Correia transportadora em Carajás Serra Sul (S11D) contribui para reduzir as emissões de carbono na operação | Foto: Ricardo Teles
Correia transportadora em Carajás Serra Sul (S11D) contribui para reduzir as emissões de carbono na operação | Foto: Ricardo Teles

40 ANOS DEPOIS

Carajás: do telegrama cifrado à maior província mineral do planeta

Em 1967, o geólogo Breno dos Santos batia o martelo em rocha em clareira no meio da floresta amazônica e descobriria a província mineral de Carajás. Foto: Coleção Breno Augusto dos Santos / Acervo Espaço Memória Vale
Em 1967, o geólogo Breno dos Santos batia o martelo em rocha em clareira no meio da floresta amazônica e descobriria a província mineral de Carajás. Foto: Coleção Breno Augusto dos Santos / Acervo Espaço Memória Vale

“Pode mandar o soro antiofídico.” A mensagem, enviada por telegrama em 1967 pelo geólogo paraense Breno dos Santos ao colega americano Gene Tolbert, era mais do que um pedido de ajuda: era um código. Em tempos de espionagem industrial, a frase escondia uma descoberta que mudaria para sempre a história da mineração no Brasil — e do mundo. Tratava-se do achado de uma imensa jazida de manganês, no coração da Floresta Amazônica, no sudeste do Pará.

Poucas semanas antes, Breno, então líder de uma equipe da US Steel, sobrevoava a região em busca de indícios de minerais. Ao pousar em uma das clareiras da densa mata, golpeou uma rocha com seu martelo. Uma poeira avermelhada se espalhou. “Percebi que era ferro. Então pensei: ‘Uau, isso é tudo ferro!?’”, recorda Breno. Nascia ali a província mineral de Carajás, que logo revelaria riquezas ainda maiores: não apenas ferro e manganês, mas também cobre, níquel e outros metais estratégicos.


Uma descoberta que mudou o Brasil

A importância do achado só cresceu com o tempo. Dezoito anos depois, em 1985, era inaugurado o Projeto Ferro Carajás, um empreendimento logístico e industrial inédito no Brasil. A iniciativa envolveu mais de 27 mil pessoas na construção de um complexo que integra mina e usina no Pará, ferrovia ligando os estados e porto em São Luís (MA).

Hoje, 40 anos após sua inauguração, Carajás segue como referência mundial em produção mineral de alta qualidade. A Vale, uma das maiores mineradoras do planeta, direciona esforços para alinhar sua atuação aos desafios da atualidade, como a descarbonização da siderurgia mundial e a transição energética.


Novo Carajás: investimento em um futuro sustentável

Com esse propósito, a Vale lançou o Programa Novo Carajás, um plano de investimentos de R$ 70 bilhões entre 2025 e 2030. O objetivo é ampliar a produção de minério de ferro com alto teor, mais eficiente e com menor emissão de carbono no processo siderúrgico, além de expandir a extração de cobre, insumo essencial para tecnologias verdes.

“O material de Carajás é estratégico. Ele aumenta a eficiência dos altos-fornos e contribui para rotas de aço com menor emissão de carbono. Nossa meta é reduzir em 15% as emissões da cadeia da siderurgia até 2035”, afirma Gildiney Sales, diretor do Corredor Norte da Vale.


Mineração e conservação lado a lado

Parte significativa das operações da Vale em Carajás está localizada em uma das regiões mais biodiversas do planeta. O Mosaico de Carajás, no sudeste do Pará, reúne seis unidades de conservação, que somam mais de 800 mil hectares de floresta protegida. Criado na década de 1980, o mosaico hoje é referência em pesquisa científica, turismo ecológico e bioeconomia.

“Celebrar 40 anos da Vale na região é reconhecer que, no coração da Amazônia, mineração e conservação podem caminhar juntas — com ciência, tecnologia e, acima de tudo, com pessoas”, destaca Gildiney.

É o caso de Deusimar da Silva Santos, 62 anos, morador de Marabá, que atua desde os anos 1980 na guarda das florestas da região:

“Quando comecei, essas áreas ainda não eram unidades de conservação. Mas já lutávamos contra ações ilegais. Foram 40 anos de trabalho de formiguinha que valeram a pena”, comemora.


Produção sustentável com sabor amazônico

O compromisso da Vale com um modelo de mineração sustentável inclui a Meta Florestal: recuperar 100 mil hectares e proteger outros 400 mil até 2030. Um dos projetos mais promissores é liderado pela startup Belterra, com apoio do Fundo Vale. O plano é recuperar 20 mil hectares com sistemas agroflorestais produtivos — consorciando cacau, pimenta, açaí e outras culturas — gerando mais de 2 mil empregos e fortalecendo a bioeconomia regional.

“Nosso modelo alia recuperação ambiental à geração de renda, empregos e sequestro de carbono. É reflorestar com produção o ano todo”, explica Patricia Daros, diretora de Soluções para a Natureza da Vale.

Outras iniciativas, como as da Associação Filhas do Mel (Afma), a Diamante Negro da Amazônia (Dinam) e o Centro Mulheres de Barro, mostram como a preservação pode andar junto com o empreendedorismo.

“As abelhas são parte da minha família. Sem elas, não há florestas nem alimentos”, resume Rosemir Ferreira, da Afma.

“A Dinam hoje fortalece a agricultura familiar com produção sustentável de pimenta, cacau e açaí. Manter a floresta em pé é manter a vida”, afirma Thaynara Vasconcelos.


O homem por trás da descoberta

Hoje com 85 anos, Breno dos Santos é uma testemunha viva da transformação de Carajás. Ele viu a região se tornar um polo global de mineração — e, agora, de conservação.

“Tenho orgulho de ter sido parte dessa história. O potencial de Carajás segue enorme. Mas o desenvolvimento só será duradouro se for equilibrado: com o meio ambiente, com outras atividades econômicas e com o envolvimento da sociedade. Mineração sozinha é sempre temporária”, reflete.

Clayton Matos

Diretor de Redação

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.

Clayton Matos é jornalista formado na Universidade Federal do Pará no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo. Trabalha no DIÁRIO DO PARÁ desde 2000, iniciando como estagiário no caderno Bola, passando por outras editorias. Hoje é repórter, colunista de esportes, editor e diretor de redação.