Pryscila Soares
Faltando pouco mais de um mês para a realização da edição de 2023 do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, as encomendas de objetos de cera estão a todo vapor. Os itens estão entre os principais símbolos que compõem a festa religiosa, uma vez que representam a fé dos promesseiros e os agradecimentos pelas graças alcançadas. Para atender à demanda, a produção costuma iniciar sempre no mês de maio de cada ano. E a procura pelos objetos se intensifica ao longo de setembro.
É desta forma que o processo de produção ocorre na centenária fábrica Casa Círio, situada no bairro da Cidade Velha, em Belém. Por dia, a equipe de cinco colaboradores produz uma média de 500 objetos de cera artesanalmente. Somente para o Círio, o estabelecimento comercializa uma produção estimada entre 100 mil a 120 mil itens.
O acervo é composto por objetos de cera que reproduzem órgãos e membros do corpo humano, como cabeça, braços e pernas; bens materiais como casa, carro, motocicleta e celular. Os animais de estimação como gato, cachorro e outros como boi, vaca e cavalo também estão entre os pedidos. Há encomendas mais exóticas, a exemplo do bebê de cera.
Além do Círio, a fábrica produz e vende peças o ano inteiro para atender os círios e celebrações religiosas que acontecem em todo o Pará. “É um compromisso que a gente tem com Nossa Senhora e com o próprio pessoal da promessa, porque eles precisam pagar. Muitas vezes o promesseiro nem sabe como vai pagar. Ele chega aqui, explica a promessa e assim a gente acaba produzindo o objeto”, informa o artesão Pedro Manoel Barbosa, proprietário da fábrica há quase 40 anos.
PROMESSAS
Itens como cabeça e casa são os mais procurados pelos promesseiros. “Tem pessoas que são assíduas, que pagam promessa todo ano. Tem uma peça aqui, um bonecão grande, que deixei de produzir. Mas tem um senhor que paga para o filho dele. Ele é de Barcarena e deve estar vindo para cá nos próximos dias. Então, a gente faz uns cinco bonecões e um é para ele. O filho dele teve câncer há vinte anos. Eles tiveram de largar tudo em Barcarena, gente humilde, foram para São Paulo e Rio. O menino ficou curado e todo ano ele vem buscar esse bonecão”, relata Pedro, ao falar sobre os pedidos de objetos de promessas que recebe.
Devoto de Nossa Senhora, o guia de turismo Manoel Santos, 58, é cliente da fábrica e a última peça que ele comprou no local foi uma imagem da santa em gesso, que será doada. “A capela da Soledade foi reformada e o altar ficou quase sem imagens de santos. Vou doar esta para compor o acervo do altar. Já paguei promessa há oito anos. Comprei uma imagem semelhante a esta e doei para a Basílica. Foi uma promessa pessoal”, disse o católico.