Neste 7 de julho, Dia Mundial do Chocolate, o Pará celebra não apenas um produto, mas histórias de vida, tradição, sustentabilidade e economia que florescem no coração da Amazônia. Isso porque parte das mais de 145 mil toneladas de amêndoas de cacau produzidas anualmente no Pará dá origem a um produto que carrega o nome do estado para além das fronteiras brasileiras: o chocolate fino da Amazônia paraense. Cada vez mais valorizado pela qualidade e pelo sabor diferenciado, o chocolate produzido no Pará alia saberes tradicionais e sustentabilidade.
Foi esse potencial transformador que mudou a vida da moradora da Ilha do Combu, Izete dos Santos Costa, mais conhecida como dona Nena. Durante muito tempo, o consumo do chocolate puro, feito com o cacau colhido na própria propriedade, era apenas um hábito familiar. Em meio à abundância da floresta, o chocolate ralado era o ingrediente nobre da tradicional gemada consumida em casa. A mudança veio quando a família percebeu que aquele saber ancestral poderia se transformar em fonte de renda.
Desde a colheita do fruto até a fermentação, secagem e torra das amêndoas, todo o processo que transforma o cacau em chocolate é realizado na própria floresta nativa onde dona Nena constituiu família. A ideia nasceu de uma lembrança carinhosa do sogro, Sebastião Quaresma, apaixonado pelo cacau. “Durante uma feira do meio ambiente, em 2002, na Praça Batista Campos, eu lembrei da barrinha de cacau puro que ele fazia e que a gente consumia na família”, conta ela.
Na época, dona Nena participava da feira vendendo biojoias feitas com o caroço do açaí, mas, diante da baixa procura, decidiu levar também alguns produtos colhidos no quintal de casa. Foi quando surgiu a ideia de apresentar a barra de chocolate puro, enrolada na folha do cacaueiro. Muitos duvidaram que um produto tão comum entre as famílias ribeirinhas pudesse conquistar o público, mas a aceitação surpreendeu. Nascia ali a semente do que viria a ser a Filha do Combu, pequena empresa familiar criada por Izete dos Santos Costa. “Quando eu cheguei na feira com a barrinha, isso mexeu com a memória afetiva das pessoas que lembravam que o avô ou o pai costumavam consumir aquela pasta de cacau”, recorda.
A Trajetória de Dona Nena e o Chocolate da Ilha do Combu
Com a procura crescente pelo chocolate da floresta, dona Nena aprimorou o processo e, em 2008, passou a produzir bombons e o chamado brigadeiro da floresta. A fama dos produtos atraiu visitantes à Ilha do Combu, interessados em conhecer de perto a produção artesanal. Em 2017, ela ergueu a Casa do Chocolate, tornou-se Microempreendedora Individual e, depois, fundou uma pequena empresa. Hoje, ela colhe os frutos de uma trajetória que une tradição, natureza e geração de renda.
O sucesso do chocolate paraense não se limita à Ilha do Combu. Em diferentes regiões do Estado, produtores têm suas vidas transformadas pelo potencial econômico do cacau amazônico. Em Medicilândia — um dos maiores produtores de cacau do Brasil — nasceu a CacauWay, resultado da união de agricultores familiares da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (COOPATRANS). Hoje, a marca produz toneladas de chocolate, comercializado em cidades como Santarém, Altamira, Belém, Parauapebas, além de pontos de venda em Castanhal, Tailândia, Tucuruí, São Paulo, Londrina e no Maranhão.
CacauWay: A União de Agricultores Familiares em Medicilândia
“A CacauWay surgiu desse grupo de agricultores que tinha a vontade de verticalizar a cadeia produtiva do cacau e não ser meros fornecedores de matéria-prima para que esse cacau fosse gerar emprego e renda longe da nossa comunidade”, explica a engenheira agrônoma Hélia Félix.
Com o apoio do Fundo de Desenvolvimento da Cacauicultura do Pará (Funcacau), os produtores conseguiram adquirir máquinas e equipamentos para estruturar a indústria em Medicilândia. Mesmo sem capital de giro no início, o grupo seguiu firme na ideia de produzir o próprio chocolate — uma aposta que deu certo e segue rendendo bons frutos.
O Potencial do Cacau no Pará
Os números confirmam o potencial do Estado. Segundo dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), divulgados em 2024, o Pará continua liderando a produção nacional de amêndoas de cacau, com quase 145 mil toneladas anuais — 53% da produção do Brasil. Mais de 31,5 mil produtores atuam em diversos municípios paraenses, com destaque para Medicilândia, Uruará, Anapu, Brasil Novo, Placas, Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio, Tucumã e Pacajá.