Luiza Mello
A Marujada de São Benedito avança mais um importante passo para se tornar Patrimônio Cultural do Brasil. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional realizou em Bragança, onde a festa é realizada, uma reunião de consulta pública, que faz parte do processo de inventário de referências culturais exigido pelo Iphan. Vencida mais uma etapa, o reconhecimento e registro de uma das maiores festas populares da Amazônia deve acontecer em agosto deste ano.
O trabalho de inventário da Marujada de São Benedito só foi possível graças ao senador Jader Barbalho (MDB), que indicou duas emendas parlamentares, no valor de R$ 200 mil cada, para que a Universidade Federal do Pará realizasse todo o levantamento documental necessário para a preservação de uma das mais importantes e tradicionais festas populares do Pará. A coleta de material e pesquisa foi feita pelos alunos e professores de história do Campus Universitário de Bragança da UFPA.
“Além da religiosidade, a Marujada representa a valorização da cultura e da história de Bragança. É fundamental que uma manifestação como esta seja preservada para garantir que as gerações vindouras tenham acesso a essas expressões tão ricas da cultura bragantina”, destacou o senador.
Satisfeito com o trabalho que vem sendo desenvolvido em conjunto pela UFPA e pelo Iphan, o senador Jader Barbalho lembra que a Marujada representa a valorização cultural e religiosa não só de Bragança, mas de toda história da formação cultural do Pará.
O senador destaca que, há 223 anos, é a própria população bragantina que mantém e preserva a Marujada de São Benedito. “Marujos e marujas repassam essa tradição às novas gerações. Por sua importância e pelo amor dos bragantinos a esta importante manifestação artística e cultural, a notícia de que estamos próximos ao da fase de conclusão do registro definitivo da Marujada como patrimônio brasileiro me deixa honrado por poder participar de forma efetiva da realização deste antigo anseio da população” comemora o parlamentar.
A festa popular é também referência para o incremento do turismo em Bragança. No mês de dezembro o fluxo de visitantes de todas as regiões do país é maior em função da festividade de São Benedito. Nos dias 25 e 26 ocorre o ponto máximo das festividades que é a procissão que percorre as ruas da cidade
A fundação da Irmandade do Glorioso São Benedito de Bragança marca o início da Marujada de Bragança. Em 1798, os escravos tiveram a autorização de seus senhores para criar a organização e louvar ao Santo Preto: São Benedito. Em agradecimento, saíram de porta em porta comemorando. Desde então a Marujada acontece no âmbito da Festividade do Glorioso São Benedito, e envolve os moradores de Bragança, não apenas durante a festa, mas também nos preparativos que ocorrem ao longo do ano.
Em maio tem início o período de esmolação, quando uma comitiva sai pela região com a imagem peregrina arrecadando doações para a festa. Em 8 de dezembro, ocorre uma procissão fluvial até o porto de Bragança. Nos dias pares da semana que antecedem à festividade, há ensaios da Marujada no salão da Igreja de São Benedito.
No dia 18 de dezembro, começa oficialmente a festividade com a Alvorada, às 5 da manhã, quando se ergue o mastro e marujas e marujos caminham descalços até a Igreja de São Benedito. As apresentações da Marujada seguem até o encerramento da festa, em 26 de dezembro.
Organizada pela Irmandade, a Marujada é quase unicamente constituída por mulheres que assumem o papel de direção. O cargo mais alto da hierarquia da Marujada, que é vitalício, é o de capitoa, geralmente ocupado pela mais velha do grupo, que desfila carregando um bastão dourado simbolizando sua autoridade. A subcapitoa, escolhida pela capitoa e sua substituta, está em um nível seguinte. Os homens, marujos dirigidos por um capitão, participam como tocadores ou acompanhantes.