Quando ele próprio ainda exercia exclusivamente o papel de filho, Raimundo Aldemir Casanova Silva sonhava com o momento em que formaria a própria família. Hoje, aos 70 anos, pai e avô, o aposentado celebra o privilégio de vivenciar experiências da paternidade que só o convívio entre as diferentes gerações da família pode proporcionar.
Ao fazer um breve balanço das sete décadas de vida, Raimundo não titubeia em dizer que a melhor coisa que fez foi ter se casado e tido seus filhos. Pai de quatro filhos, um nascido quando ainda era solteiro e os outros três fruto do casamento de mais de 40 anos, hoje Raimundo pode vivenciar a realidade com que, um dia, sonhou. “Era o meu sonho. Quando eu era criança eu pensava em ter a minha casa, em ter os meus filhos e até imaginava como eles seriam”.
A experiência que ele próprio teve como filho foi marcada por desafios e o aposentado lembra que, ainda criança, quando sonhava com a própria família, pensava no que poderia fazer de diferente. “A minha vida foi muito difícil. O meu pai era um profissional carpinteiro, tinha dificuldade para manter cinco filhos, ele ganhava um salário mínimo na época, e nós passamos muita dificuldade”, lembra.
“Eu acho que até porque ele se aborrecia com toda essa situação, ele era um pouco ríspido. Então, a gente se criou, os irmãos, com essa dificuldade. E eu pensava que no dia que eu tivesse a minha família eu não queria ser assim. E a prova é que eu nunca bati em filho”.
Com os filhos já criados e formados, agora ele vivencia a experiência da paternidade através de outro papel, o de avô. “Eu adoro os meus netos. Eles praticamente conviveram aqui porque os pais iam trabalhar e deixavam aqui. Eu tenho de levar um para a escola, para as atividades. Às vezes eu me aborreço e digo que não vou fazer alguma coisa, mas é o mesmo que dizer que eu vou fazer porque, no final, eu acabo fazendo. É a minha maneira de ser”.
Um dos filhos de Raimundo, o professor Carlos Eduardo Lira Silva, 42, passou a entender de forma mais evidente algumas coisas que seu pai lhe dizia depois que ele próprio se tornou pai. “O papai sempre dizia pra mim uma coisa curiosa: ‘quando vocês nasceram vocês se tornaram as coisas mais importantes que eu tenho’ e a mesma sensação eu tenho em relação aos meus filhos. Acho que é uma ideia que nós, os filhos do meu pai, corroboramos. É uma experiência gratificante, única e eu não me arrependo em nada de tê-los”.
Pai da Alicia, de 15 anos, e do Samuel, de 12, Carlos Eduardo conta que a experiência da paternidade lhe proporcionou sentimentos únicos e que, por vezes, são até difíceis de ser mensurados. “A gente coloca duas crianças no mundo, que são nossos filhos, e nós os amamos acima de tudo. Os filhos estão em uma escala do incomparável, do incomensurável no nosso coração”, considera. “Claro que é uma escolha de vida e para mim chegou como algo difícil de comparar e de mensurar. Eu costumo falar que eles são o meu mundo inteiro porque, para mim, eles são o meu mundo mesmo”.
Mais do que vivenciar a alegria da paternidade, o professor celebra o privilégio de poder ver as diferentes gerações da família trocarem experiências. Além do avô, os filhos de Carlos Eduardo também puderam conviver com o bisavô, lembranças que ficarão guardadas para sempre não apenas na sua memória, mas especialmente na de seus filhos.
“Os meus filhos tiveram a oportunidade de conviver, inclusive, com o bisavô deles por um bom tempo, ele faleceu há cinco anos. Então, era muito legal eles ouvirem as histórias do bisavô, ouvirem a história do avô, e histórias que eu conto às vezes que, na verdade, quem contava era meu pai. Então, acaba que as coisas atravessam, as histórias, as brincadeiras”.
Para além das histórias compartilhadas, Carlos Eduardo considera que esse convívio entre as gerações também evidencia como a paternidade foi se modificando ao longo dos anos, na sociedade, e como é possível aprender com as vivências de quem é pai há mais tempo do que ele próprio. “O papai sempre foi muito bom pai, a gente não tem do que reclamar dele, mas ele se tornou um pai melhor com o tempo. A gente aprende a ser um pai melhor com o tempo. E aquela ideia do pai que chega em casa do trabalho, só tinha aquele tempinho para nós, às vezes, e ele se sentava para conversar, estudar, deitar numa rede, ele sempre fez isso conosco”, lembra.
“Mas era uma coisa um pouco distante e com o tempo ele foi ficando mais ‘molenga’, mais carinhoso, mais sensível às coisas. E, de certo modo, por ter sentido essa transformação dele ao longo do tempo, eu já chego com os meus filhos assim, mais carinhoso. O ‘eu te amo’ surge muito mais tranquilo para eles. Eu confesso que eu não lembro do papai dizer isso para mim, mas isso não quer dizer que ele não sente isso, existem muitas outras maneiras na vida de você dizer isso”.
