Luiza Mello
A ex-ministra na gestão Bolsonaro, Damares Alves, está novamente envolvida em denúncia de divulgação de notícias falsas sobre a população do Marajó. Atual senadora pelo Distrito Federal, ela volta a fazer ilações sobre exploração sexual de menores na região e é rebatida por organizações humanitárias que atuam nas cidades do arquipélago. Nessa nova onda de mentiras, os apoiadores da ex-ministra chegaram a divulgar vídeos nas redes sociais com cenas de crianças do Uzbequistão para ilustrar a fake News.
Neste novo caso, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH) encaminhou um pedido de investigação para a Advocacia-Geral da União (AGU), solicitando a apuração e providências contra as fake news disseminadas sobre o Marajó. No ano passado, o Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA) ajuizou uma ação civil pública contra a então senadora, condenando-a ao pagamento de indenização à população marajoara no valor de R$2,5 milhões.
Na época, Damares usou um culto evangélico para falar sobre supostos abusos sexuais, sequestro e tortura de crianças do Marajó. O MPF-PA mobilizou uma força-tarefa para investigar o caso, mas nada foi encontrado e nenhuma das acusações feitas pela então ministra foram confirmadas. Essas apurações, além de mobilizar recursos humanos, também resultaram em uma grande aplicação de recursos públicos.
O Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública na 5ª Vara Federal Cível em Belém e pediu que a senadora seja condenada a pagar R$ 2,5 milhões a título de indenização por denúncias infundadas, com a mesma pena solicitada contra a União.
Nesta nova onda de denúncias falsas, a senadora utilizou um vídeo da cantora Aymêe Rocha, durante participação em um reality show gospel, ao entoar canção autoral usando as informações não verídicas divulgadas pela ex-ministra.
O Observatório do Marajó, uma ONG dedicada à observação de políticas públicas na ilha paraense, emitiu um alerta sobre a “propaganda” que associa o local à exploração sexual de crianças.
A entidade batizou o texto de “Não acredite em tudo que vês na internet”, depois de o Marajó emergir em novos ataques nas redes sociais baseados na música gospel compartilhada por Damares, que viralizou nas redes sociais entre os aliados da ex-ministra.
De acordo com o alerta divulgado pelo Observatório do Marajó, “a propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara (…)”. “Não espalhe mentiras nas redes e nem caia em desinformação e pânico moral!”, afirma outra parte da nota.
A mensagem contém uma referência a Damares. Para o Observatório, a senadora atuou “espalhando mentiras” sobre o Marajó e, embora tenha prometido, não teria destinado recursos às comunidades escolares da ilha. Ela criou o programa “Abrace o Marajó”, substituído no governo Lula pelo “Cidadania Marajó”.
Quando esteve à frente do Ministério da Mulher, Cidadania e Direitos Humanos, durante o período de Jair Bolsonaro, Damares criou o programa “Abrace o Marajó”. Sem ter realizado nenhuma das ações previstas, o programa foi revogado em 2023. A Controladoria Geral da União (CGU) apurou o aporte de recursos feitos na gestão de Damares e apontou irregularidades em ações do programa, com possíveis prejuízos aos cofres públicos. A assessoria de Damares Alves não foi encontrada para comentar as novas acusações.