A carreira política do prefeito de Ananindeua, Daniel Santos, tem sido marcada por uma sucessão de escândalos: licitações suspeitas, calotes em hospitais e empresas de coleta de lixo, indícios de desvio de recursos públicos para o Hospital Santa Maria, que pertence ou pertenceu a ele, além de um enriquecimento célere e inexplicável.
Em um cálculo por baixo, o patrimônio dele estaria em mais de R$ 50 milhões, entre fazendas no município de Tomé-Açu (alvos da operação do Gaeco), aviões, cavalos de raça e milhares de cabeça de gado. Mas há apenas 13 anos, quando se candidatou a vereador pela primeira vez, o patrimônio declarado de Daniel se resumia a um veículo, que hoje valeria cerca de R$ 130 mil.
O maior dos escândalos que o cercam era, até agora, a acusação de envolvimento em uma suposta quadrilha que teria desviado mais de R$ 261 milhões do IASEP (o instituto de assistência do funcionalismo estadual) para o Hospital Santa Maria. A quadrilha foi desbaratada por uma operação do Gaeco, no ano passado. As fraudes teriam começado em 2019, quando Daniel presidiu a Assembleia Legislativa do Pará (Alepa).
Elas teriam se estendido até meados de 2023 e envolveriam superfaturamentos de até 1.000%, nos preços que o Santa Maria cobrava do Iasep. Daniel foi um dos donos daquele hospital entre 2014 e maio de 2022, segundo a Junta Comercial do Pará (Jucepa). Mas o MPPA suspeita que ele continuou como sócio oculto de lá. O prefeito tentou trancar a investigação, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) negou o pedido.
Em fevereiro deste ano, o MPPA chegou a pedir que a Justiça determinasse a intervenção na Saúde de Ananindeua, pelo Governo do Estado. Isso porque os sucessivos calotes do prefeito em clínicas e hospitais estavam colocando em risco a saúde dos moradores da cidade e de toda a Região Metropolitana.
O pedido ocorreu após o fechamento do Hospital Anita Gerosa, em janeiro deste ano, devido a uma dívida de R$ 3 milhões, pela Prefeitura. Mas o Anita Gerosa não foi o único a sofrer nas mãos do prefeito. O Hospital de Clínicas de Ananindeua (HCA), quase vai à falência. E, neste ano, o Centro de Hemodiálise Ari Goncalves (CEHMO) encerrou as suas atividades, naquele município, devido à falta de pagamentos. A suspeita é que o prefeito tenta eliminar os concorrentes do Santa Maria, para que o hospital receba mais dinheiro público.
Escândalos também envolvem a coleta do lixo, com as supostas tentativas de favorecimento da Norte Ambiental Gestão e Serviços, que pertence ao empresário Cleiton Teodoro da Fonseca, amigo do prefeito. Na campanha eleitoral do ano passado, Daniel foi flagrado utilizando um avião da empresa, para viagens por municípios paraenses.
E neste ano, tentou realizar uma licitação de R$ 180 milhões para coleta do lixo, com indícios de favorecimento à Norte Ambiental. A licitação representava R$ 100 milhões a mais do que os contratos das empresas que até então realizavam o serviço. Mas foram tantas as irregularidades que acabou cancelada. Mesmo assim, o prefeito conseguiu contratar a Norte Ambiental para o aluguel dos 25 caminhões que hoje realizam a coleta do lixo.
Esses são apenas alguns dos escândalos que envolvem Daniel Santos, hoje afastado do cargo. Mas o histórico de seu vice-prefeito, Hugo Atayde, que assumiu o comando da Prefeitura de Ananindeua, é igualmente complicado. Atayde foi acusado, pelo MPPA, de envolvimento com um grupo de extermínio, integrado por policiais militares.
Em 2019, o grupo teria torturado e assassinado um rapaz de 23 anos, Matheus Gomes Silva, que Atayde acusara de ter furtado a casa dele. Uma adolescente de 16 anos, que seria namorada do rapaz, também teria sido torturada pelos policiais. O juiz do caso rejeitou a denúncia contra Atayde, por envolvimento no homicídio. Mas ele permanece, em outro processo, como acusado de tortura e associação à milícia.