
Durante a Cúpula da Amazônia, realizada em Belém, em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou a atenção dos participantes ao deixar um recado para o mundo: “valorizar a floresta amazônica não é só mantê-la em pé, mas dar dignidade às quase 50 milhões de pessoas que vivem na região”. Com essa definição de que “a Amazônia não é só uma floresta, é a gente que vive nela”, Lula deixou claro que é preciso gerar emprego e renda por meio do fomento à ciência, tecnologia e inovação, do estímulo à sociobioeconomia e da valorização dos povos indígenas, comunidades tradicionais e seus conhecimentos ancestrais.
Essa é a essência da agricultura regenerativa, sistema agrícola que, em vez de esgotar ou degradar os recursos naturais, visa à sua regeneração e revitalização, melhorando a saúde do solo, da água e da biodiversidade simultaneamente à produção de alimentos.
Esse sistema adota práticas como o plantio direto, a rotação de culturas e os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, buscando não só a sustentabilidade, mas também a restauração de ecossistemas degradados e o sequestro de carbono.
Nesse processo, a proteção do solo é absolutamente essencial e um dos pilares fundamentais da agricultura regenerativa, pois a saúde do solo é vista como o alicerce para uma produção agrícola sustentável, permitindo restaurar a fertilidade, aumentar a biodiversidade e a capacidade de retenção de água e nutrientes, combatendo a degradação e as mudanças climáticas.
Em ano de COP30 no Pará, acelerar a transição para paisagens regenerativas tornou-se peça-chave rumo ao cumprimento das metas climáticas nacionais (NDCs), além de posicionar o país como vitrine de bioeconomia e soluções verdes para exportar ao mundo.
EMATER
O Governo do Pará investe na atuação da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará – Emater, uma das principais instituições de apoio à transição para sistemas agrícolas mais sustentáveis no estado, que tem priorizado a implementação de uma economia ambientalmente regenerativa.
A instituição atua na recuperação de áreas degradadas, na promoção de sistemas agroflorestais e na capacitação de produtores rurais, unindo tecnologia e conhecimento tradicional, com foco na preservação do meio ambiente e na geração de renda sustentável para agricultores familiares e comunidades rurais.
Recuperação e Conservação do Solo pela Emater
Um dos eixos centrais da atuação da Emater é a recuperação e conservação do solo. Para isso, foram implantados laboratórios de análise de solo em Conceição do Araguaia e no Centro de Treinamento Agroecológico de Bragança. Esses espaços oferecem suporte técnico para orientar produtores na adoção de práticas regenerativas, como rotação de culturas, adubação orgânica, agroflorestas e manejo sustentável, evitando técnicas predatórias, como a queimada.
No âmbito do programa Territórios Sustentáveis, a Emater já participou da recuperação de 249 hectares de áreas degradadas em São Félix do Xingu. A estratégia inclui a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), com culturas como cacau, açaí e banana, que favorecem a recomposição do solo, aumentam a biodiversidade e contribuem para a renda das famílias rurais. Destaque ainda para o Programa Territórios Sustentáveis no Marajó, que faz o Pará avançar no cumprimento da meta de implantação da agricultura regenerativa em seu território. Na Região de Integração do Marajó, 300 produtores rurais locais atuam no programa para fortalecer e ampliar seus Sistemas Agroflorestais (SAFs), uma das principais estratégias de agricultura regenerativa utilizada por agricultores familiares.
Além do trabalho técnico no campo, a instituição investe fortemente na capacitação de produtores e técnicos locais. De acordo com o extensionista da Emater, Ubiratan Pina, “a assistência técnica pública é essencial para que os produtores possam adotar a agricultura regenerativa de forma efetiva”. Ele destaca que a presença constante de técnicos em campo garante o acompanhamento das práticas, promove a troca de conhecimento e aumenta a eficiência na recuperação ambiental e produtiva.
VITRINE GLOBAL
Pará como Vitrine de Soluções Climáticas
Com a COP30 se aproximando, Belém se prepara para receber o mundo e, ao mesmo tempo, consolidar o Pará como um laboratório vivo de soluções climáticas. O estado vem assumindo papel estratégico na agricultura regenerativa, modelo que vai além de práticas sustentáveis: reconstrói ecossistemas degradados, devolve vida e saúde ao solo e restabelece ciclos naturais interrompidos por décadas de manejo convencional.
Esse movimento ganhou escala com o Plano Estadual de Agricultura Regenerativa, que mobiliza áreas estratégicas em todo o território paraense. A meta anunciada pelo governo estadual é ambiciosa: 173 mil hectares dedicados a projetos que combinem produção agrícola e preservação ambiental, envolvendo desde pequenos agricultores até grandes empresas globais.
Programas como o Territórios Sustentáveis, no Marajó, conectam comunidades locais a políticas públicas e mercados, mostrando que desenvolvimento econômico e conservação podem caminhar juntos.
A força do setor privado também se tornou visível. Gigantes mundiais como a Nestlé passaram a investir bilhões na transformação de suas cadeias produtivas no Estado. A Nestlé lidera com programas como o Cocoa Plan, que envolve cerca de 1.600 produtores de cacau no Pará, combinando apoio técnico, qualidade do fruto e reflorestamento de áreas produtivas.
PROJETOS DE REGENERAÇÃO
Projetos de Regeneração e Iniciativas Inovadoras
Em comunidades ribeirinhas do entorno de Belém, o Projeto Agrovárzea, conduzido pelo Ideflor-Bio em parceria com a UFPA, cria Unidades de Referência Tecnológica para sistemas agroflorestais que integram espécies como açaí, cacau e cupuaçu.
Famílias que antes plantavam de forma isolada agora manejam a terra coletivamente, garantindo produção escalonada, solo vivo e renda estável. O projeto já envolve 25 comunidades, cerca de 400 famílias, e recupera mais de 600 hectares de várzeas, conectando produção agrícola com turismo sustentável.
A Embrapa Amazônia Oriental, por sua vez, atua em várias frentes, levando ciência e inovação para dentro da agricultura regenerativa. Em Santa Luzia do Pará, no nordeste do estado, a Embrapa integra a Rede Quirera, iniciativa de inovação social que reúne 400 famílias de cinco municípios em torno da valorização da sociobiodiversidade e da transformação de produtos locais, como farinhas, em itens de alto valor agregado.
O pesquisador da Embrapa, Fernando Mendes Lamas, destaca que os fundamentos da agricultura regenerativa estão, entre outros princípios, na prática de uma agricultura sustentável, como a rotação de culturas, que permite cultivar espécies diferentes a cada ano agrícola. “Ela se baseia num conjunto de técnicas que buscam ativamente regenerar o solo — não apenas minimizar os danos, como na agricultura sustentável, mas promover a restauração do que foi perdido”, explica.
