Pará

Círio aumenta expectativa de vendas e contratações

As recomendações principais são para que os motoristas evitem as áreas das manifestações religiosas. Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.
As recomendações principais são para que os motoristas evitem as áreas das manifestações religiosas. Foto-Wagner Santana/Diário do Pará.
Dieese e entidades empresariais preveem que Círio deste ano deve se igualar àqueles ocorridos até 2019, antes da covid-19 FOTO: WAGNER SANTANA

Cintia Magno

O cenário de um Círio de Nazaré como o paraense sempre conheceu não é tão distante, mas os dois anos em que a programação da quadra nazarena precisou passar por restrições em decorrência da pandemia da Covid-19 são suficientes para deixar saudades não apenas entre os fiéis. Diante da perspectiva de retorno do Círio presencial e com a programação completa em outubro deste ano, a expectativa gerada nos setores da economia impactados positivamente pela festividade é enorme.

Se considerados os grandes números apresentados pela quadra nazarena em 2019, última edição em que o Círio pôde ser realizado em sua plenitude, a perspectiva pode ser elevada. Até 2019, os paraenses viram cerca de 2 milhões de pessoas acompanharem o percurso do Círio no segundo domingo de outubro.

Naquela ocasião, a quadra nazarena foi responsável por injetar cerca de R$1 bilhão na economia do Estado, sendo que, somente os cerca de 83 mil turistas presentes foram responsáveis por movimentar aproximadamente R$120 milhões.

Já o cenário encontrado neste ano, mesmo com a realização de todas as procissões que integram a programação da festividade, demanda um pouco mais de cautela. Apesar disso, o técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/PA), Everson Costa, aponta que a expectativa é positiva. “Certamente, a expectativa é que em 2022 o nosso Círio de Nazaré seja gigante”, considera. “Mas, hoje, para tudo que a gente aponta comparativos, sempre lembramos que ainda não voltamos ao nível pré-pandemia. É preciso conferir se teremos aqui o mesmo quantitativo ou até mais pessoas do que no Círio 2019”.

O técnico do Dieese aponta que ainda não é possível afirmar se o Círio 2022 irá se igualar ao Círio de 2019, até porque a movimentação de turistas e o volume de recursos observados até àquele ano aconteceram dentro de um contexto econômico que, mesmo em meio a dificuldades, ainda era bem mais favorável do que o atual. “Do ponto de vista dos impactos econômicos, a expectativa é que a gente tenha custos mais elevados. Certamente o turista, em 2022, vai encontrar preços maiores”.

Por outro lado, ele lembra que mesmo nos anos em que a festividade não pôde ser realizada em sua plenitude, foi registrada uma quantidade considerável de pessoas nas ruas. “Em 2020, as informações que circulavam é que, por conta das festividades do Círio, ou seja, da homenagem que era bem restrita, nós chegamos a ter cerca de 100 mil pessoas por aqui. Em 2021, com restrições um pouco menores e uma programação um pouco mais aberta, a estimativa das pessoas que circularam por aqui por conta das festividades foi até maior, 400 mil pessoas”, aponta. “Do ponto de vista da economia, estamos falando de um grande impacto na indústria; no setor de serviços, principalmente no turismo, na hotelaria e na gastronomia; no agronegócio, que aí vai desde o fornecimento do tucupi, da maniva, do pato até todo um trabalho de marketing e portfólio de vendas de produtos relacionados ao nosso tradicional almoço do Círio. Esses são apenas exemplos que demonstram como a economia do Estado se movimenta fortemente por conta do Círio”.

Comércio mantém otimismo até o final do ano

No Comércio, a visão também é otimista. A assessora econômica da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo no Estado do Pará (Fecomércio-PA), Lúcia Cristina de Andrade Lisboa, aponta que o Índice de Expectativa do Empresário do Setor de Comércio (Icec), mensurado pela Fecomércio-PA e pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), para os próximos meses, está em 132,2 pontos, o que representa uma zona de otimismo.

