes inscritos entre sexta-feira (4) e domingo (6) e as conclusões desses encontros serão apresentadas na Cúpula da Amazônia, que começa na terça, dia 8, e vai até a quarta-feira, dia 9.

A organização do evento esperava algo em torno de quatro mil inscritos, expectativa superada em torno de 700%. O último dia de atividades iniciou com uma plenária sobre “Mudança do clima, agroecologia e as sociobioeconomias” que, dentre os que tiverem vez de fala estava a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

“Existe uma vantagem e desvantagem em fechar um conjunto de falas como essa: a desvantagem é porque o repertório, o compromisso, a competência, o conhecimento dos que te antecedem vão, de certa forma, esvaziando, no bom sentido, o seu discurso. E a vantagem é ser suportada que você nem pensou em dizer mas que foram ditas e que foram muito interessantes”, declarou ela.

A seguir, ela falou sobre a necessidade de se ter consciência do significado de toda a programação dos Diálogos Amazônicos. “Foram 14 anos sem convocação da cúpula dos países do tratado de cooperação amazônica. Era fundamental que nesse momento de mudança do clima, perda de biodiversidade e grandes desafios para os países amazônicos que a Amazônia se juntasse pelo seu povo e seus governos para fazer todos esses enfrentamentos”, reforçou.

Já a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, anunciou a criação do IPCC da Amazônia, que reunirá informações científicas sobre clima e biodiversidade. Inspirada no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, a iniciativa terá a participação de especialistas e pesquisadores para a consolidação das evidências científicas relacionadas à Amazônia.

O governador Helder Barbalho (MDB) participou de diferentes atividades nos três dias de evento, e falou sobre as expectativas de que os Diálogos Amazônicos resultem em propostas fortes que sinalizem ao planeta a responsabilidade ambiental da região ao tempo em que faz o chamamento para soluções que, de forma responsável, cuidem das pessoas.

“A Amazônia é protagonista das soluções da agenda climática e das urgências climáticas. Compreendo que estamos vivendo um divisor de águas em que a região assume o protagonismo fazendo um chamamento às populações locais e ao mundo para que todos enxerguem a Amazônia sob o olhar da floresta mas também convocando a todos para as soluções que garantam com que a sustentabilidade ambiental esteja de mãos dadas com a sustentabilidade social”, explicou.

BIOECONOMIA

O chefe do Executivo estadual apontou ainda a implementação do Plano de Bioeconomia do Pará, iniciativa pioneira no país, durante o evento “Diálogos sobre Bioeconomia Amazônica e Transformação Rural Inclusiva”, realizado neste domingo, 6.

“Durante um ano, fizemos diversas audiências públicas, um chamamento dos envolvidos e mapeamos 43 tipos de produtos que dialogam diretamente de forma sustentável com a floresta. Estes 43 tipos de produtos permitiram a projeção de alavancagem de 120 bilhões de dólares em negócios para a exportação produzidos pela floresta tropical do Pará que, claramente, se apresentam como nova vocação econômica e social para a nossa região, uma vocação que é central para a geração de empregos verdes e iniciativas que dialoguem com a oportunidade de ter uma floresta viva e preservada, mas não às custas do sofrimento das comunidades tradicionais”, detalhou o governador.

O ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), também participou do último dia dos Diálogos Amazônicos na atividade referente ao 7º Congresso Estadual dos Movimentos Populares (CMP). À ocasião, ele anunciou que começa nesta segunda-feira, 8, o cadastramento para o Minha Casa, Minha Vida Entidades, que deve resultar na construção de 28 mil unidades urbanas e 30 mil rurais.

Anielle Franco anuncia comitê de enfrentamento ao racismo ambiental

Agência Brasil

O que muda a vida das pessoas são políticas públicas bem construídas, compromissadas e com financiamento adequado, afirmou a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ao participar ontem (6) da plenária “Amazônias Negras: Racismo Ambiental, Povos e Comunidades Tradicionais”, dentro da programação dos Diálogos Amazônicos. “As políticas que estamos construindo precisam ser efetivas para fazer a diferença na vida das pessoas”.

Dentro da construção de políticas voltadas ao povo amazônico, Anielle Franco citou pacto firmado com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, para a criação do Comitê de Monitoramento da Amazônia Negra e Enfrentamento ao Racismo Ambiental.

Com o governo do Pará, foi assinado acordo de cooperação técnica para medidas emergenciais de mitigações graves, questões socioambientais enfrentadas pela população do arquipélago de Marajó, além de parceria com a Secretaria de Igualdade Racial e Direitos Humanos do Pará para criação de políticas públicas na temática.

Dados do Censo 2022, divulgados recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que 32,1% dos residentes da Amazônia Legal são quilombolas, descendentes de africanos.

A ministra defendeu ainda a demarcação de terras indígenas e a titulação de territórios quilombolas. “É preservar a Amazônia. Isso é salvar o mundo. A gente não tem mais tempo a perder. A gente quer celebrar as mulheres e jovens negros em vida, quer salvar os nossos territórios, quer defender o nosso sagrado em vida”.

Anielle Franco destacou que o evento Diálogos Amazônicos é momento de construção de políticas públicas para a população mais vulnerabilizada e apagada dos processos de decisão. “É ainda um momento de denúncia e de alerta para que a Amazônia não seja vista somente como pulmão do mundo, mas como a morada de pessoas indígenas, negras, quilombolas, dos povos de terreiro e comunidades tradicionais que vivenciam desigualdades e violências cotidianas”, disse, ao defender que o combate ao racismo ambiental tenha prioridade nos debates da Cúpula da Amazônia, que irá reunir chefes de Estado dos países amazônicos.