MEIO AMBIENTE

COP 30: legados que ficam para o médio e longo prazo

Os olhos do mundo estão voltados para Belém no debate das mudanças climáticas. E agora?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá anunciar o nome do presidente da COP 30 em Belém durante agendas à parte da abertura da Assembleia Geral da ONU  FOTO: RICARDO STUCKERT / PR
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá anunciar o nome do presidente da COP 30 em Belém durante agendas à parte da abertura da Assembleia Geral da ONU FOTO: RICARDO STUCKERT / PR

Mais do que um importante momento de negociação em busca de compromissos de mitigação às mudanças climáticas, as Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas também são uma oportunidade de impulsionar investimentos que deverão permanecer como legado para o país sede. Pela primeira vez, Belém receberá um evento internacional da magnitude da COP e, com as atenções do mundo voltadas para a capital paraense, o que se espera é que este fato histórico deixe contribuições que proporcionem melhorias para a vida da população para além de novembro de 2025.

O coordenador do Programa de Pós-graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia, do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (PPGEDAM/NUMA/UFPA), Christian Nunes da Silva, considera que a realização da COP30 em Belém representa um marco histórico para a Amazônia e para o Brasil. “Como acontecerá em nossa região, espera-se que a conferência reforce o compromisso global com a preservação da floresta amazônica, reconhecendo seu papel crucial no equilíbrio climático global”, considera. “O legado da COP30 para a Amazônia poderá incluir a implementação de políticas mais eficazes de proteção ambiental e o aumento de investimentos internacionais em projetos de conservação e desenvolvimento sustentável”.

No âmbito das discussões climáticas, o professor lembra que um dos principais focos da COP30 será a revisão das NDCs (sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas). Ele explica que as NDCs representam os compromissos que cada país assumiu no âmbito do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas, portanto, a revisão dessas contribuições será importante para avaliar o progresso realizado por cada país e ajustar as metas de acordo com as necessidades identificadas. “Para o Brasil, que possui uma posição de destaque devido à sua vasta cobertura florestal na Amazônia, essa revisão é especialmente significativa. O país tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, mostrando como é possível conciliar desenvolvimento econômico com a preservação ambiental”, considera. “No cenário global, o Brasil deve reafirmar seu compromisso com a redução do desmatamento, o combate ao garimpo ilegal e a biopirataria, e a implementação de leis ambientais mais rigorosas, sem perder de vista a população que habita na região. A revisão das NDCs na COP30 será um momento para o Brasil se posicionar como um defensor da sustentabilidade e da proteção da biodiversidade”.

Frente à responsabilidade de sediar as negociações em Belém, no coração da Amazônia, Christian Nunes da Silva considera que se espera que o Brasil adote uma postura firme e ambiciosa na COP30. “Como o país que abriga a maior parte da floresta amazônica, o Brasil carrega a responsabilidade de proteger uma das regiões mais biodiversas do planeta, essencial para o equilíbrio climático global”, destaca. “O Brasil deve destacar seu compromisso com a proteção da Amazônia, apresentando políticas concretas para combater práticas de uso predatório dos recursos naturais, novamente, sem esquecer do desenvolvimento local das áreas habitadas. Também é esperado que o país promova o fortalecimento das leis ambientais e a aplicação dessas normas, além de buscar apoio internacional para iniciativas de preservação e desenvolvimento sustentável”.

O professor lembra, ainda, que essa também pode ser uma oportunidade única para o país mostrar para o mundo as práticas sustentáveis já implementadas na Amazônia e como elas podem servir de modelo para outras regiões do mundo. “A conferência oferece ao Brasil a oportunidade de reafirmar seu papel como líder global na luta contra a mudança climática e na defesa da biodiversidade”.

Outro legado que pode ser deixado pela COP30 em Belém, na avaliação de Christian, é o de simbolizar o reconhecimento da importância de ouvir as vozes locais, especialmente dos povos tradicionais e originários que habitam a Amazônia. “Esses grupos têm um profundo conhecimento do bioma e modos de vida adaptados à floresta, que oferecem lições valiosas para o mundo sobre a convivência sustentável com a natureza. É fundamental que suas perspectivas e modos de vida sejam considerados nas discussões da conferência”, considera.

“Inclusive é necessário um destaque nos debates da COP30 acerca da necessidade de maior financiamento para pesquisas e ações de combate às práticas predatórias na Amazônia. Instituições como a UFPA, a maior universidade da região, desempenham um papel crucial na produção de conhecimento e na formação de políticas ambientais eficazes. Espera-se que a COP30 reforce o apoio a essas instituições, permitindo que continuem a liderar iniciativas de conservação e desenvolvimento sustentável na Amazônia”.

