DIA DO ARTESÃO

Das mãos do artesão: Criando beleza e peças únicas

Hoje é comemorado o Dia do Artesão, profissional que, com criatividade e talento, transforma matérias-primas em belos produtos.

No Dia do Artesão, comemorado nesta quarta-feira, 19, é celebrado a arte de transformar matérias-primas em peças únicas que carregam cultura, tradição e identidade. O artesanato paraense, conhecido pela riqueza cultural e diversidade de técnicas, é um dos principais símbolos da identidade amazônica. Produzido a partir de materiais típicos da região, como palha, madeira, cerâmica e sementes, o trabalho artesanal reflete tradições indígenas, ribeirinhas e quilombolas que atravessam gerações. A data homenageia milhões de profissionais que vivem dessa expressão artística, que combina habilidade com criatividade.

A curiosidade pelo trabalho artesanal foi o que despertou em Carlos Mota, 61, a vontade de aprender algum ofício manual. Foi ainda criança que viu um desenho talhado em madeira e quis reproduzir o mesmo feito por conta própria. A influência da veia artística do avô, que produzia santos de barro para as procissões dos interiores do Estado, também foi essencial para a decisão de se tornar um artista. Foi se arriscando entre pedaços de madeira, instrumentos e muita criatividade que iniciou a carreira profissional como artesão.

“Eu cheguei a trabalhar algum tempo no mercado formal. Só que esse gosto pela arte falou mais alto. Trabalhei vinte anos como mecânico, mas nos meus momentos de folga eu nunca deixei de exercitar a minha arte. Um dia eu chutei o balde, larguei tudo e disse: ‘vou trabalhar naquilo que eu tenho prazer, que eu gosto, que eu me realizo”, relatou Carlos.

Sendo assim, há 45 anos o artista trabalha com quadros talhados em madeira e esculturas de fibra de coco, juntando arte com sustentabilidade através do material encontrado em quintais e praias. O processo de produção das esculturas demora dois dias e conta com sete etapas, que incluem a retirada da casca, o desenho, esculpimento, lixamento, acabamento e os retoques finais. Já os quadros são mais demorados, e levam cerca de uma semana para finalizar, devido à riqueza de detalhes.

“Esse trabalho que eu faço no coco é um trabalho reciclado que também é feito no nordeste com outra temática. Eu puxei para a nossa realidade, com a cara de caboclo e indígenas da região. Lá em Marudá esses cocos ficam jogados nos quintais e nas praias formando um entulho. Eu pego essa matéria-prima que ia virar lixo e transformo em arte. Os quadros eu procuro retratar o nosso cotidiano, com lual de carimbó, um apanhador de açaí, mas também faço o Abaporu, da Tarsila do Amaral; a Santa Ceia. É um trabalho bastante diversificado para agradar a todos”, explica o artesão.

Atualmente, esta é a única fonte de renda de Mota, já que a clientela fiel compra regularmente por encomenda ou aos domingos na praça da República. Para ele, ser artesão carrega um certo reconhecimento e satisfação pelo trabalho exercido. “Esse reconhecimento vem muito do cliente porque ele compra uma peça porque gostou do teu trabalho. Agora existe toda uma satisfação pessoal com esse trabalho. Eu nunca tive um professor para aprender a fazer isso, nunca fui a uma faculdade, nunca chegou ninguém para me ensinar. Eu tenho certeza que isso é um dom de Deus. Eu tenho prazer em deixar bonito as minhas peças”, disse o artista.

BONECAS

O artesanato sempre esteve presente na vida profissional de Socorro Martins. Há 40 anos, ela iniciou no ofício de artesã com a confecção de bichos pelúcias, passando também pela produção de sandálias, bolsas e artigos com temas infantis, como Bananas de Pijamas e Teletubbies, comercializando as peças sempre na feira da praça da República. Atualmente, o foco é na produção de bonecas de tecido, um brinquedo antigo, mas que nunca sai do gosto da criançada.

“Eu trabalho aqui com a fibra, que é o enchimento, e os tecidos. Eu vou na loja e vejo o tecido que me agrada, por exemplo, tecido de algodão, de tactel, para fazer o corpo da boneca, o fio 30 para fazer o rostinho, que é um tipo de meia. Eu trabalho de segunda a sábado e para fazer umas trinta bonecas pequenas, pegando direto, eu demoro uma semana. Em um dia eu talho o tecido, no outro costuro para fechar, dou pro meu marido fazer o enchimento, ele me retorna para fazer o acabamento, pregar o cabelinho dela e fazer a pintura do rosto, que é todo à mão. Esse é o meu ganho, o meu sustento”, revelou a artesão, de 62 anos.

Misturando técnica, prática com criatividade, Socorro diz que o trabalho como artesã é a completa realização da vida profissional. “É uma coisa que eu gosto muito de trabalhar. Imagina, tu pega um trabalho inteiro, tu olhas e sabes que foi tu que fez. Eu sinto que é gratificante, me sinto realizada de fazer o que gosto e ver uma criança carregando uma bonequinha que veio da minha criatividade. Gosto muito de trabalhar com arte”, afirmou a artista.

ALTERNATIVA

O artesanato foi a alternativa encontrada por José Amilson como fonte de renda em 2012, quando ficou desempregado. Com uma ferramenta em mãos, a micro retífica, sua irmã lhe deu a ideia de produzir luminárias decoradas feitas em cano PVC, representando imagens religiosas, famosos pontos turísticos de Belém, entre outros. “A gente pega alguns canos e consegue reciclar. Não são canos usados, são de obras grandes que sobram pedaços e ao invés de jogar fora, a gente pega ou compra”, conta o artista, de 56 anos.

A escultura no plástico é feita a partir de três técnicas manuais próprias: vazada, baixo relevo e pontilhada. Uma única peça é produzida por, em média, oito horas, podendo ser mais ou menos tempo, a depender do grau de detalhamento. “O processo é o seguinte: eu pego o cano, limpo, corto o tamanho que eu preciso e depois lixo para começar a trabalhar. Aí eu passo a imagem para o cano e vou trabalhando conforme o desenho pede, seja esculpido, com furinhos ou vazada. Depois tem que polir tudo para poder entrar a parte elétrica”, revela.

Para o artesão, que hoje vive unicamente do trabalho em PVC, o ofício também é gratificante por unificar técnica, criatividade e arte. “É muito prazeroso e eu fui desenvolvendo técnicas, hoje já tenho doze anos no ramo É muita satisfação, isso é maravilhoso e preenche o meu dia. É difícil fazer, é trabalhoso, mas é prazeroso”, finaliza.

SERVIÇO

Para encomendar:

l Bonecas de pano: (91) 98213-9030 (Socorro)

l Quadros entalhados em madeira e esculturas em fibra de coco: (91) 99980-5370 (Mota)

l JAC – Arte em PVC:

Instagram: @amilsonjac

Contatos: (91) 98159-6146

(91) 98991-7477