Pela metodologia, essa pontuação vai de 0 a 200, sendo que abaixo de 100 é negativo e acima de 100 a expectativa é positiva. “Indica variação positiva na expectativa de 3,95% em relação ao índice anterior”, aponta. “No mês de outubro, todos os eventos relacionados ao Círio e ao Dia das Crianças influenciam nessa expectativa e confiança para a elevação das vendas e negócios dos empresários do setor”.

Lúcia Cristina lembra que, na época do Círio de Nazaré, o comércio vive dias de movimento alto, com crescimento na demanda de alguns segmentos e ramos de negócios. “Em comparação com os resultados das vendas do comércio e de serviços nos meses de outubro dos anos de 2020 e 2021, o incremento nas vendas, de modo geral, pode se situar no intervalo de 10% a 15%, com magnitudes bem diferenciadas, em alguns serviços específicos podendo chegar a 20% (na comparação com o Círio 2020), dado o aumento de circulação de pessoas com o Círio presencial e a realização da programação na integralidade em 2022”, considera.

Para o turismo, Círio é garantia de “13º salário”

Para o turismo, a festividade em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré chega a representar a garantia de um ‘décimo terceiro’ aos profissionais que atuam na cadeia, e que são muitos.

O diretor da Brazil Amazon Turismo e vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem no Pará (Abav-PA), Alex Flávio Oliveira da Silva, aponta que, até o momento, a expectativa positiva gerada pela realização do Círio presencial vem se concretizando, na medida em que a procura de pacotes em algumas agências de viagens de Belém já está crescendo. “O segundo semestre do ano, historicamente, é muito melhor para o turismo no Pará e o Círio puxa muito isso. Então, aumenta mais de 50% em relação, por exemplo, ao primeiro semestre do ano”.

Alex aponta que algumas agências associadas à Abav-PA, já estão recebendo uma procura bastante elevada para o mês de outubro. A própria agência dele já fechou um pacote com um grupo de 20 pessoas que virão à Belém em decorrência do Círio. “Eles vão chegar dia 05, passam o Círio no dia 09, no 10 vão para o Marajó e no dia 13 vão para Alter do Chão e só voltam no dia 18. Então, eles vão fazer os três polos que são muito importantes turisticamente para o Estado: a capital, a região do Marajó e a região de Santarém”, exemplifica, ao apontar que a expectativa para o setor é de que os turistas que venham a Belém também acabem esticando a viagem por mais alguns dias.

A procura também deve melhorar para o setor de meios de hospedagem. O assessor Jurídico do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Pará (SHRBS-PA), Fernando Soares, aponta que entre os associados do sindicato as reservas feitas para o final de semana do Círio já se aproximam de 100% das vagas disponíveis, sendo que 40% das reservas já foram confirmadas e cerca de 60% ainda estão por se confirmar. “Os meios de hospedagem já detectam um aumento na procura pelas reservas. Isso varia muito de acordo com cada estabelecimento, com a localização, com a oferta de pacotes que ofereçam vantagens, mas a tendência é que todos tenham uma ocupação muito alta. A gente espera que tenhamos uma ocupação por volta de 80% a 100% no final de semana do Círio”.

Segundo Fernando, muitos meios de hospedagem estão esperando um público que seja pelo menos o dobro do registrado no ano passado. “O setor sempre se prepara para uma grande festividade. Evidentemente, ainda existe uma certa reserva. Não é como no período pré-pandemia, mas estamos nos preparando para termos uma festividade muito grandiosa, se Deus e Nossa Senhora de Nazaré quiserem”, considera.

“O Círio, para o nosso setor, representa muito, tanto para os meios de hospedagem, como, principalmente, para a alimentação fora do lar porque, além dos turistas, tem muita gente de dentro do Estado que vem dos interiores para Belém, para a casa de parentes. Então, o que ele economiza na hospedagem, acaba gastando mais nos bares, restaurantes, etc”.