Pará

Como é o trabalho do recenseador?

O Instituto contou 8.442.962 pessoas no Pará até o momento. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
O Instituto contou 8.442.962 pessoas no Pará até o momento. Foto: Irene Almeida/Diário do Pará.
Ruan visita, em média, 40 residências por dia em Belém, ouvindo moradores e fazendo relatórios FOTOS: IRENE ALMEIDA

Irlaine Nóbrega

Ruan Camilo Martins, 18 anos, está atuando como recenseador durante a pesquisa do Censo 2022. A possibilidade de trabalhar no levantamento dos dados populacionais apareceu como uma oportunidade de conseguir o primeiro emprego formal. Por isso, ele resolveu participar do concurso para contratação dos profissionais que auxiliam no processo de coleta de informação domiciliar, que teve início ainda em junho deste ano. Após a aprovação e uma etapa de treinamento conforme as diretrizes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recenseador está apto para seguir para a pesquisa de campo.

Por volta de nove horas da manhã, Ruan chega ao setor censitário em que realiza a pesquisa. Atualmente responsável por duas quadras no bairro do Marco, ele inicia, com paciência, a coleta dos dados a partir dos domicílios que registraram ausência de moradores no dia anterior. Portando o Dispositivo Móvel de Coleta (DMC), dois mapas do setor, um bloco de notas e papéis de recado, ele vai até as casas e estabelecimentos comerciais atrás de quem possa contribuir para a pesquisa nacional.

“Até então, eu estou achando uma experiência bem interessante. Pesquisar, fazer entrevista com as pessoas, mas às vezes a gente tem dificuldade, quando é em caso de recusa ou quando algumas pessoas me tratam mal. Mas, ainda assim, muitas pessoas que eu entrevistei me trataram muito bem, me deram lanche e água. Algumas pessoas que recusaram não foram por causa de situações pessoais, por não gostar do IBGE, mas porque tinham um certo trauma de dar informação porque já tinham ajudado outras pessoas e deu prejuízo, sujaram o nome, essas coisas. Tem pessoas que não deixam eu chegar perto e não é nem por questão de saúde, mas de segurança”, relata Ruan.

Nas ruas, o recenseador sempre está devidamente identificado com um colete e boné na cor azul marinho, onde estão grafadas as iniciais “IBGE”. Do lado direito do colete há um crachá de identificação com nome, foto, número de matrícula e QR Code, as informações necessárias para identificação conforme o quadro de recenseadores do IBGE. Além disso, os pesquisadores portam um dispositivo no estilo smartphone que auxilia no registro das respostas.

Diariamente, ele visita quase 40 domicílios, dos quais uma média de 15 deles os moradores querem participar do levantamento. Apesar das múltiplas formas de identificação, o recenseador tem que apelar para estratégias para realizar a pesquisa. Isso acontece porque muitas pessoas ainda têm receio de atender ao chamado do pesquisador por não conhecer o próprio IBGE. “Eu posso mostrar meu colete, meu crachá, falar que eu sou do IBGE, mas mesmo assim eles não deixam. O que eu faço? Ganho a confiança deles. Eu chego perto, converso, digo que sei que eles estão desconfiados, mas que o trabalho é importante. Explico tudo como é feito. Dessa forma, eles respondem, desconfiados, mas respondem”, conta o recenseador.

“O meu maior desafio é a ausência. Quando a pessoa recusa, tudo bem, a gente não tem muito o que fazer. Mas quando a pessoa não está em casa é mais complicado. Tem muita gente que trabalha o dia inteiro e só chega à noite, está muito cansado e não quer fazer nem pela internet. É difícil pegar essas pessoas, a gente coloca várias ausências. Como a gente tem que terminar cada setor, só sobram essas pessoas. Esse que é o desafio, tentar encontrar quando elas, literalmente, somem”, explica o profissional.

 

Ruan visita, em média, 40 residências por dia em Belém, ouvindo moradores e fazendo relatórios FOTOS: IRENE ALMEIDA

ESTRATÉGIAS

Para driblar a falta de receptividade do público, o agente do IBGE precisa planejar estratégias de convencimento. Por isso, para cada situação existe uma forma de cativar o morador para que contribua para que a pesquisa apresente resultados comprometidos com a realidade. “Uma das estratégias que funciona é quando elas estão com muita pressa. Eles pensam que demora muito, meia hora, dizem que estão fazendo comida ou precisam sair. Não é assim que funciona. Quando têm muitas pessoas e o questionário é do tipo amostra demora um pouco mais. Mas quando é um questionário básico e tem até cinco pessoas na casa demora por volta de dez minutos. Quando tem só uma pessoa morando na casa demora de três a quatro minutos”, afirma.

Em casos de recusa ao recenseador, uma nova estratégia é utilizada: o questionário pela internet. “Tem os casos de recusa dessa forma também. Teve um caso que o pai do responsável pela casa não quis fazer e perguntou se podia fazer pela internet. Ele foi lá, fez e pronto. Tem casos que as pessoas passam o dia fora e só fica o filho na casa. Nesse caso, o menino tinha quinze anos e para o IBGE as pessoas podem responder a partir de doze anos. Ele me perguntou se podia responder pelos pais e eu autorizei. Ele não sabia a data de nascimento, mas foi atrás dos documentos”, relembrou Ruan.

Já em casos de moradores ausentes, o pesquisador conta com a ajuda de vizinhos para recolher as informações necessárias. “Se a pessoa sempre está ausente eu deixo um cartão de recado bem na entrada. Esse cartão tem meu nome completo, minha matrícula, o código da casa que é disponibilizado e o número WhatsApp do DMC [aplicativo do IBGE]. Funciona como uma armadilha, toda vez que não está lá eu sei que teve gente que pegou. Aí eu pergunto para os vizinhos do lado a hora que chega e também entrego meus dados para os vizinhos para que eles me mandem mensagem quando os moradores estiverem lá. Tem um limite quatro vezes para o retorno, mas quanto menos casas a gente fizer, menos recebe. Quando a gente coloca as quatro ausências, o domicílio sai do nosso DMC e aparece concluído”, ressalta.

O expediente termina por volta de 18h, ou quando o dispositivo descarrega, após a visita no máximo de domicílios possível. Ao fim da pesquisa no setor censitário, o agente deve informar a situação ao IBGE que destina um supervisor para fazer a revisão final.