Entre as maneiras encontradas por Raimundo por demonstrar o amor sentido pelos filhos, Carlos Eduardo não tem dúvidas de que todo o esforço feito para proporcionar aos filhos uma boa educação foi uma delas.
Hoje, o professor agradece não apenas pela formação que pode ter, mas também pela contribuição que, de alguma forma, o pai dá na formação dos netos, seus filhos. “As minhas conquistas profissionais como professor que fez mestrado, das minhas irmãs que todas têm graduação, têm como alicerce a história de vida dele que nos oportuniza isso. Então, os meus filhos poderem perceber que existe um trajeto de conquistas, vitórias e também derrotas nesse caminho, desde a geração do meu pai, passando por mim, pra chegar neles é uma coisa muito legal”, avalia.
“Eu não sei o que seria de mim sem, hoje, ele estar aqui. As atividades extracurriculares que os meus filhos fazem só são oportunizadas porque o meu pai se disponibiliza a levá-los. O meu pai é que é o meu braço direito nesse suporte de poder levar os meus filhos nos lugares porque, infelizmente, o tempo não permite a mim e a minha esposa fazer isso por conta do trabalho”.
Em meio à rotina de convivência com o pai Carlos Eduardo, o avô Raimundo e com as memórias da convivência com o bisavô ainda muito vivas, Samuel Silva também vai construindo o seu próprio caminho entendendo que ele começou a ser formado ainda antes dele nascer, pelas gerações que lhe antecederam.
“Realmente, a partir da história que meu pai e meu avô contam, eu fico contente de ter vivido com o meu bisavô, uma pessoa que eu sinto muita falta. Eles contam muitas histórias e tem uma que eu lembro até hoje que meu pai me contou”, lembra. “E eu acho que o meu pai também está nos dando oportunidades que ele não teve na vida. Hoje em dia eu faço tênis, natação e eu ainda quero fazer outros esportes. Eu toco violino também e o meu pai nos dá confiança”.
“Vivenciar essa graça de Deus tendo o meu pai por perto é muito gratificante“
O privilégio de poder acompanhar a construção de uma relação tão próxima entre o seu próprio filho e o seu pai tem sido vivenciada pelo empresário Pablo Ribeiro, 29 anos, nos últimos quarenta dias. Pai da pequena Celine, de 1 mês e dez dias de vida, Pablo está conhecendo os encantos da paternidade ao lado de uma das melhores companhias que poderia ter neste momento, a do próprio pai.
“Vivenciar essa graça de Deus tendo o meu pai por perto é muito gratificante. Era um sonho dele ter uma neta próxima dele. Eu também sonhava em ter um filho e ter ele próximo disso é muito benéfico. Os avós criam memórias afetivas com os netos, eu mesmo tenho memórias com os meus avós e é um privilégio que a Celine está tendo de ter avô e avó por perto”.
Pablo conta que Celine foi muito desejada e planejada por ele e a esposa. Como mais uma graça recebida pela família, ele conta que tudo ocorreu dentro do que o casal havia planejado, tudo no tempo certo. “Para mim tiveram dois marcos de quando eu descobri que iria ser pai. Um é que eu já queria ser pai, ela foi muito planejada e Deus nos abençoou com as datas. Eu fui muito impactado por ser pai dentro daquilo que a gente sonhava”, lembra.
“O segundo ponto foi quando, de fato, ela nasceu. Eu estudei junto com a minha esposa para auxiliar ela no parto, sobre como seria essa nova fase, sobre como dar o suporte para elas e passar tranquilidade na hora do parto, mas quando eu ouvi o choro da Celine aquilo me desmontou por inteiro. É algo mágico, a nossa vida muda. A gente se pergunta como viveu tanto tempo sem esse ser humano perto da gente”.
Quem também é só encantos pela nova integrante da família é o avô Edson Silva, de 64 anos. Pai de oito filhos e avô, agora, de três netos, o corretor de seguros não tem dúvidas de que a oportunidade de vivenciar a experiência da paternidade é uma bênção concedida por Deus. “Para mim é um privilégio ser avô e ter essa neta de um filho caçula. Deus nos concede esse privilégio. É uma experiência que eu vou começar a aprender porque experiência de pai, com vários filhos, a gente sempre vai aprendendo a cada dia”, considera Edson.
“Eu vou começar a conviver com esse privilégio de ser avô de perto agora. Meu neto de 18 anos mora no Rio de Janeiro e tenho pouco contato com ele. O outro é o Bernardo, neto de coração. Mas eu quero muito estar presente na vida da Celine. A primeira neta que eu vou conviver, estar junto, passear. É um privilégio e eu tenho que curtir esse momento”.
Edson foi pai pela primeira vez aos 21 anos de idade e lembra que também foi aprendendo com a experiência da paternidade a cada dia. Um ensinamento que ele também busca passar para os seus filhos. “O mundo requer uma responsabilidade de ser pai, tem que estender a mão, amar os seus filhos, entender os seus filhos. Os nossos filhos são herança do Senhor e a gente aqui na terra cuida deles. Sou privilegiado porque todos os meus filhos servem ao Senhor e servir não é fácil. Então, tem que amar, ter empatia, se colocar no lugar do filho e corrigir na hora de corrigir, não importa a idade deles”.