Conferência também deve deixar legado para a empreendedorismo regional

A inédita realização de uma edição da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP) na capital paraense deve deixar um legado também para a geração de renda e para o empreendedorismo local.

Para o diretor-superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno, a realização da COP30 em Belém deverá impactar diretamente o empreendedorismo paraense. “A realização da Conferência das Partes (COP) impacta de forma muito positiva a economia das localidades onde é realizada por diversos aspectos. Um deles, sem dúvida, está relacionado à criação de um ambiente muito favorável ao empreendedorismo, em especial aos pequenos negócios, devido à ampliação da demanda por produtos e serviços, gerada pelo grande fluxo de pessoas. Toda a cadeia econômica é fortalecida, em torno dos eventos que são realizados, hospedagem das pessoas, necessidades de locomoção, alimentação, entre outras”.

Mais do que no período do evento em si, marcado para ocorrer em novembro de 2025, parte desses efeitos já vem sendo percebidos pelos empreendedores, que vivenciam o desafio de, mesmo em meio ao aumento da demanda, se prepararem para o que ainda está por vir. “Desde o anúncio da realização da COP 30 em Belém, percebemos um movimento positivo aos empreendedores. Com a atração de eventos pré-COP, por exemplo, o mercado tem sido aquecido, com o aumento de demandas por produtos e serviços ofertados por eles”, avalia Rubens Magno. “Mas é importante lembrar que é preciso se preparar para aproveitar essas oportunidades. Por isso, o Sebrae tem focado na capacitação dos empreendedores de pequenos negócios, a exemplo da nossa parceria com o Airbnb, que prevê ações de capacitação para quem já é anfitrião e pessoas interessadas em oferecer estadia pela plataforma. Só em 2024, 20 turmas serão ofertadas, com participação gratuita”.

Toda essa preparação deve ser importante não apenas para que os empreendedores possam aproveitar a demanda gerada no período do evento, mas, inclusive, para vivenciar o legado que deverá ficar para além da COP. “Acreditamos que eles [os pequenos negócios paraenses] estarão bem mais preparados para uma economia global, com possibilidades de ampliação de mercado para seus produtos e serviços, resultado da visibilidade e do contato que eles terão com o grande fluxo de pessoas e a presença da mídia internacional em Belém. Com a COP, as possibilidades de negócios se ampliam de forma significativa para os empreendedores”, finaliza.

Uma série de obras já foram anunciadas pelo governo federal no Pará, como as do Ministério das Cidades, do ministro Jader Filho FOTO: CELSO RODRIGUES

PARA ENTENDER

A conferência

l A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) marcará 10 anos da celebração do Acordo de Paris, firmado em 2015 durante a COP21, e a partir do qual os países signatários do acordo se comprometeram em limitar o aquecimento global a 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais até 2050.

l Desde então, periodicamente, os países signatários precisam apontar as metas a nível nacional com as quais estão comprometidos para diminuir suas emissões de gases de efeito estufa, devendo aumentar a ambição de suas metas em relação à anterior. Tais metas são chamadas de Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou Nationally Determined Contribution (NDCs), em inglês.

l Um dos ntos de grande atenção da COP30 é que ela será o momento em que se fará uma nova revisão das metas que compõem as NDCs para os anos seguintes. A partir dessa revisão será possível analisar o quanto o mundo aumentou sua ambição e se ele está, efetivamente, caminhando para combater o aquecimento global.portante não apenas para que os empreendedores possam aproveitar a demanda gerada no período do evento, mas, inclusive, para vivenciar o legado que deverá ficar para além da COP. “Acreditamos que eles [os pequenos negócios paraenses] estarão bem mais preparados para uma economia global, com possibilidades de ampliação de mercado para seus produtos e serviços, resultado da visibilidade e do contato que eles terão com o grande fluxo de pessoas e a presença da mídia internacional em Belém. Com a COP, as possibilidades de negócios se ampliam de forma significativa para os empreendedores”, finaliza.ormando a cidade, preparando-a para receber milhares de visitantes e consolidando-a como um polo importante para eventos internacionais. Além disso, a conferência deve impulsionar a conscientização global sobre a importância da Amazônia, não só como um ecossistema vital, mas também como um lar para milhões de pessoas que dependem diretamente de seus recursos. O evento em Belém simboliza o compromisso de colocar a Amazônia no centro das discussões globais sobre o futuro climático do planeta”.